Capítulo 8

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Sasuke observava a árvore de cerejeira, inutilmente desejando ver suas flores que já deveriam ter desabrochado. Aquele lugar o trazia uma mistura de sentimentos que iam do mais profundo amargor à mais serena doçura. Ali, ele tinha abandonado tudo que prezava e destruído parte de seu futuro em sua busca por poder. E ali, Sakura havia declarado seu amor por ele pela primeira vez.

Sasuke suspirou.

Ele sabia que Sakura estava a sua procura, ele só não sabia se estava preparado para ouvi-la equivocadamente se desculpar.

Ele tinha ciência de que merecia cada lampejo de desconfiança de Sakura, de que tudo que fez quando desertou a vila era suficiente para uma vida inteira de desprezo. A concepção doía, mas ele não permitiria que ela se martirizasse por isso. Ele precisava ser justo com ela. Isso não o faria merecer seu amor, mas o tornaria uma pessoa melhor. Ou algo próximo a isso.

-

Encontrar Sasuke demandou um pouco de tempo e um pouco de chackra. Quando Sakura enfim o localizou, ele estava parado em frente a um banco de madeira na extremidade da vila, encarando a cerejeira que estava próxima de florescer.

Lentamente, Sakura se aproximou. Mas antes que pudesse chamá-lo, ele logicamente a percebeu.

– É curioso o fato de que depois de tudo pelo que a vila passou esse banco tenha sobrevivido. - Ele disse amargamente, sem se virar.

Por um segundo, Sakura ficou confusa, então percebeu do que se tratava. Aquele lugar, aquele banco, era o local onde ele havia a agradecido e a abandonado antes de desertar a vila.

Seu coração pareceu afundar quando ela pensou no quanto Sasuke provavelmente estava se culpando naquele momento. Ela tocou levemente seu braço, para que ele se virasse.

– Sasuke-kun...

– Sakura, não. - Ele a interrompeu, virando-se apenas parcialmente. - Não quero te ouvir pedir desculpas pelos meus pecados.

– Eu não...

– Eu não deveria ter saído daquela forma. - Sasuke murmurou, desviando seus olhos de Sakura. Apesar de se esforçar, seu orgulho ainda era uma barreira naquele tipo de diálogo.

Para a sua surpresa, entretanto, ela riu. Uma gargalhada serena e adorável, que poderia tê-lo encantado em algum outro momento mas que naquele contexto, só piorou seu humor. Ela o puxou pelo braço para que ele a encarasse.

– Você continua o mesmo cabeça dura teimoso de sempre, não é, Sasuke kun? - Ela o olhou de uma maneira tão carinhosa que as sobrancelhas de Sasuke se franziram em confusão, fazendo Sakura suspirar. - Você entendeu tudo errado. Eu não desconfio de você, Sasuke-kun. Eu só queria que você confiasse em mim para me contar os detalhes da sua missão.

Ele piscou, mas todo o amargor de repente desapareceu, sendo substituído por alívio.

– Hn. - Ele falou, sorrindo torto. - E você continua irritante como sempre.

Depois disso, o semblante de Sasuke voltou a ser sério.

– Sakura. O mensageiro que eu mencionei é de um lugar do qual as cinco nações não possuem conhecimento. Quando eu o visitei, jurei que manteria segredo, por isso eu não posso te falar nada ainda. - Ele esclareceu.

– Ainda?

Sasuke sorriu. Ela era inteligente demais para deixar esse detalhe passar.

– Eu... - Ele começou. Odiava seu nervosismo quando precisava tratar de qualquer coisa sugestiva com Sakura. Por ter sido privado de sua família muito cedo, ele pouco sabia a respeito de afetividade, mas decidiu que não deixaria aquilo o atrapalhar. - Se você não tivesse sido tão impaciente, eu esclareceria tudo depois que te dissesse que quero que você me acompanhe.

Sasuke falou isso e a olhou ansiosamente. Sakura, entretanto, o encarava estupefata, com olhos arregalados e a boca formando um "o", não dando nenhum sinal de que esboçaria alguma outra reação.

