Capítulo 15

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Rhys

Feyre havia saído com Evangeline logo cedo, o que me deixou com a função de tentar explicar para minha família o que nem eu sabia.

- Eu confio na Feyre - Mor disse pela sétima vez nessa conversa - Em quem eu não confio é na loira. Ela é muito perspicaz. - Cassian e Azriel concordaram com a cabeça.

- Por isso que não vamos abaixar a guarda. - conclui  - Eles possuem escudos mentais, com exceção da garota, mas ela é apenas uma criança, e se estivermos errados, não quero ter na minha consciência o peso de ter invadido a mente dela. Vamos permanecer investigando, qualquer novidade deve ser imediatamente relatada.

Os três acenaram com a cabeça. Não era momento para brincadeiras, estávamos em territória desconhecido com pessoas que nem sabiamos da existência até horas atrás. Para finalizar, minha parceira está sozinha na cidade. Eu sei que ela sabe se proteger, mas o medo que algo de ruim aconteça não deixa de existir. Verifico o laço e ele está intacto. Me seguro para não mandar uma mensagem, algo simples como “Você está bem?”, o que me impede é a noção de que se Feyre estivesse com problemas ela teria avisado. Eu não vou ser o tipo de marido que asfixia a esposa. Nunca.

- Quero testar o poderio deles. - Cass diz olhando para a janela do quarto em que estamos, onde temos um bela vista do pátio - Principalmente o dela. - ele inclinou de leve a cabeça na direção da Rainha que atravessava calmamente o pátio. Como se estivesse desfilando para alguém.

- Feyre deu a entender que ela é estupidamente poderosa. - Azriel parou ao lado do irmão e observou a jovem lá em baixo com uma excessiva concentração. - Aquela garota é uma guerreira. - ele declarou - O seu jeito de andar, os calos nas mãos, as pequenas cicatrizes pelos seus braços, o respeito que recebe de pessoas muito mais velhas do que ela… - ele estava realmente alegre enquanto citava a curta lista - Ela guarda muitos segredos que temos que descobrir.

Como ouvintes, nós três trocamos olhares surpresos pela recente fala do mestre espião.

- Azriel - começou Mor, nitidamente irritada - Se for continuar a falar dela com tanta… - Ela parou, busca de uma palavra adequada. - ...admiração… - Morrigan me encaro em busca de confirmação. Dei de ombros tão perdido quanto ela - Acho melhor não o fazer perto do marido dela. - ela destacou a palavra, o que chamou a atenção do espião que ainda olhava pela janela.

- Você está … - ele nos encarou, perplexo - Acham que estou sentindo algum tipo de atração por ela? - nunca vi Azriel surpreso, mas para tudo há uma primeira vez - Pela Mãe! - ele exclamou passando as mãos pelo cabelo.

- Você nega? - Morrigan desafiou, dando um passo à frente.

Azriel agora se mostrava machucado, um cervo ferido. Ele recuou.

- O que queremos dizer - Cassian se colocou entre eles - é que não vai ser muito bom se tiver… ahn… richa territorial entre você e o consorte da Rainha que está nos ajudando. Ainda mais se for por interesses amorosos por ela.

O olhar de Az estava perdido no chão. Sem rumo. Ele não pareceu ter ouvido a tentativa de Cassian de acalmar os ânimos da conversa. Mor bufou e contornou Cass.

- Você nega? - ela perguntou mais uma vez, agora bem baixinho. Um pouco mais de meio metro a separava de Azriel.

A repentina aproximação de minha prima pareceu ter tido algum efeito nele, que levantou os olhos. Pela segunda vez essa noite, Azriel me surpreendeu mostrando uma nova face, raiva. Mas não uma raiva comum, foi raiva dirigida a Morrigan. Algo que eu nunca esperei ver.

- Sim - ele a encarou com tanto vigor que duvidava se ela podia escolher por desviar o olhar - Eu nego Morrigan - ele se ergueu completamente. Sua coluna estava ereta, até suas sombras pareceram crescer em sua volta - Eu admiro aquela mulher - ele confirmou - Mas não porque quero me deitar com ela. - Azriel lutou contra um revirar de olhos. Cassian estava embasbacado no outro lado deles. - Eu a admiro porque ela acaba de deixar de ser criança, mas passou por tanta coisa. - enruguei a testa, começando a ficar confuso - Os olhos dela a fazem parecer ser uma feérica milenar, quando na realidade é mais nova do que a Feyre. - A expressão de Morrigan se suavizou quando percebeu onde ele queria chegar, mas Azriel não parou. Ele tinha muito a falar, e isso foi um motivo que ele encontrou para fazê-lo - Ela viu seu povo morrendo, foi enganada e majoritariamente educada por um psicopata, teve os pais, amigos e familiares assassinados, foi torturada por três meses, perdeu, perdeu e perdeu. Soldados, amores, esperanças, a própria vida, até o seu poder. E ainda assim, ela sorri. E arrisca tudo de novo só para nos ajudar. - ele parou para tomar fôlego - Não vou mentir, se eu tivesse passado por isso, não teria metade da força dela. - uma risada escapou de seus lábios - Eu não tenho metade da força dela. E mesmo que tenha passado por menos coisas, eu não consigo esquecer, não consigo superar, não consigo sorrir como ela - Azriel nos encarou, um a um. - Não sinto atração por ela. Na verdade, de uma forma bruta, isso pode até ser classificado como inveja. Mas eu não quero que ela deixe de ter isso, eu só quero ter o mesmo. - ele encarava Mor agora, e por algum motivo, senti que eu e Cassian não deveríamos estar aqui.

- Az - ela chamou por ele.

- Não - ele fugiu dela. Azriel evitou o toque de Morrigan. - Não quero que você fale comigo com pena, fingindo que se importa. - as sombras começaram a envolvê-lo. Ele ia atrevessar.

- Para onde você está indo? - Perguntei antes que fosse tarde.

- Espionar. Essa é a minha função - ele encarou Cassian - Quer descobrir as habilidades dela? Vá para a sala de treino durante a tarde. Uma pessoa como ela pratica mais de uma vez ao dia. - Cass abriu a boca para responder, mas Azriel já tinha ido.

Morrigan caíu sobre a cadeira. Sua perplexidade se espelhava em meu rosto.

- É minha culpa não é? - ela pergunta sem nos encarar.

- Sim. - Cassian respondeu, sem hesitar. Mor olhou para mim, em busca de negação. Infelizmente não podia dar isso a ela.

- Em parte. - admito. Essa deve ter sido uma das vezes em que mais vi Azriel falar em toda a minha vida. Ele sempre guardou tudo para si. Nunca foi muito de conversar, falar sobres os seus tremores. Uma hora iria explodir, isso já era esperado. A surpresa foi que ele fez isso com Mor.

- Por que você faz isso? - Cassian perguntou.

- O que? - Mor ainda estava perdida em seu próprio mundo.

- Já se passaram centenas de anos, e você nunca lhe deu um ultimato. - ele explica - Sempre dando esperanças com seus ataques de ciúmes, mas então é só ele cogitar segurar a sua mão que você se fecha. Isso machuca ele, não finja que não sabe disso.

Eu queria falar alguma coisa, mas isso sempre foi um assunto entre eles três. Novamente penso que não deveria estar aqui.

- É mais complicado do que você imagina. - Mor se defendeu.

- O que é tão complicado ao ponto de você não poder decidir se gosta ou não dele? - Cassian estava determinado a tirar algo dela. Qualquer resposta que fosse. - Se está com tanto dúvida, então é porque provavelmente não existe nada.

- Cassian não fale do que não sabe. - ela grunhiu.

- Para alguém que tem o poder da verdade, você guarda muitos segredos. - ele debochou.

- Ter segredos é diferentes de ser mentirosa.

- Então me responda com sinceridade, por que você não conta a verdade ao menos para ele? - ele se curvou, e aproximou seu rosto do dela, que ainda estava sentada.

- Eu não posso. - Mor encarou as mãos.

- Mentira - ele se virou e andou para o outro lado da sala. Seus lábios continham um sorriso de irritação. - Você não quer. Isso é muito diferente.

Dois dos seres mais poderosos que conheço estavam extremamentes irritados um com o outro, em uma sala em um universo paralelo. E a única pessoa que poderia destravar toda a situação está em algum lugar tão irritada - ou mais - do que eles.

Que esplêndida situação para se estar.
 

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