15- Inquietação

74 4 0
                                    

A paisagem desvanecia pela janela, tal como as gotas minuciosas de água que escorriam fazendo a mesma chorar simultaneamente ao desagrado do tempo. Mo Guan Shan, ainda acorrentado, fazia conta dos suspiros que já dera naquela demorada e silenciosa viagem que o ia levar sabe lá ele a que destino.

Transitava o seu olhar entre a vista e o moreno ao seu lado e suspirava de novo.

Sentia a necessidade de acabar com aquela falta de conversa que agredia a imensidão de histórias e temas que podia abordar naquele momento. Machucava-lhe o facto de ter tanto para dizer e permanecer preso ao banco do carro sem nada lhe sair da boca, além daquele desassossegado suspiro.

E quando se decidira que iria quebrar aquela ausência de conversa, He Tian abrira a boca.

-Estamos quase lá.

Pois, mas, quase lá, aonde? Quando é que ele iria ganhar confiança o suficiente para lhe tirar aquelas cordas e algemas à volta dos pulsos? Quando é que ele iria perceber que ele era incapaz de lhe fazer algo que o magoasse? Pois tudo o que He Tian fizera até agora, fora tudo o que Mo Guan Shan evitara todo este tempo. E ainda assim...ainda assim a única coisa que queria fazer era passar tempo com ele e tirar-lhe o fôlego quando bem entendesse. Não queria que desconfiasse de si, afinal ele confiava nele. Se não o fizesse, toda a enumeração que o moreno previu há um capítulo atrás a qual lhe respondera que nunca na vida, jamais, faria, ele faria com toda a certeza, nem que partisse um braço a tentar se atirar de um carro.

Sinceramente, se não o soltasse nos próximos segundos, iria deveras espancá-lo.

Maluquice...mas não mais que a de Mo Guan Shan, que de momento caíra na tentação de reviver momentos passados instantes depois.

-Naquela loja...Eras tu naquele dia, não eras?- Questionara sem olhar os olhos do moreno.

He Tian resolveu não repostar, respondendo afirmativamente com o silêncio. Todavia mostrara-se confuso, questionando-se de qual dos dois encontros em lojas na esquina da rua o de sardas se referia.

-Nessa noite não consegui dormir a pensar em ti. Cá por dentro senti que inevitavelmente fugias de mim... No entanto, sinto que o fazes vezes sem conta.

O ruivo permitiu-se relaxar no banco, encostando a sua cabeça no mesmo enquanto virava a mesma para fitar o moreno.

-Não que eu não saiba que tenho pelo menos cinco ou quatro indivíduos atrás de pilares cada vez que dê um passo.- Continuou. -Mas agora... Não vejo razão para esse tratamento silencioso que me estás a dar. Muito menos por me estares a tratar como um cão que não tem maneiras. -Falou apontando com o polegar para as cordas.

-Estamos quase lá...-Voltara a repetir. -Não te vou desamarrar por dez minutos... E não venhas com mimimis, eu vi o corte no olho esquerdo do meu irmão.- Apesar de retribuir a conversa, He Tian mantinha o foco na estrada.

Não que o fizesse por ser um bom condutor, mas para não cair na tentação de ser enganado por aqueles lamentos do ruivo. Em outras circunstâncias, provavelmente o libertaria.

-Além de que não quero ser usado para teu benefício... Devias estar agradecido por teres os olhos abertos para veres o caminho de volta.

Mo Guan Shan levantara ambas as sobrancelhas em surpresa. Ele nem pensara naquilo! Até porque não queria escapar. Contudo, se dissesse que só queria que o desamarra-se em voz alta estaria a denunciar-se a si mesmo e provavelmente nem a sair daquele veículo, que se tornava cada vez mais claustrofóbico, iria ser posto de parte daquelas abomináveis cordas de ráfia que cortavam os seus pulsos.

-Claro! Eu iria mesmo andar mais de duzentos quilómetros para voltar à confusão de há horas atrás e entregar-me.- O ruivo retrucou. Por momentos soltara uma gargalhada e resumia de seguida o que acabara de dizer por meios do que lhe passava no momento na cabeça:-"Oh sim, sou eu! Sou a Sininho, o meu pó mágico faz voar milhões até ao vosso cofre"...

"𝙇𝙞𝙫𝙞𝙣𝙜 𝙄𝙨𝙣'𝙩 𝙁𝙪𝙘𝙠𝙞𝙣𝙜 𝙀𝙖𝙨𝙮" - ᵗⁱᵃⁿˢʰᵃⁿ 19ᵈᵃʸˢOnde histórias criam vida. Descubra agora