1° Elo - Dandhara

8.3K 436 28
                                    

Abri os olhos ainda confusa pelos últimos acontecimentos, a única prova que eu tinha de que tudo aquilo não era o sonho, era o simples fato de eu poder estar deitada confortavelmente numa cama de solteiro macia, usando um edredom novo, dentro de um quarto confortavel.

Podia sentir algo húmido se acumulando em meus olhos, e um nó em minha garganta apertando-a, rolei na cama, passando a mão na cama, enquanto puxava a respiração, inalando  o ar fresco e límpido daquele local.

Era realmente tudo meu?

Aquelas pessoas não pareciam estar mentindo, apesar de se tudo muito estranho e confuso. Era como se nada daquilo fosse real, e as minhas suspeitas tornavam-se ainda mais inconclusivas quando lembrava de Yohan.

Yohan o homem de cabelos brancos, olhos vermelhos de gato, roupas extravagantes e rosto gentil. Tinha questionado suas lentes, e a originalidade de suas madeixas brancas, enquanto ele agia de modo evasivo e nunca negava. Ele não negava. Pelo contrario, ele tentava sutilmente me deixar confortável com a situação, como se aquilo fosse apenas o inicio.

Era totalmente estranho, no entanto era reconfortante, e eu desejava aproveitar aquilo, por mais estranho que fosse, enquanto fosse possível.

Me levantei, olhando o quarto ao redor: simples e aconchegante. Não havia decoração, as paredes eram de um azul claro suave em duas das paredes, e um branco nas demais, o guarda roupas era cinza, e os demais móveis também tinham a mesma tonalidade, as cortinas tinham desenhos pequeninos de borboletas em tons de azuis encantadores.

Andei até o banheiro, encontrando apenas uma única toalha. Eu deveria começar a procurar alguma roupa para vestir, pois tudo que agora me fora dado estavam nas sacolas ainda. Procurei algo confortável para vestir e pude tomar banho.

Minha mente não parava, os pensamentos iam e vinham freneticamente. Os dias que tinha ficado sobre os cuidados de Yohan na cabana, o rugido que tinha ouvido no quarto onde Elliot tinha ficado, após ter sido arrastada para fora dali. Alias esses acontecimentos eram o que mais me deixava instigada.

Eu tinha sido salva por aqueles dois homens. Aparentemente um casal gay... (o que parecia ser mais uma relação abusiva)

Havia um homem com olhos de gato de cabelos brancos cuidando de mim, o mesmo tinha me explicado basicamente quem eram meus salvadores.

Elliot estava acamado por algum motivo e não podia me receber.

Elliot também não podia ser tocado, pois o tal amarido dele não deixava. (aquilo era puta relação abusiva pra mim)

O mais assustador fora o barulho grotesco de animal, quase como um rosnado de algum bicho feroz dentro do quarto de onde Yohan tinha me arrastado.

Ele tinha me levado para aquele casarão, onde depois fiquei sabendo que pertencia a um dos meus salvadores. Aos quais só pude ter algum contato novamente alguns dias depois, e Elliot parecia abatido.

Não sabia como reagir à aquela loucura, as pessoas não pareciam de verdade, a generosidade daquelas pessoas não parecia real, mas eu aproveitaria e tentaria entender onde tinha ido parar e com quem estava lidando.

Terminei meu banho e peguei algumas peças de roupas, uma calça escura, com uma camiseta branca e um casaco cinza de algodão, não sabia o que faria durante o dia, então optei por calçar um tênis e depois de pentear brevemente o cabelo e trançá-lo da melhor forma possível.

Peguei o celular que havia ficado na sala, em cima do sofá, e olhei as horas. Ainda era bastante cedo, e o sol sequer tinha nascido; Com tempo de sobra e com a mente enevoada por inúmeros pensamentos, decidi arrumar meus novos pertences no guarda roupas.
Algum tempo se passou, até que ouvi a campainha tocar, e finalmente o nervosismo me acertar em cheio. Não sabia o que podia esperar, então tentava torcer pelo melhor.

O rapaz que se encontrava a minha porta era Aiden; o gentil e educado irmão daquele idiota opressivo, mas a pedido do mesmo, eu não iria xingar o irmão dele na sua frente, por enquanto guardaria meus pensamentos para mim mesma.

_olá... – o saudei sem saber ao certo se deveria chama-lo para entrar ou não.

_vim muito cedo? – ele sorriu.

_não, eu já estava acordada... – ele ficou me encarando por alguns segundos, deixando-me um tanto constrangida.

_podemos ir então? O café nos aguarda! – declarou com um sorriso singelo.

_claro...

Quando ele virou-se e caminhou até o carro, pude então admirá-lo como queria sem receios de ser pega e ficar constrangida, afinal, Aiden era um belíssimo exemplar, e com aquelas roupas escuras e caras (horrivelmente caras), ele parecia um magnata sexy e perigoso. Do tipo que com toda certeza não olharia para uma idiota que mal tinha acabado de atingir a maior idade, como eu. Suspirei tentando melhorar meu ânimo e o segui.

Era perturbador, mas Aiden me transmitia uma tranquilidade, que eu me sentia inclinada a segui-lo aonde ele me levasse, sem medo. Eu deveria sentir isso por minha família, mas eu não tinha ninguém, e o certo “alguém” que eu supunha ainda estar vivo em algum lugar, de preferencia bem distante, não me inspirava nenhum tipo de confiança, pelo contrario, desejava ficar o mais longe dele possível.

Entrei no carro e observei curiosamente o caminho que fazíamos, passávamos pelas casinhas, e podia ver algumas pessoas caminhando, algumas crianças com seus pais indo para o que eu imaginava ser a escola.
O cenário parecia comum, aquele era um bairro residencial, há muito tempo, quando tinha amigos, costumava ir a casa deles, e era parecido com isso.

_dormiu bem? – ele perguntou gentilmente.

_sim... Sim, eu dormi bem! – respondi rapidamente, e o encarei como uma retardada – ah, e você? – tentei disfarçar.

_não tão bem... – ele comentou, voltando sua atenção a estrada. E eu quis muito lhe questionar quanto ao motivo.

_oh...

_isso não importa! Gostou da casa? Quer mudar alguma coisa? Os moveis estão do seu agrado? Heleno pode conseguir fazer qualquer mudança que você queira! – ele disparou as informações, me deixando desnorteada.

_ah, não! Esta tudo perfeito! – me apressei em tranquilizado – esta tudo melhor do que eu poderia querer, quer dizer, há anos eu tinha uma ideia de como queria minha casa, quando morasse sozinha, mas pra quem passou os últimos meses presa por correntes como animal, esta tudo melhor do que eu poderia desejar!

Só quando ele parou o carro bruscamente, e me encarou completamente em choque e com uma expressão que eu mal podia decifrar, entendi que tinha falado demais. Tinha dito o que não devia.

_eu não... Aiden...

_quem mantinha você em cárcere? – ele declarou lentamente enquanto perfurava minha alma com seus olhos, que subitamente tinham ficado afiados e assustadores.

_Eu não... Me desculpe, eu não quis... – meu coração passou a acelerar, tanto que podia ouvi-lo e sentir meus dedos pulsarem. Meu sangue parecia sumir do meu corpo.

O clima no carro estava arruinado e por minha culpa. O homem ao meu lado parecia prestes a explodir e por um segundo tive medo do que ele seria capaz de fazer, mas com um autocontrole que nunca tinha visto, ele respirou fundo por algumas vezes e engoliu a força o que estava desejando a dizer.

_isso nunca mais vai acontecer! – ele garantiu sem deixar margens para duvidas – eu vou garantir isso! De agora em diante, eu estarei garantindo isso! – terminou falando mais para si mesmo do que para mim, ligando o carro, e retomando o caminho.

_Aiden...

_esqueça isso! – ele pediu – temos muitas coisas a pensar de agora em diante, mas primeiro vamos tomar café!

_claro...

Não sabia o que pensar sobre como tínhamos terminado aquele assunto, mas não me senti sendo dominada, submissa ou forçada por ele, pressionada de alguma forma. Paramos numa espécie de prédio enorme, onde tinham muitas pessoas, e fiquei completamente desconfortável ao notar que erámos o centro das atenções.

_você irá provar a melhor comida de todos os tempos! – tentou me animar e ofereceu a mão para que eu segurasse. Sem pressão. Me deixando confortável com a situação.
Aiden era astuto e paciente. Conclui que segurar sua mão não era ruim, e a segurei, deixando-o me guiar prédio a dentro. Cumprimentando, literalmente, todos os presentes ali dentro, ele me levou direto para a cozinha.

_ora, ora, menino Aiden, que milagre vê-lo por aqui! – uma adorável senhora de meia idade se aproximou sorrindo – e vejo que em belíssima companhia!

_Martha, essa é Dandhara! Dhara, essa é Martha! – nos apresentou brevemente – Martha, estamos a procura de Diogo, precisamos de uma excelente primeira refeição, e você sabe como aquele urso tem patas milagrosas!

