Anahí

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Meus olhos acompanharam imóveis a partida do Alfonso, por um instante cogitei segui-lo mas acabei permanecendo estática no mesmo lugar, havia perdido as minhas forças.

Me ajoelhei no chão permitindo que o desespero me tomasse, agora estava claro para mim que ele realmente havia entregado os pontos. As palavras que ele me disse reverberavam na minha cabeça, era como se ele ainda estivesse ao meu lado sussurrando:

“... Aceitar que o Alfonso e a Anahí precisam seguir as linhas da vida separados...”

Comecei a sentir raiva de mim mesma, tinha tanto medo de me entregar a ele e agora estava ali chorando o fim. Eu não sabia mais o que fazer, estava cada vez mais perto de enlouquecer com tantos sentimentos brigando por espaço em meu coração.

Durante o nosso beijo me sentia como no paraíso, contudo alguns lapsos de memória começaram a invadir minha mente trazendo de volta um sentimento que eu lutava para sufocar.

O paraíso se transformou em inferno quando os vi novamente ali naquela cama inebriados de prazer, eu tentei afastar os borrões, mas a cada segundo eles se tornavam maiores transformando o amor que transbordava no meu peito em ódio.

Eu confiei nele uma vez e ele me traiu, o que o impediria de fazer isso novamente?

Nada que você diga ou faça poderão mudar o fato de que um dia me traiu!

Com a mente perturbada me levantei e comecei a correr, eu fazia isso quando jovem, na tentativa de fugir dos meus sentimentos, faria novamente.

Depois de horas andando sem rumo decidi retornar para casa, estava exausta. Ao chegar encontrei as luzes da sala acessa, minha mãe estava lendo no sofá, ao notar meu rosto pálido e a minha afeição de tristeza largou o livro na mesa e se dirigiu até a mim.

- Querida – Era perceptível o tom de preocupação em sua voz – O que aconteceu?

Eu estava tão cansada que mal tive coragem de abrir a boca para tentar explicar, simplesmente me joguei em seus braços. Lendo a minha mente ela simplesmente correspondeu ao meu abraço e não fez mais nenhuma pergunta. Ficamos assim por longos minutos até que ela afastou os cabelos grudados em meu rosto e disse:

- Quer conversar sobre o assunto?

Eu precisava desabafar.

- Eu e o Alfonso nos beijamos – Comecei um pouco sem jeito – Mas no fim acabei recuando.
- Sabe o motivo que a fez desistir?
- Sim! – Abaixei minha cabeça levando as mãos para o rosto – Eu não consigo perdoa-lo mamãe.

Levantei inquieta.

- Por mais que eu tente a todo o custo esquecer é como se a memória daquele dia não quisesse se desprender de mim. Eu me permito ser feliz por alguns instantes até ela aparecer destruindo tudo, esse é o meu ponto fraco e eu não consigo vencê-lo.

Ela se aproximou de mim.

- Acha mesmo que não tem como vencer essa luta contra as dores do passado?
- Mãe, o Alfonso já me deu inúmeras demonstrações de que mudou e mesmo assim eu não consigo virar a página e seguir em frente, eu não consigo perdoa-lo por mais que ele se esforce! Eu não sei mais o que fazer.
- Querida, você já parou para pensar que o seu problema está no passado e não no presente?
- Como assim? – Respondi confusa.
- Não é o Alfonso do hoje quem você deve perdoar e sim o Alfonso de anos atrás!

Comecei a encara-la curiosa com tudo o que estava me dizendo.

- O erro está lá no passado com aquele adolescente que por algum motivo a machucou, é dele que você tem raiva, é com ele que você precisa acertar os ponteiros para finalmente conseguir ser feliz com o Poncho de hoje.
- Mas eu não posso voltar no tempo mamãe!
- E se você pudesse? O daria uma chance de se explicar, tentaria escutar o que ele tem a dizer para quem sabe entender os motivos que o levaram a cometer o erro que culminou no fim do namoro entre os dois?
- Sim! – Respondi ainda confusa – Mas nós duas sabemos que isso é impossível.

As linhas da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora