Mais cedo resolvi procurar a Any para fazer uma surpresa com as passagens, liguei mas o celular dava desligado. Passei na casa dela e o seu pai me disse que ela tinha ido até a quadra da escola encontrar a Maitê. Achei aquilo meio estranho, mesmo assim resolvi ir até lá pois estava ansioso com a surpresa.
No final foi eu quem saiu surpreendido. Escutar aquelas palavras e ainda por cima por outra pessoa que não era a Any me despedaçou por dentro. Me senti completamente enganado e não conseguia pensar em nada.
Mal deixei ela se explicar, apenas despejei parte da minha raiva e saí.
Peguei o meu carro e dirigi sem direção. Minha cabeça estava a mil, pelas mentiras, pelos planos desfeitos e principalmente por saber no fundo que nos separaríamos.As lágrimas rolavam pelos meus olhos enquanto a raiva e a dor brigavam por espaço no meu coração. Aumentei o volume do som e acelerei. Respirei apenas quando cheguei na porta da minha casa.
Fui para o porão que mais parecia uma sala de distração. Encontrei a folha que rabisquei mais cedo com os lugares que poderíamos visitar durante a viagem. Simplesmente amassei e joguei no lixo.
Me joguei no sofá e fiquei encarando o teto por horas. Muitas coisas me incomodavam nessa história toda, contudo o que mais me deixou chateado foi saber que ela me via com desconfiança.
Qual a verdadeira imagem que a Anahí tem de mim?
Será que eu sou tão ruim a ponto dela não confiar em mim?
Como ela achou que eu fosse reagir ao saber que ela iria para outra faculdade?
Será que achou que eu agiria como um doente possessivo e a impediria de seguir seus sonhos?
Ela não podia ter uma visão tão distorcida de mim! Eu não podia ser para ela apenas um bobo, um trouxa!
Nós vivemos tantas coisas juntos. Não precisava existir uma mentira entre nós. Mas agora existe!
Agora existe o fato de que ela vai para longe.
Existe o fato que ela mentiu, mentiu assim como a Angelique.
Será que eu sou um grande palhaço para todos?
Ao terminar essa frase eu fui tomado por tanta raiva que arremessei uma bolinha no espelho que se partiu em vários pedaços.
Estou cansado de ser feito de idiota.
Derrepente as luzes do porão se ascenderam e no topo dos degraus estava a Anahí parada!
Porque ela foi aparecer no ápice da minha raiva?
- O que faz aqui? - Perguntei secamente.
- A gente precisa conversar!
- Eu honestamente não estou a fim agora.
- Você precisa me ouvir!
- Eu não quero te ouvir!Dei um grito tão alto que ela se assustou. Com o susto deu um passo em falso e caiu derrubando uma cesta de coisas velhas. Em meio ao monte de coisas antigas havia uma revista com a Angelique estampada na capa.
Durante longos segundos eu percebi os olhos dela fixos na direção da revista. Corri para pegar.
- Não precisa se dar ao trabalho de esconder novamente, eu vi.
- Isso não tem significado algum Anah...Antes que eu terminasse ela se levanto e puxou a revista da minha mão.
- Não te pedi explicação alguma. Na verdade ficou bem claro que eu não sou a única com mentiras e segredos.Ela se dirigiu a saída mas eu agarrei seu braço e disse:
- Não tente comparar os dois como se fossem iguais porque não são!Ela riu sarcasticamente.
- É obvio. A única mentira que importa é a minha. Você é a única vítima nessa história! Que audácia a minha querer achar ruim que o meu namorado tenha uma foto recente da sua ex guardada, apesar de tudo que ela fez!Ela continuou levantando ainda mais a voz.
- Que audácia a minha me sentir mal por saber que durante todo este tempo, ele talvez tenha continuado a ama-la em silêncio.
- Claro que não Anahí! Essa foto...
- Eu não quero saber.
- Claro, você prefere fugir. Droga, quem eu sou para você?Ela me encarou:
- E quem eu sou para você Alfonso?Ela se desvencilhou do meu braço, atirou a revista na minha cara e saiu brava.
- Isso Anahí, fuja novamente. Fuja com essa droga de medo que você tem!
Me joguei na cama novamente. Que inferno era esse entre nós dois?
Como ela queria comparar uma foto de revista com o que ela fez?
Fiquei consumido pela raiva que decidi descer na adega. Peguei duas garrafas de whisky e voltei ao porão.
Consumi a primeira, contudo a raiva ainda me aplacava. Decidi começar a segunda. Estava começando a ficar levemente alterado. Me joguei na cama voltando a encarar a parede até começar a escutar passos na escada. Me levantei imaginando ser a Anahí mas quando encarei a pouca luz, percebi se tratar de outra pessoa.Era a Angelique que decidiu ressurgir das sombras.
- O você está fazendo aqui? - Perguntei me levantando da cama.
- Fica calmo! - Disse ela com sinismo - Eu vim aqui te ver!
- Me ver? Você enlouqueceu?
- Achei que você ficaria mais feliz Ponchito!Nesse momento ela começou a acariciar meus ombros. Eu já estava sem camisa antes dela chegar. Quando os dedos dela tocaram minha pele eu não senti nada, e isso me surpreendeu. Durante algum tempo fiquei me perguntando como seria o dia em que eu a reencontrasse. Me imaginei reagindo de inúmeras maneiras, com raiva, com paixão mal resolvida, com ódio, contudo naquele exato momento o que sentia era indiferença.
Eu a afastei e gritei para que saísse. Mas ela permaneceu ali. Se aproximou e me empurrou na cama. Quando ela me encarou, lembrei da revista e da segunda briga que tive com a Anahí hoje, me lembrei de Harvard, UCL, do grande idiota que sou. A raiva voltou a explodir em meu peito. As garrafas de whisky não tinha sido suficientes, eu precisava esvair minha raiva, precisava entorpecer a minha dor. Fechei meus olhos e me deixei levar pela Angelique.
Me permitir me entregar a ela. Sem amor, sem paixão, com a Anahí em minha mente. A cada toque ou gesto eu esvaia a minha raiva.
Nós dois transamos e a cada ofegada eu tentava esquecer mesmo que por segundos a dor que carregava em mim. Eu estava usando a Angelique para descontar minha dor, estava a usando como um entorpecente. Estava claro para mim que não havia em mim mais sentimento algum por ela, era a Anahí que eu amava, contudo mesmo a amando cometia o erro de traí-la.
Meu coração doía e meu consciente dizia que ao fugir de uma dor eu acabaria causando uma outra maior ainda, para qual não haveria um remédio.
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As linhas da vida
RomanceQuando tudo ficou confuso, eu de alguma forma estava com ele. Ela sumiu quando ele mais precisava. O que era improvável se tornou provável. Você estava comigo, eu te amava! Mas e você? Me amava também? A tormenta passou! Ela voltou. Mas agora, eu nã...