Capítulo 26

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Não, eu não tinha contado a todos do hospital o que tinha acontecido.

As pessoas que estavam do lado de fora do consultório da Dra. Daniela servindo de plateia, eram alguns faxineiros e pacientes que eu paguei para ficarem ali e olharem para ela a julgando.

Eu não mancharia o nome dela, eu apenas queria que ela saísse daquele hospital se sentindo humilhada.

Para o Dr. Ramon, disse que se ela pedisse demissão, era para aceitar sem argumentar, pois ela estava com alguns problemas pessoais e não queria tocar nesse assunto.

Então, quando Daniela chegou com a carta de demissão ao RH, ninguém perguntou a ela o motivo. Ela foi tão covarde, que nem teve coragem de ir até Dr. Ramon.

Foi prazeroso vê-la sair daquele hospital de cabeça baixa, sem olhar para absolutamente ninguém. Eu deveria ter feito um vídeo para guardar de recordação.

Doce vingança!

Coloquei uma música para tocar no computador e com muita felicidade, comecei a assinar a pilha de relatórios que insistia em existir na minha mesa.

_ Posso entrar? _ Maurício abriu a porta.

Levantei o olhar, o encarei e desliguei a música.

Lá vem ele.

_ Entra. _ abaixei o olhar.

_ Soube que Dra. Daniela pediu demissão. Então está mesmo seguindo com os planos de vocês? _ se sentou de frente para mim.

_ Não.

_ Vocês não vão mais embora?

_ Não.

_ Não vai me dizer o porquê?

_ Não.

_ Você é irritante, Ravi! _ se levantou, seguindo em direção a porta.

_ Maurício, vem aqui por favor.

Ele se virou, mas não voltou.

_ Você estava certo.

_ Sobre?

_ Tudo.

_ Tudo é muito relativo, Ravi.

_ Daniela só queria o meu lugar nesse hospital. Tudo o que ela fez até hoje foi tentar me passar a perna.

Ele arregalou os olhos.

_ Como eu sei que você não vai me contar o que houve, nem vou me dar ao trabalho de perguntar. Mas preciso te dizer que eu te avisei.

_ Vai começar?

_ Não. Na verdade, eu vim aqui pra te falar algumas coisas...

_ Senta aí.

Ele se sentou.

_ Eu queria te entregar isso. _ colocou um envelope em cima da minha mesa.

Eu peguei e abri.

_ O que é isso?

_ Um endereço.

Fiquei olhando para ele pensativo.

_ É dela mesmo.

_ Como conseguiu isso?

_ O que um amigo não faz pelo outro? Eu tenho os meus contatos.

_ Bastava um telefonema.

_ Você não vai ligar pra ela.

_ É, não vou.

_ Então, esse é o endereço dela. Essa era a minha última tentativa antes de você correr atrás da Daniela. Fico feliz que você não vai fazer essa loucura, mas ainda dá tempo de ir atrás da Sophia e dizer a ela que está apaixonado.

_ Eu não estou apaixonado.

_ Está bem. Dizer a ela que sente algo por ela.

Respirei fundo impaciente.

_ É isso?

_ Não.

_ Tem mais?

_ Eu queria te pedir desculpas.

_ Pelo o que?

_ Por ter te ofendido.

_ Foi merecido. Eu deveria ter te ouvido.

_ Não vai me pedir desculpas?

_ Não.

_ Por que não?

_ Porque você já desculpou.

_ Filho da puta!

_ Sempre! Acabou?

_ Melissa está grávida. _ falou com o maior sorriso que eu já tinha visto.

_ Sério? _ eu estava surpreso.

_ Sim. Está de quatro meses.

_ Isso tudo? Por que não contou antes?

_ Não queríamos criar expectativa igual da última vez.

_ Essa é uma excelente notícia, Maurício!

Me levantei e dei um abraço nele.

***

Aquele maldito vai e vem me deixava enjoado.

Parecia que estava tudo em câmera lenta e eu estava respirando fundo para manter o pânico dentro de mim.

Da última vez que eu estive ali, eu fui salvo na última hora, mas dessa vez eu não queria ser salvo, eu queria ir e foi uma decisão minha, somente minha.

Os sonhos que eu tinha toda noite com ela, não me deixava esquecer o quanto eu sentia falta dela e eu precisava vê-la, nem que fosse para colocar um ponto final nessa história, ou começar uma.

Decidi deixar tudo para trás, dessa vez, de verdade. Consegui fechar a venda da casa dos meus pais e a venda da casa do litoral só sairia depois do Natal e eu não queria esperar.

Olhei em volta mais uma vez e vi todos conversando animados. Alguns quiosques iluminados com pisca-pisca e todo aquele clima natalino.
No meu relógio marcava dezesseis horas, tempo o suficiente para chegar, alugar um carro e a levar para o jantar.

Corria algum risco? Com certeza, mas eu ia pagar pra ver, afinal dessa vez, eu estava deixando tudo para trás, inclusive o meu emprego.

Quando entreguei pela segunda vez a minha carta de demissão para o Dr. Ramon, ele riu e perguntou se era uma piada. Dessa vez não.

Eu não tinha garantias de que seria feliz e nem que ela iria me querer, mas eu já estava aqui. Foda-se! Se for pra quebrar a cara, vou quebrar de uma vez.

No alto falante do aeroporto, ouvi quando chamaram o meu voo e vi a fila se formar.

Respirei fundo e entrei nela, rezando para que não demorasse muito e eu não tivesse tempo de desistir.

Já disse que eu odeio avião?

Minhas mãos tremiam e o coração batia acelerado. Eu estava me sentindo um adolescente e até ri sozinho, pensando nessa hipótese.

Ah... Sophia! Espero que essa viagem valha a pena, pois estou superando todos os meus medos só para ficar ao seu lado.

Dr. RaviOnde histórias criam vida. Descubra agora