Capítulo 23

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HARRY D'EVILL

-Não estou certo se existe uma palavra para descrever a surpresa que sua mãe e eu sentimos ao sermos avisados por carta que havia se casado. Veja, não estava escrito que tinha planos para o casamento ou que havia encontrado uma moça que lhe despertasse o interesse. Não. Estava escrito que havia se casado.

-Entendo que tenha sido a forma errada de contar, pai, não nego isso. Todavia peço-lhe que entenda a situação pelo meu ponto de vista, estávamos sem tempo e precisávamos de garantias.

-Então preferiste resolver as coisas por conta própria sabendo que nesta família exigimos colaboração na solução de problemas. - Se encosta na cadeira massageando o queixo. Os olhos verdes focados em mim como se pudesse ver minha alma. Em toda a minha vida sempre odiei momentos de conversa com minha mãe, parece que ela sabe de tudo, em compensação fugi o quanto pude de encontros assim com meu pai, de alguma forma parece pior.

Eu os amo. Não tenho dúvidas que são os melhores pais que alguém poderia ter e de como meus irmãos e eu somos sortudos em tê-los. São divertidos, atenciosos, presentes e companheiros, mas ter uma conversa séria com qualquer um dos dois seria motivo de infarto.

A julgar que meu pai sempre foi o mais tranquilo da relação, mais calado e observador, parece estar no controle de suas emoções agora. Minha mãe segue indignada demais comigo para se trancar no escritório conosco e conversar. Sou um homem adulto responsável por minhas próprias escolhas e suas respectivas consequências, porém olhar para o meu pai agora faz-me sentir como uma criança de dez anos novamente. Pequena vontade de correr para as montanhas e esconder-me por lá.

Eu não tenho medo dos meus pais, nunca tive, o medo maior é de decepcioná-los e ver o brilho de mágoa nos olhos de minha mãe foi como milhares de adagas penetrando meu coração. Sim, ela é uma casamenteira incorrigível e sim, sonha acordada com as dezenas de netos que deseja ter, mas eu lhe tirei a oportunidade de conhecer Luise antes que entrasse para a família ou que planejassem juntas todos os arranjos exagerados do casamento. Mesmo Anthony reservou um tempinho de antecedência para que Grace se familiarizasse conosco antes de seu enlace.

-O tio de Luise poderia aparecer em nossa porta a qualquer momento, pai. Como o impediria de levar Edmund? Eu gosto do garoto, ele é especial e sua tia ficaria desolada.

-Eu não sou idiota, Harry. Você tirou proveito da situação. - Seu olhar flexiona em minha direção e sinto minha coluna endurecer. Engulo em seco e trato de respirar fundo tentando manter a calma.

-Como eu tirei proveito, pai? Explique-me.

-O casamento era uma solução rápida e eficiente.

-Sim, era.

-Mas tu conseguirias ajudar a moça mesmo sem estar casado com ela. Ora, Harry, mesmo que esse tio tivesse aparecido, ele não passa de um ninguém, sem títulos, sem posses. Como ousaria invadir sua casa e levar seus protegidos? Ainda que ele convocasse o magistrado, ousariam ir contra a vontade de um conde? O conde de Wendwood? Um D'Evill? Meu filho? Não, nós dois sabemos que isso não aconteceria.

-Posso ter influência local, pai, mas e se o bastardo resolve levar o problema para a Coroa? Para o parlamento?

-É garantido que a Câmara dos Lordes ficaria ao seu lado, sendo você um de nós. Se o problema de custódia chegasse ao rei, o que sinceramente parece-me pouco provável, sua família estaria lá para ajudar Harry, é isso que fazemos. Você teria um marquês, um duque, um conde e um visconde ao seu lado. Por mais que não morra de amores por seus cunhados eles seriam úteis.

-Seria um processo longo, quem sabe o quanto afetaria Edmund? Apeguei-me ao garoto, detestaria que uma briga dessa magnitude o prejudicasse de alguma forma.

-Duvido que ele soubesse, ao menos sonhasse, que toda a confusão estaria acontecendo em Elbenia. Por que não assume de uma vez que encantou-se pela tia do garoto e viu uma boa oportunidade para pedi-la em casamento? Mesmo em circunstâncias tão incomuns imagino que não teria proposto se não percebesse ser recíproco, não?

-Sim, sim o senhor está certo. Estive excluso aqui por muito tempo, minha idas a capital são para com minhas responsabilidades na Câmara de Lordes, não vou a bailes, concertos ou qualquer coisa do tipo.Passo tanto tempo preso em minhas próprias ocupações que as chance de encontrar uma esposa para o casamento eram mínimas. A menos que eu aparecesse em um baile, cortejasse uma jovem debutante interessada em meu título e meu dinheiro e lhe propusesse matrimônio. Onde estaria a felicidade?

-Encontrou felicidade em Luise? 

-Ela é diferente, pai. Luise faz-me sentir mais leve, relaxado e feliz, com certeza feliz. É engraçada, um tanto tímida e tende a não falar muito na presença de desconhecidos. É preocupada com o sobrinho e sei que seria uma ótima mãe. Se há algo que aprendi em vosso casamento com minha mãe é que a conversa é muito importante e com Luise não tenho esse problema, conseguimos conversar sobre qualquer coisa, temos linhas de pensamentos semelhantes e mesmo quando divergimos em algo há respeito mútuo para chegarmos a um consenso.

-Estás apaixonado, Harry?

-Estou, soube que Luise era especial no momento em que bati meus olhos nela. Tenho medo de me declarar agora e tudo mudar, mesmo que já estejamos casados, parece-me cedo demais para expor sentimentos tão fortes. Nós nem ao menos tivemos um cortejo, tamanha foi a pressa.

-Ao contrário do que pareça pensar sua mãe e eu não nos opomos ao seu casamento, filho. Queremos apenas garantir que esteja seguro, feliz e bem. Se está apaixonado e é recíproco então voltarei para minha casa relaxado e de consciência limpa sabendo que fiz o meu melhor. Recuso-me ver meus filhos sofrendo de qualquer forma que seja. Se escolheu a Thoperton como sua esposa e está certo disso então tens meu apoio. Sua mãe está um pouco magoada, mas logo passará, a curiosidade por conhecer o novo membro da família será maior que qualquer festa não planejada.

-E Charlotte?

-Sugiro que a procure e converse você mesmo com ela. A notícia de seu casamento foi um golpe especialmente duro para sua irmã e a julgar como Charlie sempre estava dormindo em seu colo, imagino que esteja ciúmes. Todavia Charlotte é uma mulher, então não posso ter certeza. Vá e fale com ela.

-Acha que ela me perdoará?

-Bem, cabe a ela responder.

Conde Tentador - Os D'Evill 04Onde histórias criam vida. Descubra agora