Capítulo dois ✨

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Onde a única voz a ser ouvida, é a do coração.


Anne já estava na casa da árvore esperando ansiosamente a chegada de El, era o dia do aniversário da melhor amiga, e o dia em que ela daria o presente perfeito de dezesseis anos, a pulseira da amizade.

Estava tão empolgada para vê-la, que já tinha preparado mentalmente o discurso brilhante que faria assim que Enola atravessa-se a cortina de conchas com aquele sorriso ilustre e contagiante.

Mas foi diferente, naquela tarde, Enola chegou com os pensamentos acelerados e lágrimas nos olhos.

— Meu irmão decidiu mandar-me para uma escola de etiqueta.

Anne levantou-se indignada.

— Mas sua mãe não disse que seus cuidados eram responsabilidade dela?

— Ela tinha um grupo secreto feminista, e meu irmão descobriu. Ela estava pensando em interferir na votação que acontecerá em Londres — ela diz aos soluços — e agora, para não ser presa ou condenada ela fugiu.

— Sinto muito Enola — Anne lhe dá um abraço reconfortante — se você ir para a escola de etiqueta eu também farei de tudo para ir.

— Sua tia jamais a mandaria, você tem a convencido de que é uma verdadeira dama.

— Eu não sou, nunca serei uma dama modelo para a sociedade, não sei caminhar com o queixo erguido, não sei bordar perfeitamente, menos ainda sorrir com elegância. Faço isso na frente dela porque não queria me afastar de você, minha melhor amiga.

— E eu que toda essa vida pensei que ficaria sozinha.

— Não é porque sua mãe brinca com as palavras, que você deve ficar contida no significado de trás para frente. Ela te ama, e isso é suficiente.

Anne segura as pulseiras, ambas azuis, uma com a inicial E, a outra com a inicial A.

— Usaremos para sempre nos lembrarmos uma da outra — ela coloca a pulseira com a letra A em Enola.

— Obrigada por tudo Anne, sentirei sua falta quando eu for.

— Eu também sentirei sua falta El. São três anos ao seu lado, e agora só de pensar que em breve não estará mais aqui me dá uma sensação fúnebre.

— Mas eu não vou morrer — Enola sorri — e talvez, eu tenha uma ideia em andamento.

Anne franze o cenho quando Enola revela aquilo. Certamente, tinha uma grande ideia mesmo.

— Podemos fugir para Londres! — falam em uníssono.

— Minha tia estava preparando meu cortejo, mas não acho que o amor é algo premeditado. As melhores paixões acontecem de repente.

— Eu não sei se acredito no amor — Enola revela.

— Viver sem amor é tão triste, você não deveria dizer isso.

— Certo, você tem razão. Acho também que o amor é algo repentino.

— Tem certeza que vamos fazer isso? — Anne considera — e se, der errado? Não temos dinheiro o suficiente para bancar uma moradia.

— Venha a minha casa, preciso mostrar algo.

. . .

Anne e Enola correm em direção a grande casa e quando chegam, dão de cara com Mycroft junto com uma senhora com rosto fino e lábios avermelhados.

Enola prende a respiração quando observa os trajes comportados da mesma, e Anne, faz uma careta tão engraçada que a amiga não se contém, solta uma risada bem espalhafatosa.

— Onde já se viu uma garota com dezesseis anos sem um espartilho?

Enola olha para Anne que também estava sem.

— Cabelos bagunçados, roupas manchadas — a senhora continua — e quantas sardas! — ela aponta para Anne.

— Me desculpe, qual o seu nome?

— Srta Harrison — ela diz com orgulho.

— Onde já se viu uma senhorita tão velha sem um marido? E onde estão seus modos? Nunca lhe falaram que procurar defeitos nos outros e dizê-los  publicamente é uma falta de respeito?  — Anne ajeita a postura — é muito melhor ser uma garota sem espartilho me sentindo livre, a vontade, a ser uma velha senhorita rabugenta com rosto chupado e respiração ofegante por se sentir presa a um traje tão desnecessário e desconfortável!

— Agora nos dê licença — Enola diz com tanto orgulho de Anne que lhe dá a mão — precisamos passar, fomos ensinadas a cuidar da nossa própria vida. A propósito, arrumar um marido é ou não um dever seu? Porque se for, você está fazendo algo de errado com relação a você mesma.

Mycroft encara Enola como se estivesse prestes a explodir, o que deixou as duas jovens muito encorajadas a continuar os insultos a senhorita Harrison.

— Com licença — ela se retira com passos firmes e cheios de fúria.

— Você precisa urgentemente de um ensino qualificado! Onde já se viu fazer-me passar um vexame como esse? — Mycroft diz com autoridade — depois que Anne ir embora, teremos uma severa conversa. Isso se estende a você, garota mimada e enervante, sua tia saberá de suas mal criações e quem sabe não lhe manda para uma escola de etiqueta também.

— Só deixarei de ser assim se me arrancarem a língua! — Anne diz em tom desafiador.

— Enquanto tivermos voz para falar, falaremos, e enquanto estivermos a nossa opinião, falaremos também!

— Você é uma escória Enola, assim como a nossa mãe.

— E você, um ser deplorável que só pensa em si mesmo e na carreira gananciosa que escolheu, você se tornou a escória — Enola responde a mesma altura — e me faz sentir pena de você.

Em segundos Enola puxou Anne para dentro de sua grande casa.

As duas corriam exultantes por terem enfrentado aqueles dois paspalhos, alegravam o ar com as risadinhas de contentamento.

Apesar do que enfrentaram a pouco, isso era pequeno perto de todas as travessuras que já tinham vivido, e mal sabiam, que a fuga delas lhes traria uma aventura melhor ainda, mais desafiadora

Duas aventureiras, em busca da tão esperada liberdade em ser quem eram.

Garotas diferenciadas em uma sociedade tão fútil e congruente.

— Londres, aqui vamos nós!

. . .

Laços do destino - Anola Onde histórias criam vida. Descubra agora