Capítulo 2 - Emprego

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Olívia

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Olívia

2018

Definitivamente estou atrasada, tento achar onde pegar minhas malas. Droga, deveria ter comprado a passagem para ontem. Estou em cima da hora e nem dá tempo de trocar de roupa, estou realmente amassada pelas horas que passei no voo.

Olho meu relógio impacientemente, tenho cerca de uma hora para chegar ao Brooklyn. Minha barriga está roncando, não comi uma refeição decente no avião e foram mais de 8 horas tapeando meu estômago com cookies e refrigerantes. Quando minhas 2 últimas malas aparecem na esteira às pego apressadamente tropeçando nos saltos.

Não posso me atrasar, uma chance como essa acontece apenas uma vez na vida. É minha oportunidade, um emprego bom com um salário melhor ainda. Corro em direção a saída furando a fila para o táxi enquanto tento justificar.

_ Por favor, por favor, tenho uma entrevista de emprego daqui a pouco, deixe-me usar esse táxi!_ Estou implorando, isso é vergonhoso mas não para mim e não neste momento.

Com o velho casal cedendo agradeço colocando minha bagagem.

_ Para onde moça?_ O motorista pergunta.

_ Para o estádio dos Dicerorhinus!

_ Você está brincando? É meu time! O que você está indo fazer lá?

_ Uma entrevista de emprego, por favor senhor vá o mais rápido possível. Meu futuro depende disso!

Olho mais uma vez o relógio de pulso e encosto-me no banco, fecho os olhos tentando relembrar tudo que direi na entrevista. Os últimos 5 anos não foram fáceis e pensei em desistir muitas vezes. Graças ao senhor Wilson eu consegui me formar e amadurecer. Foi uma amizade improvável com um senhor de 74 anos, aluguei um de seus apartamentos no primeiro ano que mudei para Londres.

Estava perdida, sozinha e muito, muito chateada de como a vida funcionava. Já havia perdido 2 empregos e se não fosse pelas economias que havia guardado teria passado fome. Não contei todas as dificuldades por e-mails ao meu pai. Era melhor poupá-lo de tudo. Mas foram muitas vezes que pensei em desistir e voltar, para ser uma empregada na casa dos McBride.

Consegui me manter bem quando descobri que o senhor Wilson precisava de uma pessoa para faxinar sua casa, o homem e sua esposa já estavam velhos demais e os filhos não ligavam para eles. Foram muito acolhedores comigo e aprendi muitas coisas sobre a vida. Coisas que nem meus pais me ensinaram.

Sua esposa me ajudou a encontrar meu estilo e me comprou várias roupas. Segundo ela, eu era encantadora demais para usar sempre o mesmo par de tênis velhos.

_ Se você quiser, posso ajudá-la a se tornar uma jovem mulher bem sucedida. _ Não tinha como negar tal ideia, era tudo que eu queria. Passei a usar saias, vestidos e até sandálias. Minha mãe ficaria muito assustada se me visse assim. Mas não é nada promíscuo, são apenas peças joviais.

Cortei os cabelos e troquei o modelo de meus óculos com meu segundo salário. Eu sabia que eles me pagavam bem mais do que merecia. Segundo eles eu trouxe um pouco de alegria para suas vidas monótonas. E os fiz de cobaia quando aprendi a fazer massagens para aliviar dores nas articulações.

Foi uma amizade muito diferente e os considerava como meus avós. Ano passado acabei contando ao papai que trabalhava como "cuidadora" na casa de um casal de vez em quando. Foi melhor abrir o jogo com ele, diversas vezes o homem me pediu satisfação por não lhe pedir dinheiro nenhuma vez. Mas em minha cabeça ele deveria ficar orgulhoso, eu soube me virar bem sozinha.

Os 5 anos se passaram arrastados, tentei acompanhar de longe o que acontecia em torno de Peter, parece que sua carreira está indo bem. Mesmo jogando no time que a família é dona, ele não entrou logo de início como um grande destaque. Foi crescendo ano após ano e agora é uma das estrelas. Claro, meu Peter tem talento e se esforçou muito para isso.

A notícia triste foi quando recebi o e-mail do meu pai contando sobre a morte do senhor Ronald, o pai de Peter. Fiquei desolada, o homem era gentil e agradável e por muitos anos cuidou do time. Assustada perguntei quem estava no comando dos Dicerorhinus, já que Peter não poderia herdar sendo jogador. Acabou ficando nas mãos de Richard, o mais velho que largou seus negócios para cuidar do time. Parece que ele estava se saindo bem, já que está há três anos no comando.

_ Parece que a rua está fechada, não posso passar daqui. _ O Motorista me tira do meu devaneio.

Abro a janela vendo que houve uma batida entre 2 vans. Não tem nenhum ferido, apenas havia caído um monte de mercadorias na via. Olho o relógio mais uma vez, 20 minutos. Estou começando a entrar em desespero.

_Vou descer aqui mesmo! _ Passo o dinheiro de qualquer maneira e pulo do carro pegando minhas bagagens, escuto o homem fala comigo enquanto isso.

_ Ainda está longe, você consegue chegar a pé?

Olho para o horizonte vendo a enorme construção que parece não estar há muitas quadras de distância.

_ EU VOU CONSEGUIR!

Arrumo os óculos respirando fundo. Subo para a calçada e começo a correr com as malas, é a segunda vez que passo vergonha em público hoje. Mas só consigo focar na entrevista, esquecendo toda a minha timidez. EU PRECISO DESSA VAGA. Ter a oportunidade de ver Peter todos os dias é melhor do que o salário e todas as regalias.

12 minutos, cada passo em direção ao gigante em minha frente me faz perceber que estou um pouco fora de forma para a profissão que escolhi. Mas vou fingir que é culpa dos saltos, das malas pesadas e da minha roupa do corpo.

Eu deveria conseguir trocar de roupa.. Estou tão amassada, mas não há tempo.

Estou usando um vestido azul longo que bate quase em minhas canelas. Ele é confortável, por isso o escolhi para a viagem. Com as mangas soltas e seu estilo indiano eu poderia me passar por uma pessoa que acaba de sair do Coachella.

A ideia de estar vestindo uma roupa informal faz minha cabeça enlouquecer, se eu perder essa vaga por isso vou me culpar pelo resto da vida. Apenas imagino meu terninho na mala, mais amarrotado que a roupa de meu corpo.

_ É, qual é minha chance?

Paro na rua, vendo as árvores e a entrada do estádio, encaro o famoso Rinoceronte desenhado na fachada. Eu consegui, eu realmente consegui! Respiro pesadamente e olho novamente meu relógio, 5 minutos.

Descabelada, suada e.. fedendo? Paro na sala de espera encarando a porta onde acontece a entrevista. Ainda tenho chance, eles ainda estão entrevistando 1 pessoa e por sorte serei a próxima. Convencendo a secretária de ficar com minhas malas, sorrio agradecendo seu gesto.

Respire Olívia, acalme-se, não entre em desespero e estrague todo seu esforço para conseguir estar aqui. Foram 5 anos batalhando para trabalhar no mesmo lugar que Peter.

A porta se abre e fico de pé rapidamente, o homem que sai lá de dentro me olha de cima a baixo, ele veste roupa social, e eu, bem.. Fuji de um show para jovens hipsters.

_ Próximo!_ Uma voz feminina chama.

Cruzo os dedos e fecho os olhos pedindo ao universo essa chance.

Eu preciso dessa vaga, necessito deste emprego.

Por mim e por meu Peter

O Plano de Richard (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora