Respirei fundo, tentando manter a calma.
_ Você está bem? _ Doutora Rose perguntou preocupada.
_ Preciso resolver uma coisa e tem que ser agora.
_ Tudo bem... Podemos deixar para outro dia...
Coloquei os sapatos e saí a deixando falando sozinha.
***
_ Ele está logo ali. _ a enfermeira apontou para um senhor, sentado à mesa, solitário perto da janela.
Eu me tremia por inteiro, mas nós precisávamos ter aquela conversa.
Me sentei em uma cadeira de frente para ele.
_ Pai?
Ele desviou o olhar da janela, olhou pra mim e sorriu.
_ Ravi... Você veio me visitar. Sua mãe me falou que uma hora ou outra você viria.
_ Ela ainda fala com você?
_ Todos os dias.
_ Como você está?
_ Agora estou feliz. Você é o único que não vem me visitar, até seu irmão aparece de vez em quando.
_ Você tem tomado seus remédios direito?
_ Todos os dias. Elas são pontuais, não esquecem um dia e nem perdem a hora. Elas são muito chatas.
_ Elas só estão fazendo o trabalho delas.
_ Quando você vai me tirar daqui?
_ Eu não tenho esse poder, pai.
_ Como não? Você é médico, não é?
_ Sim, mas não sou psiquiatra. Não posso te dar alta.
_ Por que me colocou aqui? Todo mundo foi contra! Inclusive sua mãe e seu irmão.
Eu ri.
_ Era necessário.
_ Você é ingrato demais!
_ Pai...
_ Fala logo o que você veio fazer aqui porque eu não quero ficar perdendo meu tempo com você!
Respirei fundo.
_ Naquele dia, que eu cheguei da casa da tia Jacira, o senhor tentou me impedir de subir, porque o senhor sabia o que estava acontecendo. Por que o senhor não queria que eu descobrisse? Por que encobriu eles?
_ Eles estavam apaixonados.
_ Como assim pai? Eu estava apaixonado por ela! Eu fazia planos com ela! Eu era o namorado dela!
_ Você estava terminando a residência, focado em terminar a sua pós, com vários planos, com um futuro promissor pela frente.
_ O meu futuro promissor era mais importante do que a minha felicidade?
_ Você não é feliz?
_ Feliz? Minha vida é um fiasco! Eu passei os últimos oito anos da minha vida me julgando, me culpando, me martirizando, me condenando! Felicidade não existe no meu dicionário.
_ Eu sinto muito por isso.
_ Sente pelos socos que me deu também? Sente por tudo o que o senhor fez comigo? Sente por ter desgraçado a minha vida ao invés de ficar ao meu lado e me apoiar? Um diploma de doutor na mão foi o suficiente para me garantir um futuro feliz pai!
_ Sinto muito meu filho.
_ Não sente nada! O senhor é um hipócrita!
_ Tudo o que eu fiz foi para o seu bem. Eu queria que você tivesse futuro, realizasse o seu sonho.
_ Mentindo pra mim! Encobrindo o caso da minha mulher com outro! Debaixo do mesmo teto que eu, na minha cara! Não dá para entender essa lógica!
_ Me perdoa meu filho.
_ Teríamos que voltar em pelo menos 10 vidas para eu conseguir perdoar o que o senhor fez.
Ele abaixou o olhar e eu me levantei.
_ Desde quando eles tinham um caso?
_ Eu não sei.
Coloquei minhas mãos sobre a mesa e me inclinei.
_ O senhor sabe sim! Me diz? Desde quando eles tinham um caso, porra! _ me exaltei e todos olharam para mim.
_ Eles se apaixonaram no dia em que se viram pela primeira vez.
_ Filho da puta! _ bati na mesa _ E vocês me enganaram durante todo aquele tempo por quê?
_ Eu já te disse os meus motivos.
_ E ele? Por que não tomou iniciativa de me contar que estava apaixonado pela minha namorada?
_ Porque eu não deixei.
_ E por que ela não terminou comigo?
_ Porque ela não prestava! Porque ela fazia a cabeça dele! Talvez ela gostasse de você também. Não sei os motivos dela!
Eu o segurei pela camisa fazendo ele levantar da cadeira.
_ O senhor desgraçou a minha vida! Eu te odeio.
Dois enfermeiros me puxaram para trás, um de cada lado.
_ Eu odeio o senhor com todas as minhas forças! _ gritei enquanto eles me tiravam dali.
***
Entrei em casa e subi as escadas correndo.
Abri a porta do meu quarto e olhei ao redor.
Estava tudo exatamente igual a oito anos atrás.
Meus pôsteres do Linkin Park presos na parede, meus livros de medicina sujos de poeiras na estante e minha bola de futebol jogada no canto do quarto.
Era impossível controlar as lágrimas que insistiam em escorrer pelo meu rosto.
Com calma, andei até a minha cama e me sentei.
Abri a gaveta do criado mudo e tirei de dentro uma caixinha.
Minhas mãos tremiam, mesmo assim eu consegui abrir.
As alianças que ali estavam não pareciam ter sofrido com o passar do tempo. Elas ainda brilhavam.
Passei alguns segundos olhando para elas e tentando digerir tudo o que tinha acontecido.
Comecei a questionar se eu estava fazendo o certo, deixando vir à tona todos esses sentimentos que eu me esforcei tanto para guardar dentro de mim.
Talvez minha vida tivesse sido um grande pesadelo e se eu acordasse agora, tudo estaria normal e eu voltaria a ser feliz ao lado dela.
Deitei em minha cama com a caixinha na minha mão e fechei os olhos.
Senti quando minha mãe se aproximou e se deitou ao meu lado me abraçando e eu aproveitei para me aninhar.
![](https://img.wattpad.com/cover/235531461-288-k444760.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dr. Ravi
RomanceApós um grande trauma, Dr. Ravi tenta desesperadamente manter seu passado para trás, até encontrar tudo o que buscava esquecer em um grande amor e então, sua cabeça dá um verdadeiro nó. ATENÇÃO: Contem Sexo, linguagens inapropriadas e muito entreten...