Pov Alex
Flashback On
Já era bem tarde quando meu celular apitou, eu e Willie começamos a trocar mensagens desde o dia que ele pediu para que lhe passasse os arroubas das redes sociais da Sunset Curve, ele era um cara muito legal e eu gostava do jeito que ele enxergava a vida e gostava de se aventurar.
Na mensagem ele havia me perguntado se eu estava dormindo, minha resposta foi negativa, apesar de eu estar seguindo meu sonho com meus amigos, mudanças sempre foram estranhas para mim, era meio difícil dormir em um lugar novo, já faziam alguns dias que tínhamos alugado esse loft e conhecido pessoas maravilhosas, mas demoraria um pouco até que eu me acostumasse e começasse a me sentir em casa.
Falar de casa é algo meio complicado para mim, sempre preferi ficar em minha zona de conforto, mas tudo mudou completamente quando entrei na adolescência, comecei a entender melhor meus sentimentos e aprender mais sobre mim mesmo, eu não era como os outros caras babacas, não que eu seja isento de erros ou coisa do tipo, a diferença é que eu não via a menor graça naqueles esportes agressivos, com toda aquela masculinidade exacerbada e achava aquela conversa de "quantas você pegou hoje?" algo extremante grotesco, não me encaixava nesses grupinhos e isso foi motivo suficiente para anos de bullying e alguns traumas.
Sempre me importei com os sentimentos dos outros, tento ao máximo tratar as pessoas como seres humanos e não como objetos descartáveis. O meu jeito pacífico de ser incomodava muito meu pai, que por inúmeras vezes me mandava ser "homem", até hoje não faço ideia do que ele queria dizer com isso. Afinal, o que nos distingue como homens e mulheres? O que realmente nos diferencia? São perguntas que eu acho que nunca saberei responder, só sei que sou um homem, que gosta de outros homens, e isso não deveria fazer de mim menos homem.
Infelizmente meus pais surtaram quando eu decidi falar aquilo que já era óbvio em voz alta, por muito tempo eu me envergonhei de mim mesmo, mas resolvi assumir de uma vez que sou gay e que eles não podem mudar isso, por isso preferi ir embora com meus amigos, apostar tudo em nossa música do que continuar com meus pais em lugar que infelizmente não posso mais chamar de casa...
Depois dessas digressões voltei minha atenção para a tela onde Willie tinha sugerido que nos encontrássemos, afinal ele mora aqui perto e eu prefiro conversar com alguém legal do que ficar aqui enchendo minha cabeça de pensamentos ruins. Aceitei sem pensar duas vezes e vesti um casaco para sair de casa.
Nos encontramos em frente à lanchonete, ele estava encostado em um muro, usava camiseta e bermuda.
- Oi. – Eu disse e me aproximei.
- E aí. – Ele sorriu. Eu achava fofo o jeito que seus olhos se encolhiam toda vez que ele sorria.
- Para onde vamos? – Perguntei curioso.
- Sei lá. – Ele simplesmente deu de ombros. – Tem uma pista de skate do lado da minha casa, tá afim de aprender? – Ele sugeriu.
- Olha, não me leva à mal, mas eu sou horrível com esportes, meu negócio é a música. – Eu disse meio envergonhado.
- De boa, a gente pode ficar no quintal batendo um papo. – Ele sugeriu amigável.
- Claro, eu não sou muito fã de tecnologia, prefiro conversar com as pessoas pessoalmente. – Eu concordei e nós caminhamos até sua casa.
- Então, o que te tirou o sono? – Willie perguntou e eu precisei pensar antes de responder.
- Não sei direito, acho que minha cabeça virou um poço de perguntas para quais não tenho respostas. – Dei de ombros.
- Relaxa cara, a vida é cheia de perguntas retóricas... – Ele caminhava relaxado com a brisa noturna bagunçando seus cabelos.
- É, mas o que a gente faz com a ansiedade de ficar se perguntando a todo instante o que fazer se tudo der errado? Pra onde ir? Afinal, o que é certo? – Eu perguntei enquanto o olhava.
- É só devolver as perguntas. E se der certo? E se funcionar? O que é realmente errado? A gente não tem como saber, melhor do questionarmos é vivermos Alex. – Ele retribuiu meu olhar. – Eu moro aqui. – Ele disse abrindo o portão, em seguida entramos do quintal de sua casa. Parecia ser um lugar legal, não tive muito tempo para observar pois um cachorro veio em minha direção e eu fiquei bem nervoso.
- Relaxa, ele é brincalhão, não vai te morder. – Willie fez carinho no cachorro que se jogou no chão com a barriga para cima.
- Qual o nome dele? – Eu observei o animalzinho cor de caramelo abanar o rabo feliz com as carícias de Willie em seu pelo.
- Boo. – Ele disse sorrindo. – Você pode fazer carinho se quiser. – Ele me olhou e eu tomei coragem para arriscar tocar no cachorro de médio porte que logo ficou muito feliz e colocou sua língua para fora.
- Eu gostei do Boo. – Eu disse sorrindo.
- Acho que ele também gostou de você. – Willie sentou-se na grama e eu o acompanhei.
Nós passamos muito tempo conversando sobre nossas vidas, sonhos, planos e hobbies, Willie era realmente muito legal e interessante, eu me sentia confortável conversando com ele, quase como se o conhecesse há décadas.
- Ei, você acredita em destino? – Eu perguntei, mas meus pensamentos estavam em algum lugar bem longe dali. – Tipo, eu sempre acreditei que tem algumas coisas que estão destinadas a acontecer. – Meu olhar estava fixo no céu, dava para enxergar algumas poucas estrelas na imensidão de azul escuro.
- Acho que todo mundo tem alguém para acrescentar nessas paradas da vida. – Ele disse se deitando na grama ao meu lado.
- Paradas da vida? – Eu questionei me virei para fitar seu rosto.
- É, essa coisa de amizade e amor, às vezes a gente encontra as pessoas certas e aí nos somamos ao outro, como uma conexão. – Ele também se vira para enxergar meu rosto, seu olhar fica fixo no meu e sinceramente, seus olhos eram muito bonitos.
- Isso faz total sentido. – Eu concordei e acenei com a cabeça.
- Claro que faz. – Ele não desviou o olhar nem sequer por um segundo
Flashback Off
Estava perdido em pensamento e só acordei quando Reggie veio me perguntar se estava tudo bem, eu balanço a cabeça e olho ao redor, Luke estava falando alguma coisa com Julie perto do palco, lembro de que assim que o ensaio acabou eu me sentei nessa mesa e viajei nos pensamentos.
Willie estava no caixa e assim que nossos olhares se cruzam ele se vira meio envergonhado, ele também estava me observando? Não tenho mais tempo para pensar sobre, pois Luke vem até nós e volta a falar sobre música, estava me forçando a prestar atenção, mas meus pensamentos ficavam revisitando repetidamente aquele dia no quintal milhares de vezes.
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Vídeozinho meramente ilustrativo só pra vocês relembrarem esse casal maravilhoso e shippararem ainda mais.
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No Regrets | Juke (JATP)
FanficJulie é uma garota muito talentosa, mas sua paixão pela música se estremece após o falecimento da sua mãe há seis meses. Seu pai faz o impossível para que eles possam superar juntos essa perda, sua melhor amiga Flynn e seu namorado Nick tentam ajudá...