Capítulo seis ✨

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Entre o amor e a luta.

Anne estava em um sono profundo quando sentiu batidinhas leves em seu braço.

— Anne, acorde — a voz de Enola em forma de sussurro adentrou seus sonhos com o suposto Marquês Blythe.

Anne ergueu-se com dificuldade, coçou os olhos e se deparou com El.

— O que foi?

— Só venha.

Enola segurou na mão da ruiva, já era dia, não tanto, o sol ainda estava nascendo, mas já estava claro então ambas poderiam ver se estavam pisando em buracos ou areia movediça. Não precisavam mais de ajuda.

Saíram as escondidas pisando leve para que os galhos ao redor não as dedura-se.

Quando já estavam longe o suficiente, soltaram o ar de seus pulmões com força. Seguraram tanto a respiração para que não fossem notadas, que suas bochechas estavam avermelhadas.

— Que loucura! — Anne disse por fim — eu já não aguentava mais a sensação de estar fugindo da morte.

— Que forma mais esquisita de relacionar isso, aqueles garotos não seriam capazes de matar uma mosca.

— Não conhecemos as pessoas de verdade — Anne responde.

Enola respira fundo ao lembrar de sua mãe desaparecida e todos os segredos que ela escondia, se realmente a amasse jamais teria feito tanto pelas costas - pensou.

— Realmente, não conhecemos as pessoas — falou com os pensamentos inundados de dúvidas e deduções erradas.

— Não diga isso El, sei que está pensando em sua mãe mas nós duas sabemos o quanto ela a amava. E quando a encontrarmos, ela esclarecerá cada dúvida.

— Tenho até medo desses esclarecimentos.

. . .

Gilbert acordou com barulhos esquisitos ao pé de seu ouvido. Abriu os olhos e se deparou com uma rã pequenininha, em um pulo ergueu-se acordando Tewksbury que faltou morrer de susto.

— Foi mal Tewks, essa rã estava fazendo barulhos próximo ao meu ouvido.

O outro solta uma risada debochada enquanto limpa as roupas cheias de galhos.

— Onde estão as garotas? — é a primeira coisa que nota.

Era óbvio que elas não ficariam ali, estavam fugindo de algo igual a eles.

Ambos não queriam seguir a vida de marquês que a mãe almejava, Gilbert queria ser médico, e Tewks com seus conhecimentos aflorados com relação as plantas, desejava incansavelmente seguir sua vida como um botânico.

— Eu não faço ideia — Gilbert coça a nuca enquanto olha ao redor — mas está bem claro que elas não querem a nossa companhia, então irmão, não vamos insistir — disse desanimado.

De alguma forma aquela garota ruiva, esquentada, tinha lhe deixado abobado com o coração prestes a explodir.  Mas estava bem claro que isso não tinha acontecido com ela.

— Tem razão — Tewks confessa.

Mesmo com a certeza de que Enola era a garota mais linda que havia visto em toda a Inglaterra.

. . .

Marilla discutia com Mycroft enquanto Matthew observava os dois com reprovação. Era nítido o motivo das garotas terem escolhido viver longe deles, eram pessoas tenebrosas, nem um cachorrinho gostaria de viver sob a tutela deles.

— Matthew Cuthbert, pelo bem de Anne você deve me contar tudo o que sabe.

— Oras, eu não sei de nada — ele ergue os ombros e cutuca os cabelos.

— Todos sabemos que são jovens e irresponsáveis para viver a solta sem alguém para controlá-las.

— É aí que você está errado, com todo respeito Mycroft — diz Matthew — querer ensiná-las é totalmente diferente de impor o que devem fazer.

— Está vendo por que eu não queria que Anne e Enola tivessem uma amizade? — o mais jovem diz descontrolado — a sua família é uma péssima influencia para Enola.

— Onde já se viu Sr. Mycroft? Do que está falando? pelo que eu saiba sua mãe era uma integrante do grupo feminista, isso se não era a própria chefe! E agora que Enola e Anne decidem aprontar, você vem até minha casa e tem coragem de insultar a integridade na minha família? — Marilla diz acre — se eu fosse a pobre garota abandonada, eu também iria embora, você é um péssimo irmão.

Mycroft engole em seco as palavras ofensivas de Marilla.

— Ora essa, minha família uma péssima influencia. Além de tudo continua aqui encarando-me com essa cara lavada como se o que tivesse falado pudesse ter alguma relevância. — ela veste o chale — eu não acho que o que fizeram foi certo, e continuarei desaprovando uma atitude tão insensata, mas se formos procurá-las juntos, precisamos ao menos de um pouco de respeito entre nós.

O rapaz constrangido afina o bigode e concorda em silêncio.

— Vocês vem ou não? — Marilla arruma a postura e sai frente a eles.

— Onde vamos?

— Buscar informações no trem.

. . .

Os pés das garotas latejavam, aquele pântano certamente era o mais longo que já tinham percorrido em toda a vida, apesar de ser o único.

— Já não aguento mais essa vida de fugitiva — reclamou Anne — se não tivéssemos voltado para salvar aqueles garotos toscos no vagão de cargas, já estaríamos em Londres!

— Precisávamos ajudar os mais vulneráveis. — Enola sorriu — e ainda temos um bom dinheiro, quando chegarmos em Londres ficaremos em uma pousada e tomaremos longos banhos.

— Necessito — Anne disse imaginando uma linda banheira com pétalas de rosas e sais de banho.

— A propósito Enola, os dois garotos são uma graça, você acha que veremos eles novamente?

— Gostou do Gilbert não é?

— Você não achou o queixo dele perfeito? — Anne diz apaixonada.

— Não, eu estava ocupada demais...

— Encarando o perfeito rosto de Lorde Tewksbury, Marquês de Basilwether. — Anne diz interrompendo-a.

— Repassando os pontos principais do plano, Anne — Enola revira os olhos.

— Desculpe, eu não queria te constranger.

— Está tudo bem, você tem total razão, esse marquês realmente tem um rosto inesquecível, apesar de não termos um bom começo.

— As melhores histórias de amor são escritas entre rivalidades.

— As melhores histórias de luta, são compostas por um amor impossível.

E era verdade, elas escolheram lutar.

. . .

Laços do destino - Anola Onde histórias criam vida. Descubra agora