TALVEZ EU GOSTE DE VOCÊ!

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Acordei na manhã seguinte com energia e entusiasmo. Hoje começaria minha pesquisa, mas antes íria até o hospital ver Mélanie.

Tomei café, denovo sem meus pais, essa solidão doía no fundo da alma. Mas não queria pertubá-los, já era difícil ter uma filha pequena morta, ver a cara do assassino na sua casa deveria ser pior. Terminei, escovei os dentes e fui ver Mélanie.

***

-Hoje é domingo. Não vai ganhar bonus por aparecer aqui nos fins de semana. - a recepcionista petulante estava lá. Sempre me esquecia dela.

-Vai te catar. -xinguei baixo.

-O que disse!? -acho que não foi baixo o suficiente.

-Não estou aqui a trabalho nos fins de semana.

-Veio visitar a orfãnzinha ou arranjar uma nova encrenca? Cuidado ela pode não querer te defender desta vez. -Será que alguma lei me proibia de bater numa recepcionista? Era melhor não arriscar, eu não daria esse gostinho a ela.

-Você não sabe nada sobre ela, e não ouse chamá-la assim novamente! -disse um pouco alto de mais e atraí olhares curiosos.

-Calma, eu só queria saber o que você viu nela que não viu em mim. -Ela mascava aquele chiclete de boca aberta, usava uma mini saia e uma blusa que serviria na minha irmã.

-Respeito. Foi isso que vi nela. Coisa que você jamais conseguirá ter.

Me virei e saí andando.

-Estão namorando? -ela gritou.

-Ahh, pode apostar! - disse sem parar de andar para o corredor.

Porque eu disse aquilo? E se Mélanie descobrisse? Será que se ofenderia? Eu... não sei porque mas aquelas palavras se encaixavam tão bem. Acho que eu, gostava da Mélanie. Ela era bonita, educada, e me entendia. Será que eu deveria pedi-la em namoro? Era muito cedo, ela se assustaria. Provavelmente pensaria que eu era um maníaco que queria se aproveitar de sua fragilidade.

Na hora que parei em frente a sua porta, esqueci tudo o que estava pensando. Bati três vezes na porta.

-Entra! -Mélanie gritou de dentro do quarto. -Adriel! O que faz aqui?

-Vim te ver.

-Não está de jaleco.

-Não vim trabalhar, eu vim TE VER.

-Porque?

-Não sei.

Ela riu.

-Adoro quando vem me ver. Fora os médicos e enfermeiras, é minha única visita.

-Acabei de ser comparado a uma enfermeira? Acho que vou embora.

-Não! Não, não vá. Desculpa, olha eu to arrependida. - ela se desesperou.

Eu ri.

-Você não ia embora, ia?

-Não. Mas seu desespero é uma graça. -disse rindo.

Ela fez uma careta pra mim que saiu extremamente fofa.

-Faz isso com seus outros pacientes? Vai vizita-los nos fins de semana?

-Não. E eu não sou médico, não tenho "pacientes" .

- Então porque a exclusividade?

-Gosto de você.

-Que!?

-Anh, eu disse que gosto do seu caso, é o mais interesante para estudar.

-Ah. -ela disse meio cabisbaixa.

O que eu tinha feito de errado?

-Então o quer saber hoje? Sou apenas isso um objeto de estudo.

-Não Mélanie, não foi isso que eu quis dizer.

-Então o que foi que quis dizer?

Estava certo de que me arrependeria mas precisava tentar.

-Eu quis dizer que gosto de você.

-Já disse isso! Gosta de me estudar. O que você queria dizer?

-Eu quis dizer que não estou nem aí com essa doença, quis dizer que nunca nem pensei em ser médico, quis dizer que EU GOSTO DE VOCÊ! -Disse quase gritanto, acho que o desespero tomou conta de mim. Sabia que me arrependeria. Mélanie me olhava assustada. Eu tinha estragado tudo.

-Você não pode. -ela disse tão baixo que eu quase não ouvi.

-Como?

-Eu disse que você não pode! -era ela quem havia gritado dessa vez.

-Porque? Quer controlar o que eu posso ou não sentir? Mélanie eu não escolhi gostar de você, eu simplesmente gosto.

-Pois devia parar. -nós dois gritavamos.

-Se eu não quizer?

-Para, tá bom, para, você não pode gostar de mim, porque se gostar eu posso acabar gostando de você também e todas as pessoas que gosto sempre acabam me abandonando!

-Eu não vou fazer isso.

-Não, não vai. Porque eu não vou deixar isso acontecer. Saía Adriel, e não volte, eu não posso me apaixonar, sou uma bomba que pode estourar a qualquer minuto, e não quero te machucar quando isso acontecer.

-Você não vai. E eu jamais desistirei de você!

-SAÍA ADRIEL! -ela berrou, e desta vez uma enfermeira entrou no quarto e me forçou a sair.

Fui embora, mas não desistiria dela. Se ela era uma bomba, eu a desarmaria.

Passei em casa peguei meus livros e cardeno, com todas as minhas anotações. Em seguida fui ao lago. Tomei cuidado para não ser visto. Não tinha ninguém. Fui até a barraca e juntei minhas anotações às anotações que encontrei.

Passei a manhã e a tarde todinha, estudando. Descobri que o pesquisador não estava muito longe. Mas faltava um cálculo, um cálculo específico para que desse certo. Peguei meu caderno e fui até minhas anotações de cálculos, não tinha como saber qual deles usar. Então a melhor forma de estudar química era testando. Começei com o primeiro, seguiria a ordem dos cálculos que tinha em meu caderno. Larguei as coisas na mesa e fui buscar pelos materiais.

Peguei folhas de eucalipto, de babosa e de arnica. Tentei as misturas com o primeiro método. Mas o cálculo estava errado e acabou que eu me queimei com o ácido da babosa. Peguei outras amostras das plantas e tentei de novo mas ela meio que explodiu na minha cara. Peguei outra amostra e continuei, cada vez com um novo cálculo que definiria a quantidade de matéria que eu usaria.

***

Após ter ficado a tarde toda lá. Eu já estava cansado e não aguentava mais. Deixaria para continuar amanhã. Eu tinha ido até um terço da lista. Vi que estava tarde pois lá fora estava escuro. Eu não tinha reparado pois usava alguns lampiões para iluminar.

Deixei tudo do jeito que estava, e fui embora. Cheguei um pouco tarde em casa, mas não tinha dado o horário de meus pais chegarem do trabalho. Sei que não se importariam com isso, mas talvez lá no fundo, ainda se importassem, e eu não queria deixá-los preocupados.

Subi até meu quarto e notei que já haviam removido todas as cameras internas. Talvez não se importassem mais.

Deixei esse assunto de lado e fui tomar banho, estava tão cansado que dormi tão rápido a ponto de nem perceber.

A Cura Está Na Morte.Onde histórias criam vida. Descubra agora