Assim, passaram-se vários segundos. Sasuke estava extremamente desconfortável em expectativa, e começava a ficar inseguro. Se perguntava se ela estava estática pois não sabia como negar seu pedido. Se agora, que ele efetivamente a havia convidado, ela perceberia que não queria aquilo pra sua vida.

Um turbilhão de possibilidades inundou seus pensamentos, mas ele apenas permaneceu impassível. Se Sakura o rejeitasse, ele não insistiria.

Um instante após, a Haruno pareceu sair do transe. Tudo que ela pôde externalizar, contudo, foi um sussurro.

– Eh?

Sasuke fez uma careta. Não podia dizer que de fato compreendia como ela poderia estar tão surpresa em relação a algo que ela supostamente desejava que acontecesse. A não ser que ela não quisesse.

Dando um suspiro impaciente, Sasuke decidiu que não fazia sentido toda essa tortura psicológica. De maneira prática, tudo que ele precisava era deixar todas as implicâncias daquilo claras para Sakura. Então, ela lhe daria uma resposta.

– Esteja claro que você teria um alvo nas costas pro resto da sua vida. Você será minha companheira e eu te protegerei com minha vida, mas isso talvez não evite que você se machuque. Você também teria que fazer os preparos com urgência, tendo em mente que ficaria fora por um tempo indeterminado, sem poder se comunicar.

Ele sentiu seu rosto se fechar numa carranca. As palavras deixaram um gosto amargo em sua boca, pois ele sabia que cada uma delas era a prova de que seu processo de redenção não mudava o fato dele ser uma pessoa egoísta por natureza.

Então ele congelou ao sentir os braços de Sakura se fecharem com força em torno de seu pescoço e seu rosto se afundar em seu ombro. Apesar de Sakura na infância ter sido muito desinibida em relação a toques, isso era algo que mudou com seu amadurecimento, o que Sasuke não tinha certeza se ocorreu devido aos anos que passaram longe um do outro ou ao fato dele nunca ter explicitamente retribuído. Provavelmente ambos.

– Você não precisa mais me proteger, Sasuke-kun. - Ela começou. Sasuke ainda estava muito petrificado para retribuir o abraço. - E quanto a me machucar, tenho certeza que posso lidar com isso...

Sasuke não queria estragar o momento, mas precisou interrompê-la.

– Sakura... Você está me sufocando.

Ela se afastou rapidamente, apenas o suficiente para Sasuke voltar a respirar e eles se olharem. Antes que a proximidade pudesse afetá-lo, ele percebeu os olhos úmidos de Sakura.

– Por que está chorando? - Ele não imaginava que as lágrimas pudessem ser um bom sinal.

– Eu estou feliz, Sasuke-kun. Isso deve ser suficiente para esclarecer a minha decisão.

Sasuke engoliu em seco. Estava feito, então. Mais tarde ele poderia refletir a respeito de como se sentia quanto a isso. Agora, ele estendeu o braço para limpar a única lágrima que escorria pelo rosto de Sakura, sentindo seus dedos estalarem com eletricidade a cada toque, como se sua natureza de chackra se agitasse só por tê-la perto.

A face da garota corou quando a mão de Sasuke permaneceu sobre sua bochecha, forçando-a a olhá-lo. Seu coração batia descontroladamente.

Ela o encarou, sabendo que todos seus sentimentos estariam claros em seus olhos, mas não se importou. Tampouco foi uma surpresa quando encontrou os olhos de Sasuke, um ônix e um lavanda, esboçando uma vulnerabilidade e uma adoração que Sakura sabia que ninguém jamais havia visto.

Não foi possível determinar quem tomou a iniciativa: no fim, ambos haviam se aproximado, lentamente, deixando a intenção clara no olhar. Apenas no instante imediatamente anterior ao encontro de seus lábios, seus olhos se fecharam e eles finalmente expressaram algo que estava subentendido a anos.

Eles não saberiam, mas a sua frente a primeira flor de cerejeira desabrochava, como se tivesse esperado por eles para florescer.

Sasuke Hiden - O shinobi das sombras rumo à luz crescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora