Tudo acontece em Broken Hill

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Era um sonho, era tudo um sonho. 

- Garoto, você não pode ficar aqui. Isso é uma praça, não um hotel. - Senti uma mão fria em meu braço, seguido de um puxão forte. 

- Que... Onde estou? Droga... Onde estou? - Perguntei enquanto era puxado com força por um homem que parecia incrivelmente com o enfermeiro que me levou para o quarto no hospital, mas esse era um policial. 

- Praça da cidade, garoto. Parece que alguém andou exagerando na bebiba, não é? Está na hora de voltar para casa agora. - Ele me deu um tapinha no ombro e piscou. 

Eu saí andando desajeitado e olhando para os lados, ainda sem ter certeza de onde estava. As pessoas me encaravam como se eu estivesse completamente nu. Eu não entendia o que estava acontecendo, coloquei as mãos nas pernas para me certificar de que usava calças. "Nunca se sabe", pensei alto. Ao colocar as mãos nos bolsos da calça senti uma chave em um bolso e uma carteira no outro. A chave de um carro, mas eu não tinha carro. Eu tinha medo de dirigir, sempre tive. Pessoas altas são desastradas, e se eu fosse desastrado até dirigindo? Louis sempre foi um bom motorista, apesar de xingar todo mundo e querer avançar sempre. Comigo ele tinha cuidado. 

Segurei a chave com força e tentei lembrar qual era o modelo de carro de Louis. Nada aconteceu, eu simplesmente não lembrava. Fui ao estacionamento e apertei o botão de destravar as portas, e aí sim eu soube. Um carro não muito grande, bem compacto, vermelho e mal estacionado: se eu dirigi até ali, faz sentido estar tão mal estacionado. Tenho medo de dirigir, mas em momentos críticos eu não tenho escolha. Dirigi apenas duas vezes desde que tirei a habilitação: quando Louis quebrou a perna em um jogo de futebol - não me pergunte como. E uma segunda vez quando Louis surtou por não ter chá. Momentos críticos, não disse? 

Depois disso tudo e de mais alguns segundos sentado na calçada pensando, decidi que deveria entrar no carro e pensar mais, afinal, no carro pelo menos parecia mais confortável. Eu entrei e deitei nos bancos traseiros, com as pernas para fora da janela por motivos mais do que óbvios: minha perna esquerna e minha perna direita, elas são enormes. Após me acomodar no carro que eu nem lembrava que tinha, comecei a pensar em tudo o que aconteceu. O acidente de carro, aquelas pessoas estranhas, minha aparência diferente, Louis me abandonando: tudo aquilo foi um sonho? Droga, eu não entendo! 

Coloco a mão no bolso e tiro a carteira, abro rezando que nada estranho aconteça: não deu certo, nunca dá. "Daniel Phillip Jones, 24 anos, Broken Hill, Old Valley", li em voz alta. Fala sério, esse lugar nem existe! Um homem loiro, barbudo, olhos claros... Levantei com um pulo e bati a cabeça no teto, mas estava tão deseperado para checar o espelho que não senti a dor.

Eu era aquele cara? "Que diabos!", gritei pelo susto. Olhei para os lados e percebi que todos estavam me olhando, fechei a porta o mais rápido que pude e quase ouvi a voz de Louis acompanhada do seu riso ao dizer: "então quer dizer que você sabre fabricar portas?. Isso me fez rir um pouco, mas logo isso passa. 

Tenho a ideia de tentar ligar para ele, já que desde a primeira vez eu decorei o número, então procuro na carteira por algumas moedas e quando finalmente encontro saio do carro correndo e bato a porta forte, rindo ainda por lembrar do que ele diria. Ando por alguns minutos até que encontro um telefone público: eu não poderia ter um celular? Sério, só pra ajudar. Mas enfim, digito os números muito rápido pelo costume e espero enquanto chama. Cada ruido da chamada faz meu coração quase sair de minha caixa torácica, como se fosse a primeira vez que eu o ligo. 

- Oi!! Louise aqui, desculpa mas pelo jeito eu estou um pouco ocupada, mas não se preocupa, deixa um recado e assim que eu puder retornarei ou mandarei mensagem. - O "beep!" quase me matou. Desliguei logo. Louise? Nunca ouvi falar. 

The Lost BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora