Acordei. O sol iluminava fraquinho meu quarto, o que significava que não seria um dia tão quente e nem tão frio. Vesti uma calça jeans e uma polo.
Tomei meu café da manhã solitário, escovei os dentes e fui pro hospital.
Estava decidido a não ver Mélanie hoje. Mas sabia que seria uma tarefa difícil, pois eu não estava bravo com ela, era ela que estava brava comigo. Parece meio complicado, na verdade é mesmo, mas ninguém disse que entender o mundo era fácil, entender as mulheres muito menos.
Estava tão distraído comigo mesmo que nem sequer percebi que já estava na porta do hospital. As vezes quando estou distraído parece que meus pés me levam ao lugar que quero ir, automáticamente, como se fosse um GPS ou um piloto automático.
Entrei e vi a recepcionista chata. Será que se eu passar bem quietinho ela não vai me notar ?
Bom, não custava tentar. Me agaixei bem de leve e andei sorrateiramente.
-O que está fazendo o metido a médico? -Droga! Ela parece que sente a minha presença.
-Só estou com um pouco de dor nas costas. Durmi de mal jeito.
-Essa sua desculpinha ridícula não funciona aqui. Se não notou estamos num hospital.
-Se não notou eu não sou estúpido. Sua metida a burra! Ah pera você não se faz, você é burra! -joguei para machucar, não aguenta mais essa garota.
Ela pareceu ofendida e saiu correndo dali. Estava chorando.
O que eu tinha feito? Não gostava dela mas não precisava ter feito aquilo. Eu sou um mostro, sou uma pessoa horrível. Como pode uma única pessoa conseguir magoar todos a sua volta?
Me sentia péssimo, e notei então que todos que estavam ao meu redor me olhavam com desprezo. Eu realmente não sabia o que fazer agora. Ela não aceitaria minhas desculpas.
Ainda estava parado em choque no meio da recepção quando alguém colocou a mão no meu ombro.
Era o senhor Zimmerman, ele me olhava com um olhar acolhedor.
-Me acompanhe garoto. -ele foi até a pequena sala onde deixava meu jaléco e minha prancheta. Fui atrás dele.
Quando entramos na sala ele se sentou em uma cadeira e puxou outra à sua frente para mim.
Me sentei mesmo sem ele ter pedido.
-Olha eu sei que você não teve culpa. A recepcionista irrita à todos nós, a Mélanie está sempre nos surpreendendo com novos comportamentos, mas quando se trabalha num hospital você tem que aprender a manter a calma.
Eu não olhava-o, mas ouvia atentamente a cada palavra sua.
-Se não estiver se acostumando, pode sair. Mas sempre será bem vindo.
Eu sabia que não era verdade. Jamais seria bem vindo aqui, não depois de tudo o que já fiz.
-Talvez seja melhor para todos que eu saía. -Eu não queria, mas parecia ser a única coisa certa a fazer.
-Para se ter sucesso nesse mundo, é preciso ou ser louco ou ser sábio.
-Barão de Montesquieu. Mas o que isso significa?
-Significa garoto, que a vida vai te testar o tempo todo. O importante é isso: Estar pronto para, a qualquer momento, sacrificar o que somos pelo que poderiamos vir a ser.
-Charles Du Bois.
-Vejo que alguém andou fazendo a lição de casa.Ele conseguiu, não sei bem como mas ele conseguiu: me convenceu a ficar, a lutar, a não desistir e o mais difícil, ele conseguiu me animar um pouco.
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A Cura Está Na Morte.
Ficção GeralA cada dia algo está mais próximo de acontecer. Nem sempre são coisas boas, mas cabe a nós saber recebe-las. O destino não é bonzinho com ninguém, mas somente os fortes são capazes de receber suas maiores recompensas.