1- 𝙑𝙖𝙢𝙤𝙨 𝙟𝙤𝙜𝙖𝙧!

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Parte 1

Aos dez anos, Mo Guan Shan era responsável por Fang Shan, a sua irmã mais nova. A sua mãe trabalhava noite e dia e por esse preciso motivo Guan Shan adquiriu com o decorrer do tempo habilidades domésticas para a ajudar a progenitora a poupar o seu horário.

Dois anos depois a sua irmã foi diagnosticada com Leucemia, dificultando as coisas para o lado da mãe que não tinha um bom salário para pagar a hospitalização da filha, ainda que tivesse dois empregos e uns extras aqui e ali. Então aos 13 anos Mo começou a trabalhar a part-time numa loja perto da escola que frequentava, de modo a facilitar o pagamento do hospital no final do mês. Na época do verão, quando todos os seus colegas compravam o que tinham vindo a guardar para a altura, Mo Guan Shan continuava a laborar. Sem férias, sem dinheiro para comprar aqueles ténis na moda e muito menos paciência para o próximo ano letivo.

Mo não tinha amigos, era uma alma solitária, porém essa espirito abandonado adorava armar confusão por conta de um acontecimento passado conectado com o seu pai, que de alguma forma lhe abalou o psicológico, este que também preso não podia ajudar no sustento dos filhos, não tendo alternativa se não deixar esse peso nas mãos da esposa.

Guan Shan também não era um aluno exemplar, tirava más notas, mas vez ou outra safava-se... Tinha agora dezesseis anos e ainda mantinha a mesma rotina desde o seu aniversário de treze: Levantar às 7:10, Escola, trabalho, casa, ajudar mãe, folgas aos fim de semana, visita à irmã e ao pai aos domingos...e se desse, estudar no sábado... Se desse, não que tivesse algum apetite honestamente. Aniversários? Festas? Já nem sabia o que isso era. Sabia a conta exata da sua idade, mas também reconhecia as suas prioridades no momento.

Mo não desprezava o pai, pelo contrário ele queria que esse fosse orgulhoso de si, Que abrisse os olhos para as suas atitudes. Ele não culpava o pai sobre o acontecimento passado, mas também não sabia ao certo o que havia ocorrido naquele dia, todavia, tinha a certeza de que o pai era inocente. Se bem que, para falar a verdade, o ruivo nunca tinha a certeza de nada.

(. . .)

Mo Guan Shan saía de casa naquele domingo ofegante, era final de verão, e as férias que tivera não tinham sido as habituais férias de qualquer estudante. Mo também não era qualquer aluno. Mo trabalhava durante a semana, porém não era algo com que ele se importava, desde que mantivesse a irmã viva, assim ele o faria até ao fim. Até que finalmente aquelas máquinas, fios e cama deixassem de estar conectadas à sua querida irmã, tão nova e sã, ali feita reclusa.

Quando pisou nos paralelos da entrada do prédio revirou imediatamente os olhos com calor insuportável da parte de fora, tinha a certeza que as suas glândulas sudoríparas iriam trabalhar muito naquele dia dos 4 meses que ele mais odiava. Admirava mais do inverno e o clima frio, gostava da sensação de chegar a casa e sentir-se confortável ao pé da lareira da sala, a qual a mãe tinha o cuidado de acender assim que vinha do seu segundo ou terceiro trabalho, ou se até havia um quarto.

Deu mais um passo em frente e esperou que o sinal verde mudasse para vermelho para que assim ele passasse para o lado de lá da rua, onde iria continuar o seu percurso até ao hospital que não era tão longe do apartamento onde morava, mas que naquele dia parecia tão longo como a fachada litoral de qualquer país que ficasse na ponta de um continente...

Todavia, durante vários protestos mentais ele finalizou o caminho até ao hospital e passou as portas automáticas finalmente entrando no edifício, onde era obrigatório o uso de máscara para quem lá fosse fazer visitas. Mais uma vez levantou-se uma avalanche de discussões na cabeça do ruivo que, sinceramente, se dividia em dois. O ruivo protestante e o ruivo 'deixa para lá'.

"𝙇𝙞𝙫𝙞𝙣𝙜 𝙄𝙨𝙣'𝙩 𝙁𝙪𝙘𝙠𝙞𝙣𝙜 𝙀𝙖𝙨𝙮" - ᵗⁱᵃⁿˢʰᵃⁿ 19ᵈᵃʸˢOnde histórias criam vida. Descubra agora