Depois de alguns encontros que deram certo e outros que não deram nada certo, decidimos que era a hora de Louis conhecer meus pais. Por que não, certo? Eles já sabiam, apoiavam, não havia segredos entre nós. Combinamos tudo semanas antes, planejamos cada segundo, cada coisa que aconteceria: não funcionou. Louis pode ser um amor quando tenta conquistar alguém e algumas vezes quando não quer também, mas pelo menos 50% do tempo ele é um bruto. Eu queria que minha família não conhecesse esse lado dele, mas descobri uma coisa naquele dia: eles já conheciam.
Achamos que seria melhor se ele chegasse em casa sozinho e não que eu o trouxesse. Ele bateu na porta, eu corri para atender. Dei um beijinho rápido e um abraço meio estranho, mas foi muito mais por causa dele. Louis estava uma pilha de nervos, mal podia falar sem gaguejar. Suava feito um porco. Puxava a pele em volta das unhas. Mordia a pele dos lábios. Ainda continuava extremamente atraente. Tudo isso nos cinco minutos em que minha mãe demorou para descer, por ainda estar terminando de se arrumar.
Ela veio sorrindo para mim da escada e ele levantou rápido, assustado. Sua feição alegre logo deu lugar a um olhar sério, o que me assustou. Eu segurei a mão de Louis e dei um sorriso amarelo, tive medo do que poderia acontecer daqui para frente: eu realmente não tinha ideia. Olhei para ele e pensei estar ao lado de uma pedra de gelo, de tão branco e gelado que estava. Minha mãe parou em nossa frente e estendeu a mão para um aperto. Muito formal. Ele engoliu em seco e decidiu arriscar algo mais íntimo, deu dois beijos no rosto dela. "Ele nunca fez isso, será que procurou na internet "modos legais de cumprimentar a mãe do seu namorado que parece querer te matar"?", pensei, - Depois descobri que sim, ele pesquisou exatamente isso.
Depois disso minha mãe passou para a cozinha e ele respirou fundo, aliviado. 50% do terror tinha passado, já que meu pai ainda não havia chegado do trabalho. Errou feio: o terror de verdade ainda estava para começar. Os próximos cinquenta minutos foram de muitos apertos na minha mão que tentava fazer com que ele se acalmasse, conversas sobre estudos, empregos e outras coisas que na verdade ninguém se importa. Depois disso decidimos esquecer meu pai e jantar, ele já estava muito atrasado e eu já havia recebido dez mensagens de Louis que basicamente dizia: "Harry, eu odeio chegar cedo". Ele não chegou cedo, foi bem pontual. E sim, ele me enviou mensagens enquanto estava ao meu lado. Não poderia dizer isso em voz alta, certo?
No meio do jantar mais estranho meu pai chegou, todo suado por correr até em casa, com uma garrafa de vinho na mão e a mala do trabalho na outra. Colocou o vinho no chão e a mala na mesa. Riu sozinho. Ajeitou o que tinha errado. Deu olá para Louis e tudo parecia bem. As conversas pareceram fluir bem melhor depois do meu pai, depois do vinho. Estava dando tudo certo, foi o que eu pensei. Eu sempre penso errado.
- Querido, você não lembra desse rapaz, lembra? - Minha mãe disse enquanto tirava a taça da mão de meu pai, que já estava na terceira dose.
- Eu deveria? Acabamos de conhecer Louis. - Ele disse rindo e pegando a taça de volta.
- Querido... O mercado...
- O que? Ele estava lá?
- Era ele.
Olhei para Louis e pude ver escrito em sua testa que ele queria sumir dali, queria enterrar a cabeça em algum buraco ou sei lá. Eu não entendi, então decidi perguntar o que aconteceu: deveria ter ficado calado, isso me pouparia duas horas de falatório.
Eu preciso explicar: minha mãe por um bom tempo teve um mercado, coisa pequena mesmo, apenas pessoas do bairro costumava ir. Era uma ajuda para a família, já que meu pai achava que mulher não deveria trabalhar para sustentar a casa, mas pelo menos a deixou ajudar. Eu ajudei por muito tempo, mas por causa dos estudos precisei parar. Enfim, como eu disse, em maioria o mercado era frequentado por pessoas do bairro. Em maioria, não totalidade. Um belo dia um adolescente de 16 anos entrou procurando bebida, vodka para ser preciso, e minha mãe não vendeu. É algo lógico: não se vende bebida para menores. Ele fez um escândalo, jogou coisas no chão, xingou, etc. Meus pais acabaram chamando a polícia. Bom, não era Louis, ele apareceu algumas semanas depois e surtou por não ter o chá favorito dele, quebrou tudo, xingou, etc. Meus pais estavam tão chocados pelo motivo que deduziram que ele só poderia ser louco.
Foi aí que eu descobri uma coisa: eu já tinha visto Louis, eu estava lá naquele dia. Minha mãe contou essa história, todos nós rimos, ele pediu mil desculpas mais uma vez e tentou se explicar, eu contei minha versão e ouvi a coisa mais bonita que meu pai já me disse: "A pessoa certa que apareceu na hora errada sempre pode voltar na hora certa e fazer a diferença". Louis segurou minha mão por baixo da mesa e fez carinho, enquanto concordava com meu pai e sorria como nunca tinha sorrido antes. Deu tudo certo, enfim, apesar de que meus pais agora sabiam que eu namoro um cara que surta por chá e passa vergonha por isso.
Fomos felizes naquela noite como em um comercial de margarina, todos sorrindo e ninguém precisou lavar a louça no final. Com "ninguém" eu quero dizer eu e Louis, porque fugimos assim que surgiu uma oportunidade.
Nota: Minha maior felicidade é escrever essas memórias deles dois, sinceramente... ):
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The Lost Boy
Fanfic"I've seen death and mass destruction But I'm telling you and I hope that I am heard I will not be commanded I will not be controlled I will not let my future go on, without the help of my soul" The Lost Boy, Greg Holden. Após se ver sozinho em um l...