Uma surpresa boa, uma ruim

227 16 8
                                    

Abro os olhos, tudo está girando, olho para os lados e percebo que não conheço o lugar. Sento na cama e me examino por um segundo. A única coisa que se passa em minha cabeça é: "Estou vivo? Estou vivo! Estou inteiro!" Vaso ruim não quebra, como dizem por aí. Mas onde diabos eu estou? Levanto da cama e caminho devagar, cambaleando, em busca de algo que eu conheça. É um quarto, nem muito grande nem muito pequeno. Uma cama, uma escrivaninha com uma cadeira na frente e um armário - vazio, por sinal. 

"Mas que diabos...", penso enquanto chego mais perto do espelho onde vejo uma pessoa estranha. O reflexo no espelho me encara, me segue, faz exatamente tudo o que eu faço. Olho atrás e não tem ninguém. Será que... Não pode ser! Não sou louco, sei exatamente como pareço.Eu não sou assim! Não sou ruivo, não tenho olhos azuis, não tenho barba! "Que droga é essa?", falo alto, sem pensar que poderia haver outras pessoas por perto, até alguém perigoso. Afinal, aquilo não se parecia nada com um hospital. Quem me trouxe não deve ser boa pessoa, eu estou bem, não tem o que cuidar. 

Ouço passos rápidos e pesados do que me pareciam duas pessoas. Eu estava certo. Imediatamente corri e deitei na cama, tentei imitar a posição em que estava quando acordei, apesar de ser péssimo nisso. As duas pessoas falam baixo do outro lado da porta e eu rezo para que falem um pouco mais alto e assim eu consiga ouvir o que dizem.

- Ele não sabe quem é outra vez, temos que fazer algo, não podemos deixar nosso filho assim. - Uma voz masculina diz suavemente, como se tentasse acalmar alguém.

- O que você quer que eu faça? O que você quer que a gente faça? Devemos jogar nosso filho em um hospício? Aumentar os remédios? Deixar ele mais louco ainda?! Eu não posso, não posso... - Agora uma mulher, entre soluços, desesperada.

Essa pequena parte da conversa me deixou com uma pulga atrás da orelha, porque afinal, não poderia ser eu, poderia? Eu sei bem quem sou. Eu sou Harry! Só não pareço mais eu mesmo, me sinto perdido, sinto falta de algo... Alguém... Louis. "Meu Deus, onde está Louis?", sussurrei baixinho enquanto apertava a camisa e me segurava para não chorar. Ele foi a última pessoa que esteve ao meu lado e agora sumiu. Será que está bem? Será que está perto de mim, talvez nessa casa? Eu não posso me imaginar sem Louis, isso só me assusta ainda mais. 

Não sei onde estou e nem como acabei aqui, não sei quem são essas pessoas, não sei onde está Louis. Apenas sei de duas coisas: eu estou bem, e não estou nada bem. 

The Lost BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora