Um breve sonho...

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Naquela noite, eu sonhei que voltava para o hotel.
O mesmo que encontrei aquela senhora pela primeira vez.

Ele não se encontrava mais todo destruído e caindo aos pedaços, pelo contrário, foi como se tivesse recebido uma reforma por completo e ficado novinho em folha.

Passei pelas portas de vidro na entrada e caminhei até o quarto em que eu sabia que encontraria ela.

Fiquei parada em frente a porta e aproximei meu ouvido da mesma, pra poder escutar qualquer coisa que saísse de lá.

Tudo o que eu ouvi foi sua máquina de costura em funcionamento.
Ela estava ali.

Dei dois soquinhos leves na porta e adentrei em seguida, me deparando com suas costas para mim enquanto se concentrava apenas nas suas obras feitas com linhas.

- Dona Morte? - Falei em um tom descontraído.

A velha tomou um susto e me olhou em seguida.

- Sarah! Que surpresa boa!

Veio até mim e me abraçou, logo em seguida, se sentiu desconfortável.

- Ainda está com isso? - Apontou para o Stays que estava em minha cintura.

- É, não sei como tirar.

- Ah, essas mulheres de hoje em dia!

Foi para trás de mim e começou a desamarrar as cordas daquele acessório.

- Quando você disse que estava apertado não imaginei que fosse tanto. - Ela disse gemendo ao fazer bastante força pra me soltar.

- Agora entende minha respiração péssima?

Ela riu descontraída e conseguiu retirar aquele sufocante objeto de mim.

- Melhor? - Ela o mostrou para mim enquanto caminhava em direção a janela.

Assenti com a cabeça e, em seguida, arremessou-o pela janela daquele mesmo quarto.

- Espero que você não precisa usar isso nunca mais, hein! - Me alertou apontando o dedo para minha cara.

A velha dobrou algumas roupas, provavelmente suas, e botou numa mala de madeira ao lado de sua mesa de costura.
Pegou-a e passou por mim.

- Estou de retirada, senhorita.

- Espera... Retirada?! Para onde vai?

- Oras, ainda não é hora de você partir. Quando for eu volto pra te buscar.

- Mas e aquele quadro? - Apontei para o que ela acabou de fazer e deixou encima da mesa.

- Ah, aquele? É pra você! - Disse voltando a caminhar em direção à porta.

Porém, antes de sair, voltou-se para mim e me disse:

- Aliás... Ele ouviu você. Sabe que o perdoou.

Entendi rapidamente que ela se referia ao Richard.
Fiquei feliz com essa informação, já que apesar do garoto estranho que ele demonstrou ter se tornado, pelo menos em seus últimos dias, jamais ofuscou o verdadeiro e amável amigo que um dia eu tive.

A senhora se afastou até o fim do corredor e sumiu do meu campo de visão assim que virou para a direita, seguindo o caminho pra saída.

Não foi um "adeus", e sim um "até breve".

É, um dia ela precisaria vir me buscar.

Caminhei até a mesa que ela costurava para poder ver a obra que fez para mim, como a própria disse.

Quando reconheci seu desenho, botei minha mão em frente à minha boca e permaneci imóvel por alguns longos segundos.

Isso explicava muita coisa, muita mesmo!

Todo esse mal-estar que tenho sentido foi explicado por ela só em uma imagem.

Nada mais era do que eu sentada em um sofá, assistindo TV.
Porém, no meu colo, havia uma criança.
E essa criança era meu filho.

Agora entendi meus enjoos todas as manhãs.

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