Observei a radiografia.Uma rachadura era bem visível no meu antebraço esquerdo (nunca me lembrei dos nomes de cada um dos ossos). E a dor estava até que suportável depois de ter tomado analgésicos, passando para um leve incômodo na região machucada. Mas acho que não existe nenhum remédio para curar meu orgulho ferido.
Man me acompanhava na enfermaria do hospital, enquanto uma enfermeira terminava de colocar meu gesso. Boss havia ficado na sala de espera, sem querer vir junto, já que era extremamente sensível e com certeza ia desmaiar ao ver o estado do meu braço. Ele é o ser-humano mais fresco do mundo.
Entreguei a radiografia para Man, que guardou-a em um grande envelope de papel pardo, me encarando com um olhar de pena. Suspirei, fitando as paredes brancas da enfermaria, com armários de metal fixados numa delas, ao lado da maca onde eu estava sentado, esperando que aquilo terminasse logo. Detesto hospitais, talvez por causa do meu medo de agulhas, nunca consigo passar muito tempo dentro de um.
E tinha também aquele cheiro. Uma mistura de cloro e desinfetante barato, que formavam o típico cheiro de hospital. Os pisos bege claro, o barulho das senhas sendo chamadas no painel e a terrível sala de triagem eram tão apavorantes que faziam Mil e os amigos dele parecerem piada.
- prontinho, acabou - a voz gentil da enfermeira me trouxe de volta para a realidade, e notei que ela já tinha terminado o serviço.
Ela repassou os cuidados que eu precisava tomar com o gesso nas próximas semanas (evitar molhar e não mexer muito nele, por exemplo) e a lista de alguns remédios que poderia tomar caso voltasse a sentir dor. E então finalmente estávamos liberados para ir embora. Ainda bem!
Boss estava sentado em uma das poltronas da sala de espera, jogando algum jogo ruim no celular, sem prestar muita atenção no que acontecia em sua volta. Man precisou o chamar três vezes, quase precisando gritar, até que ele se desse conta de que estávamos lá e que já era hora de ir para casa. Man chamou um Uber no aplicativo, e ficamos do lado de fora do hospital esperando, e não fiz muita questão de tentar puxar assunto.
- e o Mil? Soube o que aconteceu com ele?- Man perguntou, e percebi que eu também estava bastante curioso para saber.
- levou uma bela e merecida advertência da diretoria, e os pais dele tiveram que prestar contas com a coordenação - Boss respondeu orgulhoso.
- só isso?- me intrometi.
- isso o quê?- ele me encarou.
- só isso? Uma advertência?- bradei e apontei para o gesso no meu braço, ficando completamente indignado - ele quebrou meu braço de propósito e a diretoria não fez nada?!
- ei, calma, não me vem querer dar chilique e me fazer passar vergonha no meio da rua, Wat!- Man me olhou fixamente, colocando as mãos em meus ombros - vamos conversar sobre isso lá em casa, ok?
- e vamos logo, estou morrendo de fome!- Boss sorriu meio sem-graça, acenando para o motorista do Uber, que tinha acabado de chegar.
Nós três nos esprememos no banco de trás, o que, combinado com o calor que estava fazendo naquele dia, não foi nada bom! O incômodo do gesso, a barulheira dos meus amigos tagarelando e o suor deixava tudo centenas de vezes pior. Mas a raiva que eu sentia não se dava para comparar.
Mil havia se livrado quase que impune disso tudo, e eu, bem, teria que ficar em casa durante as férias (ou seja, os meus planos para a viagem tinha virado fumaça!). Ele sempre saía bem fácil de qualquer encrenca. Imaginar uma escola que era omissa quando um de seus alunos tinha a vida feita um inferno por um bando de garotos preconceituosos parece ser quase impossível. Porém era bem real para mim.
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Te Vejo Amanhã?
RomanceAs férias de julho eram carregadas de expectativa e planos, e desde o começo do ano letivo, Sarawat contava cada segundo para poder se ver livre dos professores, das aulas chatas e, principalmente, bem longe das piadas maldosas dos colegas de classe...