Capítulo 1

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Eu já estava longe, mas não sabia exatamente onde. Havia viajado milhas e milhas em poucos dias, muito mais do que eu já havia feito ou pensado em fazer. Durante cada minuto, só pensava no meu clã dizimado. Eu havia tentado reconstruí-lo após tudo o que havia ocorrido, mas falhei mais uma vez. Era mais uma culpa para meus ombros levarem.

Eu estava em um lugar muito bonito agora. Um dia nublado repousava sobre uma paisagem bucólica e cheia de flores diferentes das que eu estava habituado. Ouvia-se ao longe o barulho do mar, mesmo que eu não pudesse vê-lo de onde estava.

Encontrei uma macieira e me estiquei para colher uma maçã. Após examiná-la por um momento, concluí que era boa e me sentei para comê-la. Me aconcheguei na grama e me recostei no tronco da árvore. Fechei os olhos e dei a primeira mordida na fruta, mas o silêncio foi quebrado por uma voz doce de criança.

- Essa maçã é da árvore da minha mãe. - A garotinha colocou a mão na cintura e me encarou. Ela aparentava ter uns cinco anos, tinha a pele alva e longos cabelos loiros presos em duas tranças.

Imediatamente me lembrei de Satoshi.

- Me desculpe. - Estendi a maçã mordida para ela.

- Eu não quero ela. Está mordida. - Ela riu. Sua risada ela doce e melodiosa. - Você deve estar com fome, então pode ficar com ela. Lá atrás tem mais frutos, pode comer mais alguns.

Não pude conter a risada.

- Obrigado pela gentileza.

- Por nada. Você realmente está com cara de fome.

- E como pode ser tão óbvio?

- Você está com cara de mau humor, e mau humor é fome. Você acabou de rir, então é sinal que a maçã está ajudando. Coma todos os frutos que te falei para ver se sua cara de bravo muda.

Ri novamente.

- Tem água? - Ela me encarava com um ar sério, como uma adulta me dando ordens.

- Tenho um pouco.

- Pois fique aqui, homem faminto. Vou trazer um pouco de água fresca para você.

A garotinha se afastou com passos firmes. Fiquei um tempo processando a cena que acabara de acontecer. Pela primeira vez em muito tempo, uma centelha se acendeu em meu peito, e fiquei uns minutos saboreando aquela sensação há muito esquecida.

I AM A FIREOnde histórias criam vida. Descubra agora