5- 𝙀𝙡𝙚 𝙚́ 𝙡𝙖𝙧𝙖𝙣𝙟𝙖

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O corredor tornava -se mais apertado à medida que avançava até à sala de espera daquele sítio, o qual já não punha os pés há bastante tempo por o ter evitado. Os restantes que estavam à espera olhavam os outros sem dizer nada e suspirava quem já lá estava há muito tempo. Esse fato fez o ruivo revirar os olhos pois não teria paciência para ficar à espera igualmente.

Passaram-se uns vinte minutos e a sala ficou com apenas a sua presença.

Quando já havia passado meia hora no seu relógio, o penúltimo a entrar saiu e ele foi chamado. O seu coração parecia-lhe sair da boca, não estava preparado para falar com o pai, além disso, não sabia o que lhe dizer, quase nunca sabia, então maior parte das vezes só ficavam a olhar um para o outro. Que sentido fazia isso?

O vidro que os separava parecia mais um muro, o telemóvel, o seu único meio de comunicação, estava pendurado na parede e foi pego por ambos assim que se sentaram. Mo Guan Shan respirou algum ar antes de começar a falar com o seu pai que do outro lado estava sentado.

-Olá, filho...- Sem resposta, prosseguiu -Como está a tua mãe e a Fang?

-Podiam estar melhor...Eu faço o meu melhor.

Sabia que havia dito aquilo de mau grado, mas o mais velho sorriu e posicionou a sua mão no vidro, orgulhava-se do filho, mas ao mesmo tempo sentia-se mal por o ter posto na posição que ele devia exercer. Sabia perfeitamente da condição de Mo e pedia-lhe ainda assim que se concentrasse nos estudos sabendo que com o trabalho que o filho tinha o impedia de estudar para obter melhores resultados. Muito menos pensar em si...

-Como vai a escola?

-O de sempre, prefiro não falar sobre isso. Já devias saber.

Agh odiava a facilidade de algumas pessoas para obter o que queriam quando queriam, odiava ter uma família assim tão problemática, queria se matar e nascer numa família diferente, queria ser como o She Li e ter uma média incrível, queria renascer no corpo do He Tian, e ser forte, queria não ter de ter o pai na prisão a irmã com leucemia. Desejava ser uma pedra numa outra vida. Ao menos levaria anos para ficar em pedaços.

-E o She Li?

Boa tinha lhe estragado a mínima vontade de ter lá ido.

Mo bateu na mesa com os punhos e curvou os lábios apertando o telemóvel, apertou tanto que os nós das suas mãos já estavam brancos e as suas unhas já estragavam o verniz vermelho daquele objeto barato. Só de se lembrar do albino e do que lhe havia feito. Da vida negra que lhe estava a fazer... Já não bastava o que ele tinha de passar, agora ainda tinha de controlar as vontades não apropriadas do outro.

-Não quero falar disso também.

Não teria o seu pai assunto? Porque não fazia como das vezes em que só se punham a olhar um para o outro!

-Mo se não queres que se metam contigo tens de andar com ele, não quero que mais uma desgraça aconteça!

Às vezes parecia que o pai vivia num mundo de fantasias, onde a vida real não era servida num prato frio como a do ruivo que lhe foi dada a provar tão cedo graças a ele. Tinha uma vida complicada, era um facto... Pelo menos não conhecia quem tivesse pior. E o pai dele...o pai dele parecia ter a mesma mentalidade de uma criança às vezes... "tens de andar com ele". Era só mais um jovem problemático da sua idade. Nada iria mudar de qualquer das formas.

-Tu não entendes, pois não? Ninguém entende na verdade.

-O quê que eu não entendo?

-O She Li não é quem pensas ser...Preferia que me batessem todos os dias a estar ao lado dele um dia mais que seja.- Levantou a cabeça e olhou nos olhos do pai.

"𝙇𝙞𝙫𝙞𝙣𝙜 𝙄𝙨𝙣'𝙩 𝙁𝙪𝙘𝙠𝙞𝙣𝙜 𝙀𝙖𝙨𝙮" - ᵗⁱᵃⁿˢʰᵃⁿ 19ᵈᵃʸˢOnde histórias criam vida. Descubra agora