10- 𝘿𝙤𝙣'𝙩 𝙘𝙡𝙤𝙨𝙚 𝙢𝙤𝙪𝙣𝙩𝙖𝙞𝙣.

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Dois dias depois, Mo Guan Shan despertou com um cheiro que lhe invadiu as narinas e esse odor era levemente acompanhado pelo cheiro da comida em cima da cómoda ao seu lado. Aos poucos ia abrindo os olhos acastanhados e ia contemplando onde estava, mas quando desconheceu o local onde acordava ficou frenético em cima da cama.

Cama essa era enorme e de forma redonda, nunca tinha visto uma igual. Os lençois eram incrivelmente fofos e aconchegantes, nada comparados com os da cama onde diariamente dormia. Ao redor podia-se ver a mobília tradicional de madeira com um toque de modernidade, apesar de ainda manter os seus traços antigos com algumas gravuras esculpidas. E do lado direito estava uma grande janela que ocupava aquela parede e de onde se via uma mata com tons de outono. Por fim, do lado oposto estavam duas portas de correr chinesas, a saída.

No fundo da cama estava uma muda de roupa cuidadosamente dobrada, sem qualquer arremesso. Também ao fundo do quarto havia outra porta que aberta dava a visão de uma casa de banho.

Pôs-se em pé e depressa se encolheu ao sentir uma dor aguda na sua barriga. Não comia desde o dia anterior, constatou que se calhar nem há dias comia. O chute que He Tian lhe dera não ajudara na dose...

Calmamente e aos tombos, andou até à casa de banho e posicionou-se em frente do espelho levantando a camisa desconhecida que vestia.

Os seus olhos ficaram esbugalhados ao verem no seu reflexo uma nódoa quase preta que lhe cobria parte do abdómen.

Só de pensar no moreno os seus nervos ferviam. Não queria pensar nele, não o queria ver e não queria cegar-se outra vez... mas parecia tudo tão impossível. Não pensar nele era o que menos fazia. O moreno tomara a sua mente de graça e se acomodará lá. O ruivo apenas queria negar tal sentimento, não tinha tempo nem bolas para isso. Nem acreditava que aquilo lhe estava a acontecer -com um homem- , francamente era o que o mais assustava.

Ao pensar nisso enganava-se a si próprio. Aquele sentimento não requer tempo, tal como não necessitou dele quando surgiu na primeira vez. Quando ele havia surgido?

Abriu a água quente do chuveiro e ali se enfiou debaixo da corrente. Não se mexia, só deixava a água tomar conta do seu corpo e banhar as sardas enquanto ainda pensava.

Era verdade, Mo Gua Shan pensava muito. Essa era a pior das suas manias. E aquela água, por mais forte que fosse a corrente, não levava consigo também aqueles pensamentos. Nem as imagens e sentimentos que tinha do moreno. Ainda que se metesse debaixo do barulho que a pressão da água fazia-lhe nos ouvidos a sua cabeça apaziguava.

E pensou, mas pensou em He Tian outra vez.

Odiava pensar em He Tian. O que Mo Guan Shan não compreendia era o porquê de também amar fazê-lo.

Aquele banho fê-lo entender que o fazia por gostar dele, de facto, mas também por a imagem dele o fazer esquecer de outros problemas correntes na vida do ruivo...problemas que até ali se mantiveram estáveis... Julgava ele.

O pior erro que ele cometeu foi conhecer He Tian.

E problemas bem piores aí viriam.

(. . .)

Um batuque na porta ecoou pelo quarto. Mo Guan Shan não mexeu um osso da cama para ir abri-la e do lado de lá, ouviu-se um "vou entrar" de uma voz com que já estava familiarizado muito infelizmente.

Apenas o movimento de correr da porta foi o tempo suficiente para o ruivo atravessar o quarto e arrastar He Tian para dentro com brutalidade.

Pensou em bater-lhe e assim o fez vezes sem conta.

"𝙇𝙞𝙫𝙞𝙣𝙜 𝙄𝙨𝙣'𝙩 𝙁𝙪𝙘𝙠𝙞𝙣𝙜 𝙀𝙖𝙨𝙮" - ᵗⁱᵃⁿˢʰᵃⁿ 19ᵈᵃʸˢOnde histórias criam vida. Descubra agora