Capítulo 12

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LUISE THOPERTON

Não consegui dormir pelo restante da noite. Meu corpo estava cansado e minha cabeça totalmente desperta. Harry acompanhou-me até a porta de meu quarto, fazendo uma pequena mensura antes que eu fechasse a porta. Ele me trata como uma dama, não como uma mulher desgraçada no passado.

Eu não tenho ideia de onde esse homem veio, mas estou certa que não é deste planeta.

Depois de rolar na cama até os primeiros feixes de luz da aurora, levantei e apressei-me em meus preparativos para o dia. Desci as escadarias até a cozinha e encontrei os criados, em casas da nobreza nunca deve-se entrar na cozinha, é o lugar da criadagem, porém como nesta casa parece não seguir nenhuma das regras de etiqueta, vou até lá e comprimento todos os serviçais.

Margot me convida para acompanhá-la até a sala de café da manhã, com uma bandeja de comida, acompanhada pelos demais empregados. Todos montam um buffet para um exército e quando se retiram Margot continua ali, fazendo-me companhia.

-Acordaste muito cedo, senhorita. Algo errado?

-Estive muito agitada durante a noite, não consegui dormir. - Sirvo-me um de pedaço de pão.

-Compreendo, é realmente terrível quando nossa mente não quer descansar.

-Sim, terrível. - Um suspiro cansado me escapa - Margot, posso lhe perguntar algo?

-Claro.

-Trabalha para o conde a muito tempo?

-Trabalho nesta casa desde muito jovem, senhorita. Fui dama de companhia da marquesa, na época em que era apenas uma lady, continuei por aqui e assisti a todos os seus filhos crescerem e se tornarem as boas pessoas que são hoje. Quando meu marido faleceu eu já trabalhava como governanta para o antigo conde e Harry fez questão de manter os trabalhos de todos.

-Então a senhora tem muita intimidade com ele, certo?

-Suponho que sim.

-Ele me propôs casamento e eu aceitei. - Tento controlar meu nervosismo crescente - Como acha que sua família receberá a resposta?

Houve uma mudança em sua postura, muito sutil, mas eu notei. Margot abandonara a postura de governanta e parecia adotar a posição de amiga íntima. Seria engraçado se eu não estivesse tão preocupada.

-Ora, não seja tola. Os D'Evill são a família mais tranquila que já conheci. Um tanto excêntricos, de fato, mas são amorosos um com os outros e se respeitam de uma maneira jamais vista. Creio que estarão curiosos para lhe conhecer e certamente empolgados, o máximo com que deve se preocupar é com a marquesa e a filha mais nova, elas podem ser... Intimidantes.

-Acha que nos precipitamos?

-De maneira alguma, vejo como olha para ele e adianto que meu menino cuidará muito bem de ti.

-Margot, não está a espantando, certo? - Harry entra na sala de café,  amarrando seus cabelos na nuca com uma fita e por um segundo perco o raciocínio. Seus cabelos longos são tão sensuais. Minha nossa.

-Veja, lá estão os olhos apaixonados outra vez. - Aponta a cabeça em minha direção - Como não viste isso antes? Nunca o vi tão lerdo.

-Os olhos de fato estão brilhando mais que o normal. - Comenta risonho, sentando-se ao meu lado.

A vergonha cai sobre mim como uma onda, o rubor tomando conta de minhas bochechas, fazendo Margot soltar uma grande gargalhada antes de se despedir e sair da sala, pedindo que lhe chamasse se precisássemos de algo.

-Seu rubor é gracioso. - Dá uma enorme mordida no pão com geleia, seus olhos brilhando com graça enquanto me recupero.

-Eu não tenho olhos apaixonados. - Resmungo sentindo o rubor espalhar por todo o meu rosto.

-Desculpe discordar, mas você tem, baby.

-Céus. - Murmuro pegando um pedaço de queijo.

-Estive pensando, temos pressa para o casamento, certo? Não há maneira de dar mais tempo ao seu tio.

-Certo, precisamos ser rápidos.

-O vigário me deve um favor, creio que poderemos nos casar amanhã. O que acha?

O que eu acho? Ora, como o que eu acho? Veja este homem, não há maneira nenhuma de negar a oportunidade de me casar com ele. Harry não me julga, não me aponta, compreende meu passado e me respeita. Edmund o adora e eu verdadeiramente gosto de Wend Hall, parece familiar, um lar.

Também me aproveitaria de Harry, é claro. Tê-lo como marido significa conhecê-lo em leito matrimonial, desfrutar de seus beijos - como o da noite passada -, eu não deveria desejá-lo assim, deveria recompor minha dignidade e agir como uma boa moça. Não quero que Harry pense mal de mim, mesmo que não me condene odiaria passar a imagem errada para ele.

-Amanhã parece perfeito.

-Ótimo. - Toma um grande gole de chá - Preciso correr, vou ao vilarejo falar com o vigário e terminar as escavações para o córrego.

-Em que posso ajudá-lo?

-Comunique Edmund, escreva para minhas irmãs, elas me odiariam pelo resto de suas vidas se pensassem que a estou prendendo aqui. Se deseja fazer algo especial para amanhã, planeje e se precisar de mim mande chamar. - Coça sua nuca, um sorriso tímido no rosto - Não tenho muita experiência nesse tipo de coisa.

-Casamentos?

-Casamentos rápidos. - Sorri amplamente e perco o fôlego por um instante - O mais apressado que tivemos em minha família foi o casamento de Elizabeth e tanto minha mãe quanto suas irmãs a ajudaram nos preparativos. Cerimônia, bruch e tudo mais.

-Entendo. Não se preocupe, cuidarei de tudo. - Tomo um pouco de chá.

-Obrigado, nos vemos mais tarde. - Põe-se de pé e beija meus cabelos antes de caminhar até a saída da sala - Luise?

-Sim?

-Minha família a receberá muito bem, não há necessidade de preocupações.

-É tudo muito novo para mim. - Encolho meus ombros.

-Está assustada, eu também estou. Não se preocupe.

Recebo uma piscadela antes dele ir e não consegui manter o sorriso bobo longe de meus lábios. OK, talvez eu tenha olhos apaixonados. É Harry D'Evill, quem não teria?

Pouco tempo depois Edmund acordou, enérgico como sempre. O ajudei a trocar suas roupas e descer para comer um pouco. Estamos com certos problemas em suas lições, não tenho habilidade alguma para ser tutora e Edmund sabe bem disso. Entretanto não temos opções e até que nos estabeleçamos, não há como encontrar um tutor bom para ele.

-Edmund, tenho algo importante para lhe contar. - Engulo em seco, vendo meu sobrinho passar geleia desajeitadamente no pão.

-O que, tia?

-Vou me casar com lorde Wendwood?

-Com Harry? Já era hora.

-Então você está bem com isso?

-Gosto dele. - Dá de ombros - Harry é legal.

-Sim, querido. Harry é muito legal.

Conde Tentador - Os D'Evill 04Onde histórias criam vida. Descubra agora