Capitulo 1

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Bella Sullivan

Encosto minha cabeça no volante pensando que talvez a culpa de tudo aquilo estar acontecendo seja minha , desde que nasci, papai sempre me culpou pela morte de mamãe,  eu nunca a conheci já que ela morreu me colocando no mundo. Talvez ele estivesse certo em dizer que eu nunca deveria ter nascido,  que tudo seria diferente sem a minha presença,  mamãe estaria viva e ele também.

Desde pequena papai sempre tentou se manter o mais longe possível de mim , deixava a comida pronta e saia antes que eu chegasse e se por acaso nós encontrassemos ele me olhava com nojo e desgosto , eu chorava no quarto todas as vezes que isso acontecia e foram muitas.

Quando tive idade suficiente para ir pra escola, papai me matriculou em um internato em tempo integral , ele ia do Jardim de infância até um pouco mais que a maior idade.

Tudo no internato era rígido e com regras , não podia correr , comes doces mais de uma vez ao mês,  vestir roupas decotadas ou acima do joelho e muito menos ter contato com o sexo masculino.

Eu sabia o básico de uma relação entre homem e mulher,  mas tudo que um livro de biologia poderia me ensinar.

Sabia também que me relacionar com homens não era coisa do demônio como elas diziam até porque se fosse elas mesmas não estariam aqui porém sabia que a maioria eram nojentos e que tratavam as mulheres como uma carne no açougue.

Ouvia e via as coisas que os amigos de papai falavam nas poucas visitas que o internato obrigaram meu pai a me buscar , via seus olhares estranhos direcionais a mim cada vez que voltava lá.

E nessas poucas vezes mal trocava palavras com papai , ele estava sempre bêbado xingando e gritando aos quatro ventos o quanto eu era inútil.

Tentava ignorar , pensando que ele estava assim por ainda não ter superado a morte de mamãe e que um dia ele me olharia com carinho como eu via os pais olhando suas filhas na rua.

Eu fui crescendo e aos poucos via meu pai cada vez mais doente , bebendo e fumando , tentei falar com ele mas sempre recebida com gritos.

Quando completei dezoito esperava sair do internato e enfim tentar ter uma relação com papai mas ele fez de tudo pra me manter lá o maior tempo possível.

E então continuei no internato alguns meses até que recebi a notícia que papai havia falecido com um câncer no pulmão.

Eu havia desabado , imaginando o que seria de mim sem ele , mesmo sabendo do seu ódio por mim ele era minha única família,  mamãe foi filha única e perdeu seus pais depois de se casar,  já papai tinha somente um filho mais velho que eu , antes de conhecer minha mãe mas que acabou não ficando com ele e sumindo no mapa.

Eu não o conhecia e no momento não tinha esperanças de o encontrar,  sabia que estava sozinha e no momento sem teto.

Logo após a morte de papai fui despejada do internato por não ter dinheiro pra pagar , não que eu quisesse continuar ali, mas papai não havia deixado sequer nossa casa pra mim.

Então fiquei somente com o fusca velho que ficava na garagem e algumas roupas de mamãe que foi o que conseguir salvar dela.

Rodei a cidade a procura de um emprego mas eu não possuía experiência e muito menos uma casa pra ficar.

Dormia no carro mas o tempo na California a noite não me ajudava muito , sobrevivi de algumas migalhas de restaurantes que sentiam pena da minha situação ou peso na consciência por não me contratar.

Hoje nesse exato momento eu estava parada no meio de uma estrada deserta  com uma floresta já assustadora pelo horário e escuridão pensando que talvez eu realmente não deveria ter nascido, tudo seria mais fácil.

Ali com a cabeça encostada no volante pensando o que eu faria se nem um carro funcionando eu tinha mais.

No mesmo segundo escuto risadas e penso que estou enlouquecendo_ Não seria algo surreal de acontecer no momento

Mas novamente escuto as risadas mas elas parecem estar cada vez mais perto , levanto minha cabeça e ao longe vejo um grupo de aproximadamente cinco homens provavelmente bêbados imagino pela forma exagerada das risadas e o andar cambaleante,  me lembro dos amigos de papai e um arrepio corre pelo meu corpo.

Os vejo cada vez mais perto e imagino que ao constatarem que estou aqui não passariam reto, a ideia deles me abordando me faz tremer com a possibilidade.

Eu sabia que eles poderiam fazer muito mais do que me roubar ou me bater e isso fez meu coração acelerar , minhas mãos temerem pensando em algo que me deixasse o mais longe deles.

Olho no carro procurando algo para me defender e encontro só alguns papéis no porta luvas.

Começo a me desesperar ao vê-los a alguns metros de mim rindo alto e sorridentes.

Olho ao meu redor e vejo aquela floresta assustadora aos meus olhos , volto meu olhar para aqueles homens e a ideia de ser jantar de algum animal feroz me parece melhor do que qualquer coisa que vá acontecer comigo caso aqueles homens coloquem as mãos em mim.

Tento ser o mais discreta possível ao ver eles a uma distância pequena de mim , olho para eles que parecem me perceber do lado de fora , viro meu olhar para floresta e não penso muito,  correndo em direção a ela , ouso a risadas deles e passos pesados vindo atrás de mim.

__Ahh gracinha por que correu?? _ ouso uma gargalhada de um deles

__É meu anjo ! Só queremos brincar um pouco _ o outro diz

Sigo correndo já dentro da floresta ouvindo as coisas nojentas ditas por eles.

A minha única vantagem era meu tamanho que facilitava a minha passagem pelas árvores e galhos que tinha ali.

Depois de alguns minutos que pareciam horas correndo, olho pra tras e não vejo sinal ou qualquer barulho que possa vir deles , então imagino que devem ter desistido ou se cansado de me perseguir já que estavam bêbados demais até para se manterem em pé.

Mesmo tendo quase a certeza de que eles não estavam mais atrás de mim , não ouso voltar pra lá e sigo andando sem rumo pela floresta que pareceu ficar mais assustadora agora que não estava correndo feito louca por aí.

Continuo andando sem rumo sem saber realmente o que estava fazendo,  mas com medo demais para parar em qualquer canto daquela floresta.

Depois de provavelmente uma hora andando , vejo ao longe uma luz , como lâmpada o que acho estranho no meio do nada , sigo até lá sem pensar nas consequência e vejo talvez a minha salvação.

Uma cabana não muito pequena ali , no meio do nada , fico indecisa se devo ir até lá ou não mas meu instinto de sobrevivência e minha barriga doendo me empurra até lá.

Paro em frente à porta indecisa se devo ou não bater , mas minhas pernas trêmulas e doloridas me dão coragem.

Bato na porta esperando por um velhinho ou velhinha me atenda mas ao  ver a porta ser aberta tenho certeza que meu instinto de sobrevivência só me colocava em problemas.

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