3- 𝙋𝙖𝙧𝙚𝙙𝙚𝙨.

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Domingo, o dia predileto do ruivo, dia em que costumava visitar a irmã ou o pai, homem que já não via há algum tempo, mas para o qual não iria ser dedicada aquela saída. Mais uma vez preparava-se para uma ida ao hospital, de modo a ir espreitar a vida da irmã mais nova, também a única que tinha. Era o único motivo que tinha para se expulsar de casa ou da sua rotina.

Ao contrário dos outros dias de Setembro, esperava-se chuva. O temperamento do ruivo ficava relativamente melhor em relação aos dias sufocantes da estação mais quente do ano...Ainda que esta já tivesse quase no seu ápice.

Passava a estrada para o outro lado quando o sinal mudou para o vermelho, e entrou rápido no hospital, por conta das pingas que ameaçavam cair naquele final de tarde. Sendo recebido pela velhota do costume.

Nesta vez, o hospital tinha corredores lotados de indivíduos que, vinham visitar os pacientes, familiares ou amigos... ou até mesmo os próprios pacientes que passavam no corredor com os trajes do hospital... um desses últimos deixou-o alerta.

Lembrava-se dos seus olhos, da sua altura e da sua estrutura corporal. Todo ele encaixava-se num perfil que havia presenciado anteriormente em alguma ocasião. Este caminhava em direção ao quarto 520, despertando assim ainda mais atenção do ruivo. Mo Guan Shan acelerou o passo até à porta, que já tinha sido fechada na sua cara pelo desconhecido que acabara de entrar no quarto. O rapaz nem se apercebeu da presença de um terceiro e acabou por quase trancar o nariz do ruivo na frecha da porta.

Com a testa distorcida e com as sobrancelhas completamente cerradas, abriu a porta bruscamente olhando abismado a cena lá dentro...

Sabia que agia sobejamente, não tinha de ficar assim necessariamente, mas não conseguia evitar os seus instintos. Algo lhe gritava nos ouvidos, para ser mais transparente, a sua cabeça não parava de funcionar, e isso estava a matá-lo aos poucos. Todavia, acabou por relaxar um pouco a sua expressão mal disposta ao ver a sua irmã a jogar algum outro jogo de cartas com o indivíduo enquanto se riam e faziam cada um a sua batota, acusando-se de seguida caindo às gargalhadas...Ele ainda estaria parado na porta surpreso se a ruiva não o chamasse à atenção.

-Mo!- Ela chamou, apontando de seguida na sua direção e virando a cara para o fulano de cabelos pretos.- O meu irmão de quem tanto te falei.

-Olá.- O de olhos acinzentados apertou um pouco as sobrancelhas. -Hmm eu conheço-te...És o rapaz da caixa.- Um sorriso escapou dos seus lábios depois de o reconhecer.

Sorriu por se lembrar dos gestos que o outro fizera, principalmente quando cheirou a nota que lhe dera sem ser nem um pouco discreto ao passá-la pelo nariz.

O ruivo ainda estava quieto no mesmo sítio, e o sorriso do rapaz à sua frente morreu quando reparou no seu estado. Parecia que toda a gente fazia esse gesto quando via o ruivo, o rapaz da loja, a sua irmã, a sua mãe, o seu pai e até ele mesmo quando se encarava no espelho.

A verdade é que Mo ainda se lembrava de cada detalhe daquele dia e no que ele iria corroer no mesmo, o que podia ter lhe mudado a vida toda e provavelmente não dar chances para que o rapaz à sua frente sofresse qualquer mudança na sua, a qual iria roubar de forma inoportuna se este agisse mais bruscamente levantando suspeitas. O dia que provavelmente iria fazer uma visita prolongada ao pai, talvez poderia ser um castigo depois de ter ficado meses a ignorar a sua existência.

O jovem rapaz de cabelos pretos levantou a testa em reação ao estado contemplante do ruivo, fazendo este dar um passo atrás, ainda com a cara nitidamente pálida. Foi então que deu conta da sua figura e recompôs-se. entrando de vez na sala fechando a porta atrás de si. Não se ia mostrar fraco, tinha de enfrentá-lo ainda que fosse difícil essa simples tarefa.

"𝙇𝙞𝙫𝙞𝙣𝙜 𝙄𝙨𝙣'𝙩 𝙁𝙪𝙘𝙠𝙞𝙣𝙜 𝙀𝙖𝙨𝙮" - ᵗⁱᵃⁿˢʰᵃⁿ 19ᵈᵃʸˢOnde histórias criam vida. Descubra agora