𝐂𝐎𝐑𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐒𝐎𝐌𝐁𝐑𝐀𝐒 𝐄 𝐏𝐄𝐒𝐀𝐃𝐄𝐋𝐎𝐒.

0.1

Azriel.

       Era um caminho longo a seguir. Um caminho bem longo. Eu sabia que teria que ajudar Rhys, sabia que ele também iria ajudar as outras Cortes à se reconstruirem. Seria um trabalho difícil. Se bem que agora tínhamos mais ajuda. Ainda assim, parecia um grande trabalho pela frente. No momento eu estava voando para casa, estava acabado e cansado, cansado de tudo ao redor, de todas as mortes que eu havia presenciado, eu apenas queria deitar e descansar, sem ter que me preocupar com a morte das pessoas que eu amava.
    Infelizmente, aquela casa não era apenas minha, e sim de todo o Círculo Íntimo, pelo menos quando tínhamos que fazer algo de importante, e aquela me era a opção mais fácil, e no momento eu realmente estava necessitado de coisas fácies. Não queria pensar em Lucien, não queria pensar no Cassian, por mais que ele estivesse tão acabado quanto eu, aguentar Cassian sempre é difícil. Não queria saber nem da Elain... Apenas deitar e descansar. Minhas asas estavam tão cansadas quando minhas pernas, e enfim, pousei, na varanda. Encolhi as asas, barulhos de passos pela casa invadiram meus tímpanos, e então me escondi nas sombras. Pronto para um ataque.
   Um grunhido, pois tinha o derrubado no chão. Lucien. Que diabos ele está fazendo aqui? E pelo Caldeirão, como esse... como ele chegou mais rápido que eu?!

    ─ como chegou aqui tão rápido? ─ indaguei, me levantando. Deslizei as palmas das minhas mãos por minhas roupas, limpando a poeira invisível.

    ─ Olá para você também, Azriel. ─ Lucien retrucou e se levantou, se limpando também. Ele parecia tão acabado quanto eu. Mas mesmo assim, ainda era Lucien. ─ Rhysand me trouxe. Disse que eu poderia passar a noite aqui, afinal, eu ainda não tenho casa... aqui.

  Era uma verdade, Lucien tinha virado Emissário à pouco tempo, um pouco antes da guerra, não tinha como ter arrumado uma moradia. E pensando bem agora, seria bem melhor ter feito o caminho mais longo até minha própria casa, onde eu teria minha privacidade. Suspirei e dei de ombros, dando as costas para ele.

   ─ eu não vou atrapalhar, Az. ─ O 'Az' nos lábios dele soou tão íntimo, aquilo me daria vários pesadelos. Ele não tinha essa liberdade toda comigo, e se dependesse de mim, nunca teria. Mas eu não queria arrumar briga, como eu mesmo tinha dito, só desejava descansar. Eu estava realmente acabado. Nem sequer olhei para trás, para encarar Lucien e aquele seu cabelo ruivo chamativo demais, costumávamos rir no Círculo íntimo sobre isso. Mas agora ele fazia parte do Círculo Íntimo. Ele estava em Velaris. E eu tenho que aceitar isso.

   Me locomovi até o meu quarto, era pequeno, mas não tão pequeno. Eu tinha o escolhido, para falar a verdade, preferia que ele fosse menor, gostava da solidão, e talvez eu fosse estranho por isso. Talvez Elain me achasse estranho, mas eu não sabia como parar de ser estranho.
   Tomei um demorado banho quente, o meu humor tinha melhorado, pelo menos um pouco. Minhas asas estavam mais relaxadas, mas minhas pernas ainda estavam tensas. Resolvi ficar sem roupa, seria mais confortável para dormir. E então eu me deitei e não demorei mais de cinco minutos para pegar no sono profundo.

  ༺☈༻

    Não sabia por quantas horas eu tinha dormido, ou por quantos dias. As sombras estavam sussurrando algo para mim, mas na minha cabeça era apenas um zumbido irritante, talvez eu tivesse com ressaca. Mas eu nem tinha bebido, ou sequer sentido o cheiro de álcool. Talvez fosse a ressaca da guerra, aquela maldita guerra...
   Resolvi enfim, me levantar. Coloquei uma roupa, as mesmas de sempre, no mesmo tom de cor de sempre, no estilo da Corte Noturna, no estilo de Velaris. Minhas asas se abriram, e eu poderia jurar que escutei as sombras suspirarem em alívio. Vozes, vozes e vozes vindo em direção da cozinha. No andar de cima da casa. Saí do quarto, mas dei mei volta quando percebi que não tinha colocado luvas, bom, odiava aquelas marcas em minhas mãos, podia falar que não importava, mas eu as odiava com toda minha força. Após colocar as luvas, agora sim, eu me encontrava pronto, e saí a caminho da cozinha, quando encontro Cassian no corredor, em frente a escadaria.

   ─ O que está fazendo aqui? ─ perguntei. Cassian não poderia estar aprontando, não agora, não um dia após a Guerra. Se é que ainda estávamos no dia seguinte, eu poderia ter dormido por dias... voltei minha atenção para Cassian cada ele começou a falar.

   ─ É que a Nestha... ─ antea que Cassian pudesse terminar de falar, balancei a cabeça em negação, seguindo meu caminho para cozinha. Eu poderia aguentar qualquer coisa, menos o Cassian falando da Nestha. Ele realmente não percebia a verdade? ela não o queria, e ele não aceitava. Ele tem várias outras fêmeas aos seus pés e fica se rastejando ao pé de apenas uma. Cass merece mais.

   E ao lembrar do que eu tinha acabado de falar, que aguentaria qualquer coisa, eu queria retirar o que tinha dito ao me deparar com a cena de Nestha, Elain e Lucien. Estavam rindo e pareciam ter começado bem o dia.

   ─ bom dia. ─ saiu mais como um grunhido dos meus lábios do que qualquer outra coisa. Elain me fez abrir um sorriso enorme quando caminhou tão graciosamente até mim. Ela parecia feliz, o sorriso estava eminente em seus lábios.

   ─ Bom dia, Az. Bela manhã, não acha? ─ eu com certeza preferia o modo de como meu nome soava em seus lábios do que nos lábios de Lucien, e então concordei com a cabeça, fazendo um breve aceno para uma das janelas de vidro.

   ─ podemos sair para ver o pôr-do-sol hoje. O dia promete. ─ sugeri, falando apenas com Elain, mas Cassian apareceu.

   ─ ótimo! vamos nós quatro... e o Lucien! se quiser ir, é claro... ─ Cassian gesticulou com a mão em direção à Lucien. Será que ele não poderia ficar apenas mais três segundos com medo da rejeição de Nestha? pelo menos até Elain aceitar sair comigo...

  ─ não quero sair com você, Cassian. ─ retrucou Nestha. ─ Desiste. E eu estava falando justamente para Lucien, que eu e Elain vamos sair hoje, nós duas precisamos de um dia de descanso pós guerra.

   Nestha deu de ombros, enquanto dava uma mordida em uma torrada. Eu suspirei, discutir com Nestha não era uma boa idéia, nunca era, e então apenas me sentei e tomei meu café da manhã, às vezes jogando um olhar quase mortal em direção a Lucien.