Por pouco...
Enola voltou para dentro enquanto Sherlock preferiu esperá-los ao lado de fora.
Estava na hora de realinhar o plano, pensar em uma escapatória e acabar de vez com toda aquela briga. Ser inimigo do governo era como assinar o decreto de morte, e inevitavelmente todas as pessoas naquele pequeno cômodo escuro estavam na lista.
— Sairemos a noite, quando o toque de recolher soar. Ficaremos no sótão da casa de Mycroft, obviamente, tomaremos todos o cuidados possíveis para que ele não nos descubra. Sherlock ficará responsável por nossa segurança.
— Realmente acha que esse plano dará certo? — Anne questiona.
— Assim que estivermos dispersos seu irmão nos entregará, certamente esse plano não é bom. Pense, estaremos em um lugar perigosíssimo e ainda mais vulneráveis a qualquer ataque.
— Mycroft tem pavor de poeira, jamais subirá no sótão — Enola considerou — além do mais, confio em seus funcionários, caso nos encontre. Tenho certeza de que jamais nos entregariam.
— Essa opção é arriscada, confesso que estou bastante apreensivo — Gilbert considerou — mas se ficarmos aqui seremos consumidos pelo desespero.
— Fora a chance de sermos descobertos — Winnie falou — não podemos nos esquecer de que eles estão com nossos aliados, e inevitavelmente alguém dirá alguma coisa. Mesmo que seja doloroso, Bash não hesitaria em salvar Mary de um espancamento, certamente irão usá-los contra nós.
— Sem contar que explodiram o quarteirão com pólvora, algo que temos em abundância aqui — todos olharam para Enola que não soltou um espirro sequer desde que chegou no esconderijo.
— Precisamos sair, agora! Sabem que estamos aqui. Como somos tolos!
No mesmo instante, todos do esconderijo puderam ouvir Sherlock, falando mais alto que o normal.
— Não há ninguém aqui — ele disse em um tom convincente — acha que se estivessem aqui eu já não teria os delatado?
— Como se você fosse entregar sua irmã... Aliás, doutor Holmes, como chegou até aqui? A polícia era a única que sabia do paradeiro dos traidores.
— Sou um detetive, duvidar de meus métodos é inaceitável e ofensivo.
— Nos desculpe, nossa intenção não era ofendê-lo, contudo, ainda precisamos nos certificar de que o local está realmente vazio. Sua irmã e os comparsas são criminosos e devem ser detidos.
Sherlock abriu passagem permitindo que os homens entrassem, desconfiado, ele foi atrás, pois se tivesse que usar a força, ele não hesitaria. Sua irmã era a pessoa mais importante de sua vida e apesar de não demonstrar outrora, ainda havia tempo para fazer isso.
Seu coração vacilou ao ranger da porta se abrindo, será esse o destino final de Enola Holmes?
. . .
— Shiu — pediu Enola, levando o indicador aos lábios.
— Realmente, o galpão está vazio — um dos guardas considerou — devemos desculpas ao senhor.
— Tudo bem — Sherlock falou, aliviado — essa não é a primeira vez que desconfiam da autenticidade da minha palavra. Aliás, acho que está escurecendo e precisamos procurar em outro lugar.
— Qualquer notícia, nos comunique, Sr. Holmes.
Todos caminharam para a porta e rapidamente Sherlock a trancou com o cadeado, antes que decidissem voltar.
Enola o observou de uma pequena passagem de ar no porão e ele os acompanhou até o final do beco, depois fingiu ir para o outro lado.
Ela estava bastante nervosa, sua respiração estava ofegante e o seu coração disparado, Anne percebeu rapidamente o quanto sua amiga estava tensa, principalmente porque seus ombros estavam mais altos do que o normal.
Os aliados não estavam diferentes, a expressão de medo percorria por todos os olhares, se fossem pegos, a culpa de uma terrível catástrofe seria jogada em cima da causa pela qual lutavam.
O suspiro aliviado, diferente do que há pouco demonstrava, acalmou a todos que compartilhavam o pequeno espaço empoeirado debaixo do piso de madeira do galpão.
Sherlock voltou para o beco, e para a sorte de todos, ele estava sozinho.
Com agilidade todos saíram do porão, e esperavam ansiosos para saírem de lá, o lugar não era mais seguro, o governo já sabia onde estavam e eles temiam pelo futuro incerto.
Quando Sherlock abriu a porta, Winifred inesperadamente o abraçou, dizendo repetidamente:
— Obrigada, obrigada, obrigada.
Todos estavam surpresos, principalmente porque ela não havia demonstrado nenhum sentimento afetivo por ele, somente o desprezo.
O semblante de Sherlock não era diferente da dos outros, todos estavam surpresos, e o susto de quase serem pegos foi rapidamente substituído.
— Não a de que — ele respondeu, retribuindo o abraço de Winnie.
O silêncio permaneceu, até que eles se soltassem, e assim que a cena acabou, Enola quebrou o silêncio:
— Temos que ir logo, dessa vez foi por pouco, se isso acontecer novamente, temo que não tenhamos a mesma sorte.
O som do toque de recolher preencheu o silêncio, estava na hora de seguirem para seus novos destinos.
. . .
(Dias depois)
— Não temos mais opção — Gilbert falou — tudo está dando errado e eu não quero passar o resto da minha vida preso por algo que não fiz.
— Enola, acho que chegou a hora de seguirmos nossos rumos, vamos embora — Anne disse aos prantos — você sabe o que aconteceu com Mary, eu não posso mais perder ninguém.
— Vocês são oficialmente foragidos — Sherlock encarou a irmã — e eu já procurei provas em lugares inimagináveis, não sei mais onde posso procurar. Consigo os documentos para vocês partirem, os levarei para a embarcação e vocês serão levados por um amigo em quem confio, chegou a hora de ir embora, Enola, está perigoso demais ficar aqui.
— Qual é a sua decisão? — Tewksbury perguntou.
— Não temos escolha — Enola falou, tristemente — vamos embora, amanhã pela manhã...
— Eu sinto muito, El — Anne a consolou.
— Eu também.
. . .
VOCÊ ESTÁ LENDO
Laços do destino - Anola
FanficInício: 27/09/2020 Fim: Duas amigas que se sentem oprimidas pela sociedade em terem opiniões demais, se unem em prol de conquistar a tão sonhada liberdade de expressão. Dois irmãos, filhos de pessoas da alta sociedade, se unem para ajudá-las. Uma...