Capítulo 2

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O apartamento que Kakashi – e provavelmente Naruto e Sakura – havia lhe arrumado lembrava-lhe seu antigo, da época em que ainda não tinha deixado a vila. Era um lugar simples, na realidade: um quarto grande, com um futon e uma escrivaninha. Havia um banheiro adjacente e uma pequena cozinha. A única coisa que Sasuke estranhou, enquanto analisava tudo, era que estava precisamente limpo, e que os armários estavam abastecidos, quase como se alguém frequentemente cuidasse do local, preparando-o para sua chegada.

Sakura, então. Naruto era muito desleixado para isso, e Sasuke tinha certeza que o hokage era muito ocupado para se preocupar.

O pensamento de que a médica cedia parte de seu tempo para cuidar de um lugar que ela nem sabia se Sasuke utilizaria fez com que o rapaz sentisse algo estranho, algo diferente.

Ele ainda estava aprendendo a identificar e entender esses sentimentos tão confusos que o inundavam quase sempre que o assunto era Sakura.
Enquanto mexia nos móveis de sua casa temporária, Sasuke se deparou com um papel que o tirou de seus devaneios.
Uma carta de Sakura, ele sabia sem nem mesmo olhá-la.
Seu coração bateu em um ritmo mais rápido. Ele não estava preparado para isso. A julgar pela poeira acumulada no papel, ela não deveria estar ali a muito tempo – uma ou duas semanas, no máximo.

Cuidadosamente, Sasuke a abriu.

Querido Sasuke-kun,

Sei que ao encontrar essa carta, a primeira coisa que passará em sua mente é que eu devo ser algum tipo de idiota por escrever-lhe sem saber quando você vai ler. A princípio, eu também achei isso, então não me sentirei ofendida.

A verdade, Sasuke-kun, é que eu tenho pensado cada vez mais em você, se é que é possível. Nos últimos anos, me esforcei para me manter sempre ocupada, para que não sentisse tanta a sua falta. Eu trabalhei, iniciei projetos, treinei, aprimorei minhas habilidades e fui em missões. Tudo naturalmente ficou mais agitado desde que fui promovida após a guerra.

Ainda assim, não pude evitar pensar em você cada vez mais.

Estou esperançosa, torcendo para que isso seja algum tipo de presságio, que signifique que em breve você voltará. Você vai me achar irritante por isso, não é?

Sasuke-kun, no fim, escrevi essa carta para te dizer que eu continuo te esperando, mesmo depois de todos esses anos. Sei que você nunca perguntaria tal coisa, mas eu sempre te esperei e nunca deixarei de te esperar se for preciso.

Espero que saiba que da próxima vez você não irá se livrar de mim tão facilmente.

Com amor,

Sakura.

Ao ler a carta, Sasuke suspirou pesadamente. Ela realmente é irritante, mesmo depois de todos esses anos, pensou.
Antes de ir para o banho, ele cuidadosamente dobrou a carta e a guardou, enquanto uma única gota quente e salgada molhava o papel.

                                            -

Em frente ao hospital, escondido pelas sombras de uma árvore, Sasuke esperou.
Esperou enquanto a noite caía e esperou enquanto a lua estava alta no céu e aos poucos as pessoas da aldeia se recolhiam para as próprias casas.
Quando finalmente avistou a garota, sua boca repentinamente secou e ele percebeu que não fazia ideia do que falaria.
Patético.
Aproveitando que ela ainda estava longe, ele a observou. Estava mais alta do que a última vez, assim como ele. Seu cabelo, antes comprido e repicado, estava mais curto e caía liso e alinhado até o espaço entre seu queixo e seus ombros. Mesmo de longe, ele conseguia enxergar o símbolo de seu maior poder: o losangolo roxo da marca byakugou, o jutsu que havia sido dominado apenas pelas controladoras de chackra mais habilidosas.
Sasuke, apesar de nunca admitir, sempre a achou bonita, até mesmo linda. Mais que isso, ela era única, com seus cabelos de cor de flor de cerejeira e seus olhos esmeralda. E agora, com o aspecto mais maduro e com o símbolo de um jutsu tão poderoso marcado em sua pele, Sasuke não pode se impedir de achá-la ainda mais atraente.
Porém ele logicamente nunca tinha proferido nenhuma dessas palavras em voz alta.
Conforme Sakura se aproximava, Sasuke lentamente saía de seu esconderijo nas sombras. Quando ela finalmente o percebeu, sua reação foi imediata.
Seus olhos se arregalaram e ela pareceu prender a respiração por um instante.
– S-Sasuke… kun? - Ela chamou, enquanto se aproximava devagar com uma mão estendida e o encarava, como se a qualquer segundo ele pudesse desaparecer. Ele não poderia culpá-la por isso.
Ele também se aproximou, até que estivessem frente a frente. Agora, Sakura estava levemente corada, como se também não soubesse o que fazer.
Finalmente, o Uchiha suspirou, como se fosse liberto de um peso que nem sabia que carregava.
– Tadaima, Sakura. - Disse.
A garota sorriu, com os olhos um tanto quanto marejados.
– Okaeri, Sasuke-kun.

Sasuke Hiden - O shinobi das sombras rumo à luz crescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora