Marcas Do Passado

Capítulo.5🌹

Marcas do Passado

Elisângela Narrando

       A noite de sábado pra domingo não foi nada fácil. Em momento algum parei de pensar nas crianças daquele lar, ainda mais por saber que a qualquer momento aquelas vidas podem desaparecer. São apenas crianças que têm muito o que viver. Além disso, sinto peso na consciência por ter deixado as mãos daquele homem estendida por tanto tempo, seria mais fácil  se eu as visse antes.

      Recebo uma mensagem da Paulina dizendo que está a chegar em minha casa. Ela é uma das raras pessoas que apesar do meu gênio forte e o meu desinteresse em conhecer outras pessoas se prendeu a mim mesmo eu sendo diversas vezes dura com ela.  Lembro-me do dia em que finalmente cansei de expulsá-la da minha vida, em meio a uma discussão ela gritou pra mim que seria minha amiga gostasse eu ou não. Fiquei preocupada, mil estórias já tinham surgido na minha mente,ali eu decidi não revidar e como prometido ela não desistiu e hoje somos grandes amigas.

__Pensei que me receberias na porta.-Ela diz assim que entra no quarto.

__Boa tarde pra ti também e a porta agradece por lhe teres batido.-Reviro os olhos.

__Ah, não me complica,como estás?-Sentou na cadeira que tem no quarto.

__Estou bem, muito bem por sinal e você?-A encaro com um sorriso sem mostrar os dentes.

__Estou bem.-Suspirou... Tem comida? É que sai sem comer nada.

__Você é muito à vontade,vamos tem muita comida e eu também estou faminta.-Deixo o bloco de anotações de lado e entrelaço nossos braços.... Já viste a minha mãe?

__Foi ela que me recebeu,ela não é como certas pessoas.

__Você não tem medo né? Olha que estás na minha casa.-Puxo uma cadeira pra ela se sentar.

__Eu não sinto medo de nada,esqueceu?-Ela pisca.... Que cheiro delicioso Eli!!!

__Arroz com feijão. Eu sirvo ou vais se servir?

__Pode servir,mas serve bem.-Rimos.

      Servi a comida em dois pratos e coloquei na mesa juntamente com a jarra de  água. Ficamos à comer e conversar de forma descontraída. Paulina geralmente fala muito e hoje de repente se calou e parece pensativa. Eu aprendi a não questionar as pessoas por que não gosto que façam isso comigo,mesmo sabendo que às vezes é importante, minha ansiedade ganha e me vejo a perguntar.

__Ei, Paulina, tudo bem?-Digo a olhando.

__Ãnh,? Sim estou.-Acrescentou mais comida no seu prato e toda sua atenção é depositada lá.

__Eu continuo a pensar que tem algo te incomodando, pode falar comigo.-Deixo de comer.

__Você tem razão, tem algo me incomodando mas... Não é sobre a minha vida.

__Não? E sobre o que é?

__Acredite, eu sei que não devo me meter no que não sou chamada,mas, mas não posso deixar de me preocupar.

__Agora você me deixou mais preocupada.-Dou um gole na água sem desviar o olhar.

__Nós somos amigas certo?-Fiz que sim... E nossa amizade não é da agora, tem 4 anos.

__Eu sei disso,o que tem,já não queres ser minha amiga?

__Não é isso. Eu sei o quanto você passou nesses tempos e eu acho que está na hora de você acordar pra vida, de se dar uma oportunidade de conhecer alguém, de sair respirar novos ares, você não pode viver trancada o tempo todo.