"𝙇𝙞𝙫𝙞𝙣𝙜 𝙄𝙨𝙣'𝙩 𝙁𝙪𝙘𝙠𝙞𝙣𝙜 𝙀𝙖𝙨𝙮" - ᵗⁱᵃⁿˢʰᵃⁿ 19ᵈᵃʸˢ

11- 𝘿𝙤𝙣'𝙩 𝙘𝙡𝙤𝙪𝙨𝙚 𝙢𝙤𝙪𝙣𝙩𝙖𝙞𝙣 II

A música que o rádio daquele carro dispunha, carro esse que tresandava a fumaça de cigarro, já tinha rebentado três veias de origens diferentes na sua cabeça. Admitia que detestava música tradicional, mas fosse quem fosse o condutor, venerava aquele género de melodia calórica cheia de palavras de um amor perdido.

O saco que tapava a sua cabeça, numa tentativa de não ver o percurso, tinha um cheiro característico de mau hálito. Mo supôs que não teria sido o único a ter aquele pedaço de ráfia enrolado na cabeça e que provavelmente o que lhe estavam a fazer era algo porventura habitual.

Apesar da música e do tabaco, que o faziam ficar extremamente enfastiado, conseguia ainda contemplar, o que também o tem transtornado ultimamente. Era tão bom em pensar, era a única coisa que fazia. Bem, não era a única, Mo Guan Shan fazia uma imensidão de coisas, mas "merda" era a principal das suas ações. Naquele momento pensou na sua mãe. Só pensava na pobre mulher em momentos de desespero. Era sua mãe! Era nela em quem devia pensar em qualquer circunstância, mas só em dadas alturas de revolta que o fazia. Perguntou-se a si próprio se ela sentia orgulho de si ou se estaria saturada de o ver todos os dias com aquela cara mal humorada e de poucos amigos, o que de facto vestia habitualmente sem se aperceber.

-Mo Guan Shan.- A voz masculina voltou a falar interrompendo a linha de pensamento do ruivo. - Vou te contar uma...bela história de embalar.

Guan Shan pôs as suas costas eretas no banco e por debaixo da costura mal cheirosa de ráfia fez um som de impaciência. Esse gesto causou uma pequena felicidade -porém falsa- audível do banco da frente, de Sr. He.

-Não te preocupes, é uma boa história de embalar. Ainda por cima conheces o personagem principal, mas não te vou dar esse privilégio...

O som do fluido do isqueiro a pegar fogo ouviu-se antes de Sr.He começar a ditar para fora a sua tão desejosa história que beneficiaria Mo de alguma maneira, ou então, pelo contrário, de nenhuma e Sr. He estava só a deliciar-se com o desespero de Mo. Nada esperava daquele homem. Pelo o que compareceu o dia todo, só podia afirmar que lhe metia pavor...No entanto, o homem também tinha uma qualidade agradável, ainda que custa-se admitir, o sentimento de adrenalina no corpo do ruivo estava a mil. A sua capacidade de engenhar em situações apertadas estava melhor que nunca. A sua curiosidade nunca tivera tão acordada como naquelas 24 horas.

E então Sr He começou a primeira frase do seu conto rompendo o silêncio no carro.

-Numa bela aldeia algures na China vivia um pobre adolescente sem futuro se não o campo. Porém, o adolescente frequentava a escola da cidade mais perto da sua aldeia e era extremamente inteligente, talvez o mais razoável da sua classe. Durante algum tempo parecia estar tudo na linha, até ao dia em que numa ida para casa a pé...- Sr. He parou um momento e comentou: o pobre rapaz nem dinheiro para o autocarro tinha...- Mas prosseguiu com a história.- bem...continuando...nesse dia ele encontrou alguém que lhe fez uma proposta de uma vida. Alguém que havia notado a sua excelência naquela escolinha de aldeia. A proposta era um gosto, aliás, é um gosto universal que todos compartilhamos "Dinheiro, fama, felicidade e paz". Mas, como todas as coisas, até o maior desejo tinha um preço. O preço que ele tinha que pagar era simples: assim que ele completasse a maioridade tinha de se juntar a um grupo de "vilões" e colaborar quando necessário para ter o tão desejado futuro que queria. Uma proposta simples diria, mantenho contrato até hoje.- Ele fez uma pausa para gargalhar do próprio comentário.

-É suposto o "adolescente" ser o meu pai?- Tal soou mais como uma afirmação do que uma pergunta.

-Bem, que estraga prazeres Guan Shan número dois.- comentou o mais velho fingindo estar angustiado com a descoberta. -Quem diria que seriam tão idênticos. A regra é deixar a história chegar ao fim. Depois perguntas o que quiseres.