zodíaco, auto-ajuda e gays

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Estiquei minhas pernas e deitei no banco de pedra no pátio da escola, que aos poucos começava a ficar cheio conforme os alunos iam chegando para, enfim, o último dia de aula antes das férias de julho.

As férias eram uma data sagrada no calendário de todo estudante, seja ele do fundamental ou ensino médio, e que todos esperavam ansiosamente desde o começo do ano letivo. Sempre achei isso engraçado. Mal se começa o primeiro dia de aula e a maioria já fica contando os segundos para as próximas férias. Não posso julgar, até porque sou exatamente esse tipo de pessoa.

O sol ameno batia em meu rosto, me fazendo estreitar os olhos e cobrí-los com uma das mãos, com minha mochila surrada me servindo como um travesseiro improvisado. Se não fosse pela lata de energético que eu havia tomado durante o trajeto, com certeza estaria dormindo agora, jogado no banco no meio do colégio, após uma noite inteira acordado jogando Detroit: Become Human no videogame.

Nem havia me dado o trabalho de me arrumar, ainda usando a mesma roupa do dia anterior, que se resumia a uma calça jeans, tênis All Star com os cadarços sujos e uma camiseta cinza com uma mancha marrom (que deveria ser de algum refrigerante que deveria ter derrubado nela).

E sim, caso esteja se perguntando, eu havia me lembrado de passar desodorante.

De repente senti algo duro ser jogado sobre minhas pernas, e de imediato pensei que fosse um saco de tijolos de tão pesado que era. Mas, ao me endireitar no banco e observar o que tinha sido, constatei que era a mochila de Man, repleta de seus infinitos livros de auto-ajuda que ele descobriu que adorava colecionar. Ele simplesmente enchia a mochila com o máximo de livros humanamente possível e levava para todo lugar, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Empurrei aquela meia tonelada de livros para longe das minhas pernas e me sentei no banco, dando espaço para que ele se sentasse ao meu lado. Man sorriu, com aquele mesmo jeito entusiasmado de sempre. Ele era, oficialmente, o cara mais feliz que eu conhecia em toda aquela escola.

- cadê o Boss? Pensei que ele viria junto com você - perguntei, penteando meu cabelo com os dedos, tentando o fazer parecer menos bagunçado.

- ele disse que viria daqui à pouco - Man disse, pegando o celular no bolso da jaqueta jeans e rapidamente digitando uma mensagem para alguém, provavelmente para Boss, avisando para não chegar atrasado hoje.

- você já falou com seus pais? Sobre a viagem e tudo mais?- comentei, observando o pátio, que agora estava praticamente com quase o dobro de pessoas em comparação a uns minutos atrás.

- sim, fiz isso ontem, durante o jantar - ele respondeu tranquilamente, sem me encarar, prestando atenção nas redes sociais.

- e como foi?- insisti em querer saber.

- ah, foi bom, na verdade foi melhor do que eu esperava. Eles concordaram e deixar eu ir, desde que eu os ligasse todas as noites para avisar que estou bem - Man deu risada, como fazia toda vez que falava dos pais "super protetores" - mas no fundo acho que eles finalmente caíram na real de que não sou mais criança e consigo cuidar muito bem de mim mesmo.

- se você soubesse mesmo cuidar de si, eu e o Boss não teríamos que ter te levado correndo para o hospital depois de passar mal bebendo de estômago vazio!- retruquei, lhe dando um olhar severo, mas soltando uma risada no final.

- em minha defesa, digo que eu não sabia que aquela maldita vodka de arco-íris tinha tanto açúcar!- ele quase berrou, bastante indignado.

Revirei os olhos, impressionado com a capacidade de burrice que o cérebro de Man conseguia ter as vezes. Porém antes que eu pudesse continuar com a lista de coisas idiotas que ele já tinha feito, Boss finalmente chegou, e contive a vontade de revirar os olhos mais uma vez ao ver que ele estava usando uma camiseta estúpida com a estampa do zodíaco.

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