Uma visita inesperada

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"Louis me visitou ontem", falei para Martha, outra paciente do hospital, enquanto bebia meu chá da tarde no jardim da frente. Depois de um tempo preso e vivendo quase sem contato com outras pessoas, apenas enfermeiros ou pessoas nas reuniões, fui lberado para outras atividades. Agora eu poderia escrever e desenhar muito melhor, já que não estava 100% do tempo dentro de um quarto branco com o desenho de dois olhos gigantes e profundos na parede. 

"Achei que não eram permitidas visitas...", ela retrucou, e eu apenas concordei. Digo, deve ser muito triste não receber visitas porque ninguém se importa, deve ser realmente horrível. Mas ao contrário disso, nos últimos dias eu estive radiante e isso me ajudou muito nas avaliações. Eu nunca soube o motivo de ser avaliado com tanta frequencia. Era perguntado sobre Louis, sobre meus pais, sobre meus sonhos... E no final de tudo Melody, minha psiquiatra, sempre me dava um sorriso largo seguido de um "Está tudo ótimo, querido, você está indo muito bem!". Isso me deixava feliz. Louis disse que eu poderia sair quando quisesse, quando merecesse, e eu sinto cada vez mais que esse momento está chegando. 

Martha deve ser minha melhor amiga por aqui, era com quem eu mais converso sobre todas as coisas da vida. Ela é uma doce senhora com seus setenta e poucos anos, eu não sei exatamente pois sempre me foi dito que era falta de educação perguntar a idade de uma dama. Ela tem três filhos de quem nunca cansa de falar e contar histórias. Eu adoro. Ela chegou aqui porque entrou em depressão depois que o marido faleceu. Eles nunca saíam de casa separados, nunca faziam nadas separados, tinham medo de morrer sozinhos. Para alguns isso pode parecer loucura, mas eu também sinto medo de morrer sozinho. Um dia ela dormiu até mais tarde, e quando acordou ele estava caído na cozinha. Infarto fulminante. Ela nunca se perdoou por ter deixado que ele partisse sozinho. Ela tentou se matar várias vezes e passou por toda as casas dos filhos até que desistiram de tentar e a trouxeram para cá. A vida é injusta muitas vezes, principalmente com gente boa. Eu não sei o que faria se perdesse Louis. 

- Quer contar sobre a visita? Ache que estaria mais alegre por ver o tão famoso Louis. - Ela disse sorrindo enquanto me entregava um biscoito delicioso que ela mesma fez.

Eu estava feliz, estava muto feliz. Só não queria ninguém triste por minha causa. 

- Vamos lá, Harry, não me desaponte! Eu sei o quanto ama esse garoto e sei o motivo de não me falar nada, acha que vou ficar triste por não receber visitas? Não seja tão bobo! 

Eu atendi ao seu pedido, contei tudo. 

Estava dormindo, na verdade no meio de um pesadelo, quando ouvi sua voz chamando meu nome. Pensei por um segundo que ainda se tratava de um sonho, mas não era. Abri os olhos com medo do que poderia ver, ou do que não poderia ver, mas fui surpreendido com a mais bela visão que já tive até hoje: Louis parado na frente da minha cama, e atrás dele o desenho gigante que fiz de seus olhos. Fiquei em silencio por uns segundos comparando seus olhos de verdade com os que desenhei. Posso dizer que fiz um bom trabalho, foi realmente bem realista, mas não chega aos pés do original. Abri um sorriso quando ele virou para olhar o desenho também e depois voltou a olhar para mim e tentou imitar o olhar sexy que desenhei. 

Ele caminhou até a cama fez sinal com a mão para que eu afastasse. Deitou ao meu lado, olhando para o teto, e depois virou e me abraçou ainda em silêncio. Eu virei para ele e fui solto. Ele sorriu. Meu coração parou. Ele me beijou, foi como voltar a respirar depois de muito tempo submerso.

Ele sussurou: "Desculpa não ter vindo antes."

Eu respondi: "Eu te amo."

Não há nada que eu pudesse dizer a não ser isso. Eu o amo. Sempre amei. Não quis saber por onde esteve, o que aconteceu, o que eu fiz de errado, não quis saber de nada. Não quis saber. Louis estava ali, comigo, depois do que me parecia uma eternidade. Não há nada que eu quisesse mais do que ele comigo, e eu tinha. 

- Você me salvou de um pesadelo horrível, Lou. 

- Eu sempre vou te salvar, Harry. Nasci para isso. Estou aqui para isso.

Ele parece um sonho. 

- E então? - Martha perguntou com uma sobrancelha levantada.

- Eu acho que esqueci o resto, Martha... Digo, os medicamentos e tudo, não tenho certeza mas acho que ainda estão me afetando muito. - Eu baixei o tom da voz, isso realmente andava me deixando chateado. 

- Eu te entendo, querido, mas veja bem, você não pode se deixar abater por essas coisas. Você é jovem, não é como eu, tem muito para viver e aproveitar. Tem um amor, tem uma família. E aqui tem uma amiga, que espera não te ver por muito tempo e que incrívelmente é uma coisa boa. Você está indo bem, querido. - Juntou suas coisas que levou para o chá e me deu um tapinha no ombro antes de sair.

"Talvez ela tenha razão", pensei alto. 

Nota: Então... Quase ninguém lê mas eu estou continuando por causa de dois amores lindos que me dão a maior força. Obrigada, pessoal (@louistlovely e @xmoriarty). Ah, eu nem ia postar nada hoje, mas comecei a escrever e minha internet está ruim, tive medo de perder o rascunho e preguiça de salvar em outro lugar. </3

The Lost BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora