Capítulo 4

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Sentado sobre o monumento dos hokages, Sasuke esperou que a companheira falasse algo. Ela parecia muito alheia a ele, observando o pôr do sol sem nunca olhá-lo.
Sasuke percebeu que havia estado longe por tempo suficiente para perder a evolução de Sakura. Em algum momento, ela havia se tornado uma mulher responsável, uma referência. A melhor ninja médica e a kunoichi mais forte.
Uma pessoa que não tinha mais Sasuke como único objetivo, e que podia ficar sentada ao seu lado sem ter nele seu foco principal. Alguém que poderia tranquilamente ter uma vida plena sem ele mas que, talvez, ainda o escolhesse.
E

la o deixava nervoso. A concepção de que ele estava perseguindo algo que almejava tanto mas que não era uma certeza que alcançaria o deixava nervoso.
– Você já pensou como seria se nós não fôssemos ninjas, Sasuke-kun? - Ela o interrompeu de seus devaneios. - Se nós fôssemos apenas civis em uma vila qualquer?
– Não faz sentido pensar em coisas assim.
Frente a essa resposta, Sakura o ignorou completamente.
– Se as coisas fossem de outro jeito, talvez… talvez você nunca tivesse ido embora a princípio. Talvez nós nunca tivéssemos tentado machucar um ao outro. Talvez… talvez você nunca precisaria ir embora de novo e fosse tudo mais fácil. Talvez a essa altura eu já tivesse entendido…
Ah. Sasuke pensou. Então era disso que se tratava.
Sakura falou tudo isso com o olhar voltado ao horizonte. Os olhos estavam tristes, mas a sombra de um sorriso enfeitava seus lábios. Nenhum rubor, entretanto. O Uchiha, por outro lado, olhava para baixo. Estava envergonhado. Toda vez que ele pensava nas coisas que Sakura falou ele se sentia assim.
E também sentia uma dor no fundo de seu peito. Odiava saber que ela era quem mais sofria com sua ausência. Ele também não queria precisar ficar longe da vila, apesar de tudo.
Ele não queria precisar ficar longe dela.
Talvez ela devesse saber.
O Uchiha se sentia estranho. Apesar de sempre ser uma pessoa fria, seus sentimentos eram muito intensos e ele raramente se dava ao trabalho de interpretá-los – ao menos tinha sido assim até ali. Ele sentia que estava totalmente fora de sua zona de conforto e que, de repente, ele precisaria ser algo além de frio se quisesse cumprir seu objetivo.
Ao procurar palavras, ele lembrou da conversa que teve com Naruto.
Você passou muito tempo longe, sem contato. Você provavelmente nunca nem se desculpou direito com ela, ‘ttebayo!
Ele engoliu em seco.
– Sakura. - Ele chamou atenção dela, que o encarou. Olhando naqueles olhos cor de esmeralda, ele quase perdeu a coragem. Sakura não era como Naruto. Ela ouviria e interpretaria cada palavra, e não só a ideia geral. Ela refletiria e Sasuke sabia que, então, ela poderia ler cada entrelinha e ele se tornaria um livro aberto.
Ele decidiu falar não olhando para ela, e sim para frente. Para o céu que começava a escurecer.
– Eu… eu sinto muito. Por tudo. - Ele já havia dito aquilo. Precisaria ser melhor. Apesar disso, os olhos da Haruno se arregalaram levemente em surpresa. - Eu sinto muito por ter deixado a vila. Quando éramos genins. Sinto muito por ter te deixado sozinha, porque sei que o Naruto também partiu um tempo depois. Sinto muito por ter machucado vocês. De todas as formas.
Ele fez uma pausa. Apesar da sensação de timidez e exposição, ele se sentia surpreendentemente leve.
– S-Sasuke-kun… - Sakura murmurou seu nome. Agora, sua face estava corada e seus olhos iluminados. Ele esperava que ela não chorasse. Só havia mais uma coisa que Sasuke precisaria falar, então finalmente poderia se calar e ouvi-la.
Se você quer que ela te espere ou te aceite, ela precisa de algum tipo de confirmação.
– Eu… - A palma de sua mão ficou pegajosa e Sasuke discretamente a limpou em sua capa. Ele não sabia o que falar. Elaborar um pedido de desculpas era fácil, ele sabia tudo que havia feito de errado e realmente se arrependia. Mas expressar seus sentimentos parecia uma tarefa para a qual ele não possuía nenhum tipo de aptidão. Ele conseguiria facilmente contar nos dedos de sua única mão as vezes em que seu orgulho ficou tão ferido.
Antes que pudesse prosseguir, ele sentiu o toque de Sakura em seu braço. Quando virou-se para ela, seus olhos esmeralda transmitiam afeto e calor suficientes para fazê-lo corar.
– Está tudo bem, Sasuke-kun. Eu te… entendi.
Sakura era inteligente demais para seu próprio bem. E o de Sasuke. Claro que em poucos segundos ela o entenderia.
Sasuke soltou o ar que estava preso e então sorriu. Esse seria seu agradecimento silencioso.
Passaram um momento em um silêncio agradável. Quando a olhou pelo canto dos olhos, ela estava mordendo os lábios e olhando para baixo numa expressão engraçada. Como se estivesse esperando ou juntando coragem para algo. Respirando fundo, ela se levantou em um único impulso e estendeu a mão para que o Uchiha também o fizesse.
– Me encontre amanhã a tarde em frente ao hospital, Sasuke-kun. Eu… quero te mostrar algo.
Antes que ele pudesse responder, Sakura foi embora, deixando-o confuso e envergonhado, ainda que ele tivesse recobrado sua expressão de neutralidade.
No fim, Sasuke se permitiu esboçar o menor dos sorrisos.
Não havia sido tão ruim.

Sasuke Hiden - O shinobi das sombras rumo à luz crescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora