• 05 •

11 3 0
                                    

A hora passou voando enquanto nós dois - eu e o fornecedor de drogas ao meu lado - ficamos conversando somente sobre meu vídeo.

Ele não me tratou com nojo ou me chamou de burra, igual imaginei, pelo contrário: Me abraçou e disse que vai me ajudar a encontrar esses garotos.
Pelo menos ele já sabe quem é um deles.

Enquanto a conversa ia e vinha, em alguns momentos, o rapaz assoprou próximo de meu rosto a fumaça fornecida pelo cigarro que fumava.

Até chegou a me oferecer, mas só Nuse me bastava. Ainda não tinha tomado, mas minha nova meta é evitar qualquer outro tipo de substância fora esta.

- Se um desses caras aparecer em minha frente, é melhor correrem - mostrou o punho. - Porquê dizem que meu braço direito é forte demais.

Abri um sorriso confortável, similar ao clima que rolava entre a gente.

Há anos eu não tinha uma conversa amigável assim. Nem notei como isso fazia falta pro meu espírito.

- Então você está disposto a se envolver nisso por mim? - o encarei mesmo sabendo que sua resposta seria "sim".

- Sim! - era tão óbvio. Todavia, mesmo ele sendo um garoto tão clichê, algo estava despertando em mim uma vontade de conhecê-lo.

Ao vermos a senhora da padaria começar a guardar as decorações do lado de fora, percebemos que ela estava fechando o estabelecimento.
Corremos até ela pra dar tempo de comprar uma garrafinha de água e possibilitar para mim a passagem até uma realidade mais divertida, apesar de estranha.

Acho que a senhora já sabia que a garrafinha de água era pra isso, já que quando pedimos nos entregou com desgosto.

Suas vendas devem ter aumentado muito só por causa dessa nova droga, mas pelo que dá pra perceber, não era algo para se orgulhar.

"Geração de idiotas", ela devia estar pensando.

Quando a festa do InShows começou, fui até a portaria junto com o rapaz (Que por sinal eu ainda não sabia seu nome) e notei que ele não entraria comigo.

- Você não vai entrar? - falei puxando seu braço na tentativa de induzi-lo para o completo caos.

- Meus negócios funcionam mais aqui fora - ele mostrou vários pacotes de Nuse no bolso da jaqueta.

- Vamos, lá dentro vai vender bastante também!

Passou suavemente seus dedos por meus cabelos e colocou uma mecha atrás da minha orelha.

- Fica pra próxima, guria.

Notei que ele estava se aproximando lentamente para mim, provavelmente querendo um beijo.
Curiosamente, também fechei meus olhos e fui em direção a ele, mas o cara cortou o clima completamente ao simplesmente empurrar levemente meu rosto e começar a se afastar, indo embora.

- Espera! - gritei tentando o tocar em meio a toda aquela multidão que repentinamente surgiu pra entrar na festa. - Qual o seu nome?!

Não me respondeu, mas tenho certeza que me ouviu.

É, pelo visto o cara gosta de joguinhos.

- Sarah? - falou Marina puxando meu ombro e fazendo com que me virasse para ela e o restante do grupo.
A propósito, Richard não estava ali. Foi esperto.

Estreitei os olhos sem entender o que essa amiga fajuta queria.
Tirei do meu ombro sua mão, com nojo.

- Qual o problema? - quis saber.

- Onde você estava ontem a noite, Marina!? - respondi baixinho justamente para os outros não me ouvirem, mas seus olhares confusos continuavam fixos em mim.

- Vixi... - ela gargalhou. - Aí é exigir demais do cérebro dessa pobre garota aventureira, não acha?

Continuei a encarando, não querendo aceitar suas desculpas.

- Se fosse o contrário, sabe que eu estaria ali pra impedir que algo acontecesse com você! - apontei com o indicador na direção de seu nariz.

- Ei, ei, ei! - estufou o peito. - Presta atenção em como fala comigo! Não faço a mínima ideia de onde você quer chegar, Sarah!

