Capítulo 20

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DULCE

O olhar de Christopher estava cheio de raiva e isso me lembrou o olhar de Pablo, me fez lembrar de quando eu dizia algo errado e que o deixava bravo e logo em seguida me batia, dizia que eu era uma vagabunda e que não merecia nada, que não merecia um homem como ele. Claro que hoje em dia eu sei que não merecia mesmo, hoje sei a mulher independente e forte que sou, mas se me falassem isso há um ano atrás eu negaria. 

Foi isso o que Pablo fez comigo, me fez acreditar que ele era o único homem capaz de amar uma mulher chata e cheia de defeitos como eu, me fez acreditar que eu jamais seria capaz de me manter sozinha, de ser livre, ele não deixava eu usar maquiagem ou fazer algo diferente no meu cabelo, por mais que eu gostasse disso tudo. Eu era uma morena linda, cheia de vida, que ia para a academia quase que todos os dias, que se alimentava bem, trabalhava, estudava, se vestia muito bem... mas ele conseguiu tirar tudo isso de mim, me convencia que eu não deveria me arrumar considerando que eu já tinha encontrado alguém para amar, ele me fez perder o emprego que tinha no RH de uma empresa e quase me fez largar a faculdade. 

E ele? Bom, ele continuou trabalhando, indo para a academia todos os dias, comprando as melhores roupas, os melhores perfumes e saindo todos finais de semana para festas e bares. Eu tinha que ficar em casa me produzindo para satisfazer suas vontades sexuais e se eu não quisesse sofreria as consequências, eu apanhava com o pretexto de que homem namora pra isso mesmo e que eu era a escolhida dele, que ele me amava tanto que não poderia transar com outra e eu, ingênua e apaixonada, caía no papo. 

Hoje em dia parece ser besteira, podem se perguntar como eu fui idiota a esse ponto ou como pude me apaixonar por alguém como ele. Bom, a verdade é que nem sempre foi assim... Pablo era o homem mais cavaleiro que conheci e o amava tanto que acreditava no que ele dizia e que me amava de verdade.

Quando me dei conta as lágrimas já dominavam meu rosto, vejo que estou chorando mais do que imaginei. Afastei todos os meus pensamentos sobre Pablo e resolvi tomar um banho quente para relaxar, então lembrei que minha roupa e meu celular estão no quarto dele, mas realmente não me importo, não quero vê-lo. Coloco uma camisola curta de seda branca, escovo os dentes, deito e adormeço rápido, o que é bom já que eu estava pensando demais em Christopher.

No dia seguinte acordo sem saber a hora, logo levanto e só espero não ter perdido o café da manhã do hotel, faço minha higiene pessoal e começo a escolher a roupa. Está um dia quente e por isso coloco um macaquinho curto preto, gosto dele porque é fresco e bem soltinho no corpo, um all star preto no pé, coque frouxo no cabelo e óculos de sol já que não estou com a menor vontade de usar alguma maquiagem. Hoje à noite será o jantar que Christopher havia me convidado e nem penso em ir, já que estou aqui só porque sou acompanhante dele, então prefiro aproveitar esses dias para conhecer o lugar, aproveitar a minha própria companhia e me reconectar comigo. 

Pego um panfleto do hotel que está em cima da mesa e vejo que o café da manhã vai até às 10h, tenho quase certeza de que já está mais tarde que isso e pego minha bolsa com tudo o que é necessário por precaução, caso precise ir até uma padaria aqui por perto. Assim que entro no elevador vejo que horas são e como imaginava já passou do horário por isso vou até a recepção e pergunto para uma funcionária qual é a cafeteria mais próxima, sigo as instruções da moça e chego no local. 

Meu café da manhã foi tranquilo, pedi um misto quente com suco de maracujá com leite e enquanto comia fiquei observando as pessoas na rua, alguns turistas tiravam fotos de tudo e os cariocas trabalhando em mais um dia normal e assim que saio do lugar resolvo ir para a orla do Leblon, sempre quis passear por lá e o dia hoje está perfeito para isso. Estava caminhando pela orla quando uma moça alta, loira e de olhos azuis esbarra em mim, vejo que ela é muito bonita.

Extraña SensaciónOnde histórias criam vida. Descubra agora