Capítulo 23

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A inconsciência advinda de uma real experiência de quase morte era natural e tranquila. Nela havia uma paz que Sasuke não reconhecia na vida real.

Era quase como se ele não existisse.

Não havia dor, não havia angústia e não havia culpa. Tinha apenas o silêncio e a calmaria de sua mente vagando para um lugar cada vez mais distante.

Apesar disso, fazia-se presente um leve incomodo, o qual ele não sabia exatamente de onde vinha. Parte de si queria ignorá-lo e permanecer em seu estado letárgico, mas ele insistia em se apegar a isso como se fosse algo que conectava seu ser a algo maior, a algo importante.

A algo bom.

Apenas quando se forçou a ir contra seus instintos de permanecer sereno, ele sentiu uma dor latente. Contudo, mesmo que sua mente ainda não estivesse completamente sã e que os seus olhos ainda não obedecessem seu comando para abrirem-se, ele jurava que sentia algo aquecendo seu âmago enquanto o presenteava com uma sutil fragrância floral, acalmando-o e atenuando seu desconforto.

Para ele, aquilo assemelhava-se à luz do sol na primavera.

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Sakura respirou fundo, concentrada em sua luta de tentar não entrar em desespero.

Nos últimos minutos, ela tentou parar a hemorragia de Sasuke, que havia tido o peito atravessado por um tipo bizarro de Zetsu branco. Apesar de suas habilidades como uma talentosa ninja médica, a tarefa mostrou-se desafiadora.

O Zetsu, que podia usar o mokuton, havia convertido o próprio braço em uma espécie pontiaguda de galho, perfurando sem dificuldades o peito do Uchiha. Até aí Sakura não teria nenhum problema para curar a ferida, se não fossem pelos espigões que haviam rasgado brutalmente a carne em alguns pontos. Isso fez com que o procedimento médico se tornasse mais complexo, uma vez que, além de curar os tecidos destroçados, ela precisaria se certificar que não haviam resquícios de espinhos antes de fechar a ferida.

Para piorar a situação, ela estava sem tempo. Seus cálculos diziam que faltavam apenas alguns minutos para o nascer do Sol, que era o prazo máximo que tinham para se reunir com Tanara.

A cabeça de Sakura analisava rapidamente as possibilidades. Como médica, ela sabia que Sasuke não aguentaria ser transportado sem tratamento por muito tempo, e sequer era uma opção colocá-lo sobre qualquer risco. Entretanto, era também era uma ninja, uma Jounin de Konoha. Mais que qualquer um, ela sabia as consequências de não seguir os prazos das missões, especialmente uma secreta como era o caso. 

Todos esses anos esperando por Sasuke-kun... Eu não vou perdê-lo. Não vou deixar que qualquer coisa aconteça com ele.

Rezando aos deuses para que fosse capaz de concluir com êxito a façanha a qual que propôs, Sakura cuidadosamente ergueu Sasuke, apoiando-o sobre suas costas. Como a diferença de altura entre eles era de vários centímetros e ele estava desacordado, seus pés se arrastavam pelo chão, mas teria que servir. Tendo previamente retirado os resquícios de madeira da ferida e a limpado com seu kit médico, Sakura experimentou enviar chackra curativo a partir de suas costas para o local.

Obviamente, ela já havia feito algo semelhante antes, mas sempre visando curar a si mesma, nunca outros. Lembrava-se da luta contra Sasori, quando foi empalada por uma espada e curou-se enviando chackra para a barriga. Apesar de o princípio ser o mesmo, era muito diferente curar uma ferida que não estava no próprio corpo. Tratar a ferida de Sasuke por esse método exigia o dobro de atenção e cuidado, e fazê-lo enquanto carregava-o para fora da maldita caverna era um desafio indescritível.

Sasuke Hiden - O shinobi das sombras rumo à luz crescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora