4° Elo - Aiden

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_esta tudo bem, Iron não liga para essas coisas! – falei no momento em que entramos no carro.

_mas eu ligo, agi de maneira impulsiva e grosseira! – ela falou e passou as mãos no rosto – meu Deus que vergonha, minha irmã teria vergonha de mim, não foi esse tipo de educação que ela me deu!

_Dhara esta tudo bem...

_não está! – ela bradou repentinamente, levantando o rosto e me encarou – eu não tinha o direito de julgar seu irmão ou Elliot, ou qualquer um! Simplesmente entrei na defensiva e ataquei tudo e todos de maneira irracional, sem procurar entende o que estava acontecendo! – declarou rapidamente – só que eu passei tanto tempo acuada e com medo, que não conseguia enxergar mais nada além de maldade... Mas nada disso justifica meus atos! Aiden! – ao parar e respirar fundo, ela me encarou parecendo perdida – alguma coisa quebrou dentro da minha cabeça...

_esta tudo bem! Dhara, esta tudo bem! É apenas uma reação natural!

Tinha passado a ultima noite pesquisando todo tipo de trauma que uma pessoa poderia ter depois de ter passado por um período difícil, e pelo pouco que de pistas que pude obter dela, alguém a estava mantendo em cárcere e a torturando de alguma forma. Por isso ela estava tanto na defensiva, como um animal ferido acuado e desconfiado.

_estou com tanta vergonha... – murmurou infeliz.

_não fique assim, por favor! – pedi, angustiado por vê-la assim, sem poder fazer nada – tenho certeza que Iron e Elliot entendem sua situação! Em outro momento, voltaremos e então iremos conversar adequadamente sobre tudo isso!

_tudo bem...

O dia não estava seguindo como planejado, mas depois de deixarmos o casarão, consegui mostrar mais alguns pontos interessantes da nossa vila, por fim, acabei levando-a para a capital, para mais uma rodada de compras, desta vez, para comprar comida. Deixei-a escolher o que quisesse, advertindo-a que se não achasse a quantidade escolhida o suficiente, iria interferir. Ela fez uma lista do que precisaria e assim seguimos item por item da mesma. Trocando algumas poucas palavras, sorrindo de vez em quando... Parecíamos um casal.
E cada segundo ao seu lado era como estar no paraíso.
Tudo que eu desejava era poder sanar todo seu sofrimento e privá-la de seus sentimentos ruins, e memorias do seu passado.
Consegui um bônus para meu dia, quando chegamos com as compras, Dhara estava animada em cozinhar e fazer com que eu experimentasse sua especialidade, passada de geração em geração por sua família, e eu obviamente aceitei, mais do que contente. Até tentei lhe auxiliar na cozinha, mas ela me enxotou da mesma.

_você é grandão! – argumentou – minha cozinha é pequena! – gargalhou e eu quase suspirei apaixonado.

_como quiser chefia! Sua cozinha, seu reino, você manda!

A observei trabalhar habilidosamente com as mãos, cortando os temperos e preparado as partes do prato separados. Havia um tipo de macarrão de massa de batata feita artesanalmente, um arroz um tanto avermelhado, e muitos temperos que eu não reconhecia, que ela cortou em pedacinhos e recheou um pedaço enorme de carne, temperada com sal grosso e pimenta.
Dandhara se mexia com habilidade na cozinha e até mesmo cantarolava alguma coisa baixinho, e sorria. Meu coração se derretia a cada batida, e eu desejava ardentemente estar ali, na sua cozinha pequena, abraçando seu corpo junto ao meu, enquanto a atrapalhava no preparo da comida.
Os cheiros vindo dali me abriam o apetite.
Demorou um pouco, mas o resultado valia a pena: a carne estava ao ponto, e o recheio estava divino, sequer vi que ela havia colocado queijo no meio. O arroz tinha o sabor refrescante, era soltinho, diferente do macarrão que levava um creme branco por cima, que complementava o sabor da carne e do arroz.
Havia uma pequena salada crua num pote ao lado, temperada a azeite e sal.

_bom, eu não sei ao certo a quantidade que um urso come, mas acredito que seja bem mais que uma pessoa normal! – argumentou se justificando pela enorme quantidade de comida.

_basicamente... – sorri.

Tudo que eu podia fazer naquele momento era acompanha-la e torcer por ter mais oportunidades de estar ao seu lado cada vez mais. O dia se findou rapidamente, e eu não tinha mais motivos para os quais justificaria minha permanência ali, então com pesar me despedi, vendo-a me observar ir embora da porta.
Não consegui chegar ao casarão, eu não queria ir para lá. Sabia que no instante que entrasse em meu quarto, ficaria inquieto e sentiria falta do seu cheiro, pois aquele lugar evidenciava algo que eu não queria mais aceitar: minha companheira não estava ali. Então eu ia de equipe em equipe patrulhando, ou então me hospedava no alojamento com os demais soldados, para me manter ocupado, e próximo a ela.
Foi exatamente o que fiz, me dirigi para o alojamento mais próximo e após um banho frio, vesti um conjunto de moletom e me joguei em um beliche qualquer, tentado cochilar levemente, para não parecer deplorável na manhã seguinte.
Consegui dormir por algum tempo, mas meu celular começou a tocar no meio da noite, me deixando extremamente irritado, afinal, eu tinha conseguido pegar no sono há pouco tempo, e havia alguém me ligando. Deixei tocar umas duas vezes, mas com certa relutância atendi, sem ver quem era. Podia ser algo serio, para uma ligação no meio da noite.

_Belicov! – rosnei ao celular.

_Aiden? – sua voz doce me fez pular da cama, despertando no susto.

_Dhara! – a reconheci de imediato, e rapidamente afastei o celular do ouvido, apenas para ver o horário: eram três e meia da manhã.

_eu te acordei? Me desculpe...

_esta tudo bem! O que houve? – meu instinto me dizia que tinha algo errado, então eu já tinha começado a calçar os sapatos e catar minhas chaves.

_eu... Me desculpe ligar tão tarde, eu só... Não sei bem... Eu queria falar com alguém e só tinha você em mente... – suas frases não concluídas me deixavam angustiado – é bobagem! Desculpa ter ligado! Vamos nos ver pela manhã certo?

_Dhara! – antes que eu pudesse responde-la direito, a mesma já tinha encerrado a ligação.

Sai como estava, peguei o carro e dirigi rumo a casa dela; Algo não estava certo. Ela não me ligaria a uma hora dessas por nada; Dhara deveria estar dormindo, mas não estava. Quanto mais eu pensava, mais rápido desejava chegar na casa dela, e ver com meus próprios olhos que tudo estava bem.
Ao chegar no final da rua, estacionei o carro, sai e travei o mesmo. Em passos rápidos, cheguei até a porta e bati com certa força.

_Dhara, sou eu, Aiden! – falei apenas uma vez.

Prendi a respiração brevemente e escutei tudo ao redor, a rua estava silenciosa, não havia barulho suspeito na floresta e nem no perímetro ao redor da casa. Ouvi seus passos, ouvi sua respiração, e ouvi o mecanismo da porta destravando, para que finalmente pudesse ver minha pequena ruiva.

_Dandhara? O que houve? – entrei levando-a comigo, batendo a porta, e olhando ao redor.

Ela parecia assustada, e tremia levemente, averiguei a casa rapidamente com passos precisos, pronto para atacar qualquer invasor, mas não havia sequer um rastro de cheiro diferente. Estávamos sozinhos ali. Me aproximei de seu corpo, avaliando-a com cuidado, seu rosto estava um tanto mais pálido comparado ao de horas atrás, os olhos vermelhos estavam levemente inchados e ela fungava tentando esconder o fato de que havia chorado.

_conte pra mim, tudo! – pedi, sentando-a no sofá, e me sentando a sua frente, na mesinha de centro – eu não vou sair daqui até ter certeza de que você esta bem!

_me desculpe... – seus olhos encheram-se de lagrimas novamente – não queria te encher com meus problemas... – ela enxugou os olhos com as mãos.
_eu já disse, estou aqui para você, e não irei a lugar algum! – fui enfático e firme – o que aconteceu?

_eu tive um pesadelo! – ela forçou um sorriso em meio ao choro, tentando aliviar a tensão, mas não mudei de expressão, deixando claro que não estava ali a toa. – eu acordei e por um momento não reconheci a casa...

_diga tudo! Isso não é nem a ponta desse iceberg! – falei e aguardei o seu tempo.

_eu estava de volta no porão da minha antiga casa, mas não estava presa! Havia outra de mim, presa, como eu ficava, num canto, algemada ao encanamento, ou então com uma corrente no pescoço, presa com um cadeado próxima a escada! – ela soluçou e engoliu a seco algumas vezes antes de continuar – tinha um urso lá, ele aparecia do nada, mas a mesma pessoa que me prendia, chegava com uma arma e matava o urso, e eu gritava e gritava...

Agitando-se ainda mais, ela levantou e esfregou o rosto com força, tentando conter o choro e retomar o controle. A observei andar de um lado para o outro.

_e o sangue do urso chegava até meus pés, eu tentei correr, mas escorreguei e acabei toda suja com aquele sangue! E parecia real! – falou após alguns minutos – depois aquele homem vinha e dizia que era culpa minha, que o urso não precisava ter morrido, mas que eu não era uma pessoa obediente e por isso ele tinha morrido...

_Dandhara... Foi só um pesadelo... – falei pausadamente, tentando ganhar sua atenção, mas ela estava agitada demais.

_eu estou com medo de fechar os olhos e voltar para aquele porão! – ela disparou – tenho medo de ele vir atrás de mim, dizendo que fui desobediente e ingrata por fugir e me arrastar de volta! Tenho medo de que ele ponha as mãos em mim de novo...

Levantei-me e tentei me aproximar sem deixa-la ainda mais agitada, pois ela parecia a ponto de ter um colapso nervoso; Seu choro se intensificava a cada segundo, deixando seu rosto vermelho. Quando toquei delicadamente toquei em seus braços, ela agarrou-se a mim com força, como se aquele fosse seu único ponto firme ao qual poderia se agarrar para sobreviver.

_eu não quero mais apanhar, não quero ficar presa, não quero que me toquem, não quero ficar no escuro, não quero ter medo das pessoas, não quero mais sentir dor! Eu não quero ficar sozinha! – disparou tudo de uma vez, fazendo meu coração perder seu ritmo. – Aiden, eu não quero...

_shhhh, esta tudo bem! Estou estou aqui agora! – a envolvi em meus braços, e deixei que ela levasse o seu tempo para conseguir parar de chorar e se acalmar, enquanto eu a ninava.

O sol já nascia timidamente, quando as coisas se acalmaram por completo. Preparei um chá para ela, e voltamos ao sofá, mas dessa vez, sentei-me ao seu lado, e a puxei para ficar bem junto a mim, mais do que apenas para acalmá-la, para acalmar a imensa vontade que eu sentia de sair numa caçada atrás de sangue.

_desde que meus pais morreram, eu passei a morar com minha irmã e com Marconi meu cunhado. Eu estudava, ajudava em casa, erámos uma família feliz... Ai minha irmã morreu. Meu cunhado ficou desolado, e eu ainda era menor de idade, então fiquei sob sua guarda... Ele mudou! – murmurou e senti seu corpo estremecer de leve – no começo eu acreditei que ele fazia o que fazia pois estava sofrendo, ele me fez acreditar que eu deveria ser grata por ter um teto e por todo o resto... Então ele bebia, me batia, me prendia... E de novo, de novo e de novo! Virei prisioneira na minha própria casa! – concluiu.

_como você foi parar no meio de uma estrada?

_quando ele queimou meus documentos e me isolou do mundo, eu soube que tinha que fazer algo ou morreria ali. Então esperei a oportunidade certa e o acertei na cabeça com uma garrafa de wiskey e peguei o carro! Dirigi sem rumo até acabar a gasolina do tanque, depois passei a correr na mata! Não sei se por alucinação pelo cansaço ou pela fome, eu ouvia passos atrás de mim. Em algum momento eu não aguentei mais, estava há dias sem comer... Só lembro de ter acordado sob os olhos de gato de Yohan...

A única pessoa na qual ela podia confiar tinha destruído sua vida, e a violado de diversas formas, não me admirava a tamanha desconfiança que tinha nas pessoas. Minha pequena ruiva tinha sofrido tanto, que a única coisa que eu sentia era o gosto do sangue vir em minha boca.

_ele nunca mais vai tocar em você! – falei firme, num tom baixo e perigoso – ninguém nunca mais vai tocar em você! – seus olhos encontraram o meu, e podia sentir ali, a confiança que ela estava depositando em mim. Era tudo o que ela tinha – e se algum dia ele vier atrás de você... Irei estraçalhar cada parte daquele corpo imundo com minhas garras, e me divertir vê-lo se afogar no próprio sangue! – jurei perante seu olhar surpreso – eu lhe dou a minha palavra...

Toquei seu rosto com carinho, podendo sentir o formigamento percorrer meu corpo. Estava sedento por sangue; E eu traria a cabeça daquele maldito como prêmio para minha pequena ruiva.






A mi me gusta lo sangue de nuestros inimigos! Heuehueheu alguém quer uma vingança básica?! Comentem ai!
E não esqueçam da estrelinha, porque a postagem foi tripla! Rsrs

Amada pelo Urso - Livro IV - Série Amores IndomáveisOnde histórias criam vida. Descubra agora