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Deveria ter sido um "rolê" comum.
Ah, sim, deveria ter sido mais um término de dia cujo eu e meus amigos aproveitávamos alegremente o pôr do sol e o surgimento da lua, e isso até umas 2 da madrugada, quando eu chegaria em casa rindo e indo reto pro meu quarto.

Apesar de sair bastante, não sou uma garota que curte bebidas ou cigarros, mas meus amigos amam, e muito.
Mas é aquela coisa: jamais algum deles tentou me forçar a usar, portanto, estava tudo ótimo!

Na verdade, estaria, né?
Surgiu uma nova variedade no catálogo das "drogas ilegais usadas em festas pra fazer os jovens pirarem ainda mais".

Seu nome? Nuse
Boatos dizem que era uma junção das palavras "Não" + "Use", porém acho estúpido um produto ter um nome que afasta seus consumidores.

Só que, curiosamente, apesar do aviso ser carregado no próprio nome, ninguém dava bola. A droga foi a mais usada nas últimas semanas de forma totalmente repentina.

Era Nuse pra cá, Nuse pra lá, gente vendendo móveis de casa pra poder comprar, pessoas perdendo o emprego pois estavam exagerando no uso... Virou um caos.

Apesar de estar cercada dessa novidade, jamais botei uma mísera gota dela em minha boca. Pelo menos não por vontade própria.

Numa noite qualquer, em um rolê qualquer, saí com meus amigos em um encontro meia-boca que a gente planejou aleatoriamente.
Foi do nada, abri meu whatsapp e haviam algumas ligações perdidas.
Quando retornei me disseram:

- Sarah, nos encontre em baixo da ponte, agora!

Mas não pense que este local era sujo ou desagradável, era até que bonitinho. Corria um riozinho estranhamente limpo, a grama crescia verdinha e acompanhada de algumas flores coloridas.

Era um ótimo lugar pra se sentar e ficar jogando conversa fora por horas enquanto cantávamos junto com a música que tocava no celular.
Meu coração dói ao lembrar que já fomos assim.

Enfim, naquele mesmo dia decidimos que iríamos para uma festinha que estava ocorrendo ali perto. Como eu já esperava que algo do tipo pudesse acontecer, levei dinheiro para poder pagar a entrada.

Marina, minha melhor amiga, já havia gastado todo o dinheiro com bebidas e por isso tive que pagar para ela também. Não que eu me incomode, ou coisa do tipo.

Éramos 6, e eu considerava o nosso grupo o melhor do mundo.

No meio da festinha, enquanto o som alto se propagava e meus amigos dançavam freneticamente na pista de dança, fiquei sentada no balcão do bar apenas tomando alguns drinques que o barman vinha me oferecer de vez em quando.

Aquilo já bastava pra mim, não curtia esse lance de drogas pesadas, orgias e todas essas coisas que meus amigos amavam fazer enquanto estavam chapados.

Para mim, estar ali apenas bebendo coisas simples e olhando algumas mensagens no celular já me bastavam.

- Não vai aproveitar? - Disse Richard, um dos meninos do meu grupo.

- Já estou fazendo isso. - Falei com um sorriso leve no rosto.

Ele ergueu uma de suas sobrancelhas variando seu olhar de mim para meu copo de cerveja.

- O que foi? - Falei.

- É isso o que você chama de "aproveitar", Sarah? Isso aí nem é bebida de verdade!

Seus olhos se fixavam nos meus.
Não vou mentir, Richard era um garoto bem bonito e gentil, mas mesmo assim nunca me senti atraída. Uma vez ele até tentou arriscar algo entre a gente, me chamou e disse que estava afim de mim, mas não levei pra frente.
Eu estava muito bem sozinha.

Vários garotos tentavam chegar até mim e pedir meu número, coisas desse tipo, mas era muito difícil eu ceder. Nas raras vezes que isso aconteceu, nem os respondi ao mandarem suas clássicas mensagens.

- Você sabe que sou assim, bobo! - Falei tomando a cerveja suavemente.

- Sinto pena de ti. - Ele falou roubando o copo da minha mão e tomando a bebida que teoricamente era minha.

- Ei! - Falei tentando pegar de volta mas ele insistia em me fazer de boba, enquanto mantinha sempre o copo a uma distância das minhas mãos.

- Peça "Por favor"!

Meus braços estavam sobre o corpo dele, foram parar ali enquanto eu tentava tomar a cerveja de volta de suas mãos, mas paralisei quando nossos olhares se encontraram.

Fiquei hipinotizada por alguns segundos, neste mesmo momento qualquer coisa poderia acontecer e eu ao menos iria notar.

- Aqui. - Ele falou devolvendo meu copo.

Aceitei a devolução com uma expressão de "malvada", tentando dizer que se ele fizesse isso de novo seu braço seria decepado.

Tomei rapidamente um gole da minha cerveja e notei que o gosto estava muito, mas muito diferente.

Olhei para o Richard assustada.

- Você botou algo aqui!? - Apontei para o copo.

Ele sorriu.

- Você vai me agradecer por isso, donzela.

Me levantei furiosa e não pensei duas vezes quando gritei:

- Qual é o seu problema? Sabe que não uso essas coisas, Richard!

- Abaixa o tom, tá legal? Daqui a pouco você ao menos vai saber quem sou eu e onde está.

- Você tá zuando... - Dei uma gargalhada sarcástica - Nem tomei tanto assim.

- Essa é a mágica: Não precisa de "tanto assim", querida. - Ele segurou uma de minhas mãos - Bem-vinda à "Nuse".

Foi ele proferir lentamente aquelas palavras que meu mundo começou a girar aos poucos. Tentei xinga-lo por ter feito isso comigo, mas sei que apesar de me esforçar não consegui proferir uma palavra sequer.

Minhas pernas bambearem e eu cairia de costas se Richard não tivesse segurado e puxado meu corpo até o dele.

Não, eu não tinha forças pra me soltar daqueles braços que agora pareciam 20 vezes mais fortes que os meus.

- O que... Você fez... - E essas foram minhas últimas palavras antes do meu mundo apagar lentamente.

Tudo se escureceu e a única emoção que percorria em mim era o medo, não havia nada que eu pudesse fazer. Uma das pessoas que eu mais confiei me drogou, e agora, minha vida estava em suas mãos.

NuseOnde histórias criam vida. Descubra agora