_oh, sim! – o sorriso da senhora se abriu e iluminou todo o local, contagiando quem passava rapidamente por nós.

_podem se sentar, eu aviso a ele que desejam comer e em alguns minutos, levamos os pratos! – informou.

_é claro! – sorriu e então ele me conduziu para uma mesa, onde nos sentamos – aqui é a cantina, muitas pessoas vem aqui para comer durante o dia inteiro, sabe? Desde crianças, até os jovens e adultos! O valor da comida é mínimo, e todos são filiados, cobramos uma taxa pequena de filiação, e trabalhamos duro! Temos nossos próprios plantios, e trabalhadores neles, nossos homens e mulheres... É tudo interno, e procuramos gerenciar bem!

_uau...

_minha preocupação, é: você! – falou e sorriu – você parece ser jovem, e menores de idade não podem trabalhar!

_eu não sou mais menor, eu tenho 18...

_ainda sim, bastante nova! Não duvido da sua capacidade de desempenhar adequadamente qualquer função aqui, mas gostaria de saber algumas coisas com você... Pode ser?

_claro!

_você tem dezoito... Concluiu os estudos?

_sim, eu tive a oportunidade...

_ótimo, então... O que você gosta de fazer?

_eu cozinho bem sabe... Mas também gosto de ajudar as pessoas! Eu sou boa em ajudar as pessoas...

_posso sugerir que você ajude por aqui? Para inicio, até você se acostumar com a nossa rotina! – sugeriu.

_claro, o que eu posso fazer por aqui?

_Diogo, nosso chefe, é muito bom em dar atribuições aos jovens, pedirei a ele que lhe tome por sua nova assistente! A cantina funciona todos os dias de segunda a sexta, e as vezes aos sábados e domingos, em ocasiões especiais também, ela abre as 07h para o café da manhã, tem o intervalo as 09 e abre novamente as 12h para o almoço que vai até as 14h, então fecha e reabre para o jantar as 19h e vai ate as 21h, e para alguns casos até as 22h ou 23h. – explicou-me – é exaustivo, e tem muitas pessoas envolvidas no processo!

_acho que posso ajudar!

_ótimo! Conseguiremos seus documentos em alguns dias, acredito que até o fim de semana, e então poderemos abrir uma conta para você, e então receberá o pagamento por seu trabalho! – concluiu.

_isso é demais, quase não sei como agradecer, de verdade...

_sim, mas isso é temporário! – tornou a falar, me deixando insegura – você é jovem e tem potencial, gostaria que cursasse uma faculdade e tivesse uma profissão... O trabalho de auxiliar de Cheff é digno, mas eu acredito no seu potencial!

_AIDEN! – uma voz grave próxima me fez pular do banco e virar assustada. Havia um homem vindo até nós, segurando duas bandejas, e ele era enorme e assustador – Martha comentou que estava aqui!

_Olá Diogo! – Aiden levantou e o ajudou com uma das bandejas – essa é Dandhara!

_olá... – falei timidade, mas o recém chegado me sorriu gentilmente.

_olá pequenina! Seja muito bem-vinda! – saudou-me – seu café da manhã, espero que aproveitem!

_obrigado Diogo!

Ele voltou para a cozinha e eu só sabia encará-lo perplexa. O homem era enorme, parecia uma montanha. Virei-me para a bandeja a minha frente e engoli em seco.

_é muita comida... – murmurei sem saber o que fazer.

_por favor, coma a vontade, e o que não quiser, não precisa se forçar a comer! Nada aqui é desperdiçado, até mesmo as sobras são aproveitadas! – incentivou-me.

_obrigada...

Aquela era uma das melhores refeições que tinha feito nos últimos tempos. No casarão havia fartura, mas o silencio era constrangedor e as pessoas me olhavam de um jeito diferente, me deixando desconfortável; Mas estar ali com Aiden, de alguma forma parecia certo pra mim. Me deixava contente e abria meu apetite, pois com ele eu conseguia falar e sorrir, e até mesmo planejar meu futuro.

Planejar meu futuro! Era como um sonho se realizando...










Heye, Pandas Kids, voltei, e lá vamos nós outra vez! Comentem e deixem a estrelinha, pois vocês sabem... Nosso casal é bem água com açúcar e sim, casais assim são reais. Meu casamento é agua com açúcar então escrevo com propriedade de causa kkkkkkkkk Embarquem comigo nessa overdose de doçura e vamos ficar diabéticos de amor todos juntos!

Amada pelo Urso - Livro IV - Série Amores IndomáveisOnde histórias criam vida. Descubra agora