Capítulo 12

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Eu havia retirado a porta destroçada e estava do lado de fora, em frente ao buraco que ficara na parede, serrando um pedaço grande de madeira. Betty estava sentada em um banco há uns passos de mim e me observava trabalhar.

Louise havia feito suco de laranja fresco e Betty e eu estávamos terminando de tomá-lo quando uma mulher apareceu.

Ela era magra e alta, com longos cabelos castanhos presos em uma trança e grandes olhos escuros. Parecia um pouco desajeitada. Ela entrou pela outra porta da cozinha e sem bater. Quando começou a falar, notei que sua voz era estridente.

- Louise, o que houve aqui?! - Ela cobriu a boca com as mãos e arregalou os olhos quando me viu do outro lado. Ela ficou calada, me encarando. Eu já estava ficando sem graça com a situação, quando Louise se colocou entre nós dois.

- Inez, já pedi inúmeras vezes que bata antes de entrar. Eu poderia estar nua!

Inez gargalhou.

- Com um homem daquele bem ali eu não estranharia.

Louise puxou-a rapidamente pelo braço e foram para o outro lado do cômodo, mas eu ouvira bem o que Inez dissera. Não sabia o que sentir sobre o tal elogio, ou suposto elogio, mas a reação de Louise me intrigou.

As duas ficaram cochichando no canto do aposento e eu já não podia mais ouvir o que diziam.

Betty se levantou e parou ao meu lado.

- Vou descobrir o que estão falando e te conto.

Ela deu uma risadinha e saiu.

Continuei medindo a madeira e serrando pedaços para que ela ficasse do tamanho certo.

Em alguns minutos, Betty voltou e se ajoelhou ao meu lado.

- Inez te achou bonito e perguntou se você é namorado da mamãe.

Aquilo me deixou sem graça, mas Betty não percebia essas nuances e então prosseguiu:

- Mamãe disse que não e que logo você vai embora. Inez disse que vai quebrar a porta da casa dela e te chamar para consertar só para você ir lá por umas horas. - Ela fez uma pausa, pensativa. - Hanzo, não namore Inez. Ela é mexeriqueira. Namore minha mãe, Hanzo. Ela é linda como uma boneca e é muito legal, e aí você pode ser meu pai. O que acha?

Fiquei sem reação. Não sabia como explicar a situação para Betty de forma que ela entendesse e não se magoasse.

- Betty, eu...

- Não se preocupe. Quando Inez for embora, eu falo com a mamãe. Ela vai dizer sim, tenho certeza.

Nem tive tempo de dizer qualquer coisa. Betty se levantou e correu para dentro.

Inez surgiu na porta e se ajoelhou ao meu lado.

- Hanzo, não é? Sou Inez. Sabe, tenho alguns problemas em minha casa...

- Senhorita Inez, não quero parecer rude, mas esse não é meu trabalho. Sou um viajante. Não ficarei por muito tempo. Sinto muito não poder ajudar.

Ela sorriu.

- Ah, entendo. Tudo bem. Bom, de qualquer forma, ficarei para o almoço para que possamos conversar mais e nos conhecermos melhor. Talvez, quando passar por aqui novamente, possa se hospedar em minha casa. - Ela abriu um sorriso malicioso.

Louise, que estava ao fundo ouvindo tudo, imediatamente se aproximou e fuzilou Inez com o olhar.

- Inez, não poderá almoçar aqui hoje. Temos muito o que fazer e nem sei se farei almoço...

- Não tem problema. Todos podem ir almoçar na minha casa então.

- Não! - Louise a interrompeu abruptamente e, quando se deu conta disso, suas bochechas coraram. - Não... É... Inez, ouça, é que queremos um almoço só para nos três hoje. Betty gosta muito de Hanzo e quer poder passar um tempo só com ele, se é que me entende.

Inez se colocou de pé e encarou Louise.

- Louise, você me disse que não tinha nada com esse homem.

- E não tenho!

Inez colocou as mãos na cintura.

- Te conheço, Louise. Mas tudo bem. Eu vou. Depois me conte tudo.

Inez saiu rindo e Louise olhou para mim ruborizada. Não queria que ela notasse que a cena havia me divertido, então mantive minha expressão o mais séria possível, mas mais uma vez a reação de Louise me intrigara e o que mais me assustava era que eu realmente estava sentindo vontade de estar cada vez mais próximo dela.

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