- O vídeo! Viu o vídeo que estão espalhando de mim?!

- Não... - disse erguendo uma de suas sobrancelhas. - Que vídeo?

- Ah, esquece! - empurrei ela e os outros ao passar para pagar a entrada da festa.

Em um dado momento, olhei para trás e vi que os quatro estavam confusos, discutindo entre si o motivo de minha frustração.

Impossível nenhum deles ter visto o vídeo.

O segurança da portaria me colocou uma pulseira vermelha, assim todos os outros funcionários da festa poderia entender que paguei a entrada e tá tudo certo eu estar ali.

Mal havia começado e o salão já se encontrava cheio, e sem muita demora, era possível ver jovens transando em todos os cantos desse lugar.

Por quê vim aqui mesmo..?

Deduzi por uns 3 segundos até me recordar do pacote que estava no meu bolso! Ele era a única razão de mim ter vindo pra essa zona.

O abri e virei-o na garrafa de água que comprei na padaria. A coloração do líquido mudou um pouco, ficando em um tom mais amarelado. Ou verde... Talvez um amarelo-verde!
De qualquer forma, era um tom fraco, quase não se podia ver a diferença.

Tomei o primeiro gole e já senti o líquido me descer queimando, pela segunda vez em minha vida.

Como me aconteceu antes: consegui sentir seu trajeto da minha boca até meu estômago, porque descia ardendo tudo!

Respirei fundo e me segurei em uma cadeira próxima a mim. Não tenho certeza se ali havia alguém sentado, e nem foi uma preocupação conferir.

Me equilibrei novamente em pé e virei outro gole, dessa vez, em maior quantidade.

Não, não foi uma ideia inteligente.

Todo meu mundo começou a girar e girar, pude sentir dor na minha cabeça e não devia ter nem ao menos 30 segundos desde que tomei o primeiro gole.

O efeito era rápido demais, desnecessariamente rápido demais.
Desse jeito você não conseguia nem aproveitar o sabor, e é por isso que quem usa Nuse não quer saber do sabor, e sim do livramento.

Do livramento que ele te dava da realidade... Eu acho.

Pra ser sincera, nem sei porque EU estava sentindo tanta necessidade de tomar novamente, mesmo sabendo que o gosto era péssimo e os efeitos piores ainda.

Mas mesmo assim, ocupava minha mente o suficiente pra mim conseguir esquecer que tem um vídeo meu se espalhando por aí.
Ou que tem policiais querendo falar comigo pra resolver.
Até mesmo que um dos meus melhores amigos é mais traidor que o Judas...
E que estou no meio de vários sexos selvagens só pra tomar uma dose de água com um tipo de veneno.

Era tudo belo demais.

- Então você voltou? - disse a mesma velha que vi no hotel, mas dessa vez, estava comigo naquela festa.

- Não me enche o saco, senhora, estou tendo um colapso.

- E acha que não percebi? - ela riu e começou a dançar sutilmente a música que tocava.

O que ela achava que estava fazendo? Estava passando vergonha!

- E você vai ser tipo um "guardião", sempre que eu tomar essa droga? - questionei enquanto virava outro gole amargo.
Sabe aqueles cruéis remédios de gosto horrível que você era obrigado a tomar na infância? Então, Nuse tem um gosto parecido. A diferença é que dessa vez não tem um adulto te forçando a usar, o que te força é sua própria consciência.

- Está louca? Nem se eu quisesse seria uma guardiã sua - deu uma pausa. - Eu sou a morte, querida.

Não sei se entendi muito bem ou foi delírio, mas possivelmente estou conversando com o meu próprio fim.

Talvez isso fosse preocupante, mas ao invés de tentar compreender a situação, virei novamente mais goles de Nuse.
Foi o suficiente pra mim começar a ver tudo ao meu redor derreter, até mesmo essa tal de... "Dona morte".

NuseOnde histórias criam vida. Descubra agora