14

1.6K 171 44
                                    

Nestha.

   Azriel havia saído da sala à pedido de Rhysand e Feyre. Ele estava completamente apaixonado por Lucien, como semanas atrás estava querendo minha irmã. Talvez seja apenas falta de ter alguém na vida. Algo que eu não entendo. Não precisamos de ninguém para ser felizes, apenas de nós mesmos.

    Eu ia conversar com ele, tentar fazê-lo entender o que estava acontecendo, talvez ele pudesse me explicar. De todas as pessoas daqui, sempre tive mais empatia com Amren e com Azriel, e precisava entender o que ele estava passando. Talvez ele também pudesse me fazer um grande favor. E chega de talvez, talvez e takvez. Ergui a cabeça e comecei a andar até o quarto de Azriel.

   Primeira coisa que havia achado estranho, sua porta, estava cheia de musgos e... plantas. Toquei a maçaneta, gélida, que fez minha mão estremecer. Algo em mim fez meus instintos não baterem na porta, e quando eu entrei, vi minha irmã por cima do Azriel, seminua, tirando a roupa dele, e ele estava aterrorizado, as lágrimas descia loucamente por todo o rosto dele, ele me olhou e pediu socorro. Estava quase sem respirar, a boca roxa, estava sendo asfixiado.

    — Elain! — Gritei em direção à ela. A joguei para longe apenas com a mente, ela se chocou contra a parede. A cabeça dela bateu contra a parede, e ela desmaiou, apenas desmaiou. Eu podia escutar a respiração dela. Corri até a cama, cortando aqueles... aquelas plantas que estavam sufocando Azriel. As plantas, que eram cipós gritaram, gritaram de dor. Mas nada comparado com a dor que Azriel estava sentindo naquele momento. Ele estava sendo abusado, iria ser estuprado se eu não chegasse à tempo. Se eu tivesse ido com os outros para o treinamento.

    — Ei! Se acalma... — segurei a mão do Azriel, ele ainda estava aterrorizado, reparei que ele não usava os sifões. Estava do outro lado do quarto, ele não tinha nem sequer uma defesa.

     — Eu não posso acreditar... que... — ele ainda estava recuperando o fôlego, mas olhou para Elain e sua respiração acelerou mais uma vez.

    — nem eu... — me levantei. Resolvi que cuidaria primeiro da Elain antes de falar com o Azriel. Iria levá-la para um lugar longe e seguro para descobrir o que realmente ela estava planejando, se alguém estava a forçando. Eu não queria acreditar aue minha irmã era capaz de tudo aquilo. Ela não gosta de Prythian, nem de Valeris, mas... eu também não gosto, e nem por isso saí colocando fogo em tudo que é lugar pela cidade mais bela do mundo.

     — Az... deveria ir ver o Lucien. — Talvez não fosse a melhor hora, mas na guerra deveríamos estar com quem amamos. E talvez eu o entendesse, ver ele com Elain, apavorado, era o mesmo pavor de quando ele pensou que perderia o Lucien. Era o mesmo pavor que eu senti uma vez... com medo de Cassian morrer. Mas claro, nunca deixaria que ele soubesse daquilo.

   Carreguei Elain nos meus braços, com bastante calma e cuidado, ela poderia acordar a qualquer momento e eu deveria estar preparada. Primeiro, quando ela acordasse, iria questiona-la sobre tudo. Não daria um sermão, não existe justificativas para o que ela fez, mas talvez ela possa estar sendo manipulada, então eu precisava descobrir tudo, antes mesmo de contar a Rhysand ou Feyre. Eu tinha pouco tempo, aposto que Azriel iria correndo para contar ao seu Grão-Senhor e a sua Grã-Senhora.

 

Azriel.

   Pela Mãe Nestha apareceu. Nunca pensei que Nestha pudesse sentir compaixão ou pensar em me salvar. Sempre pensei em Cassian ou no restante do círculo íntimo, mas lá estava ela, carregando minha agressora para fora do quarto. Eu me limpei daqueles espinhos e musgos e me levantei, indo até a prateleira e pegando os sifões, encaixando-os no lugar onde deveriam estar, o tempo inteiro. Em nenhum momento estávamos seguros, em nenhum lugar, e meu coração se apertou com aquilo. Mas pelo menos Nestha poderia conter Elain por algum tempo.

   Enquanto isso, eu tomaria um banho bem quente para tirar aquele peso de meu corpo. E depois iria ver Lucien. Nestha estava certa mais uma vez. Eu tinha que vê-lo. Talvez eu não estivesse apaixonado por ele, por um macho, mas eu havia passado a ter pelo menos um afeto e querer cuidar. A maioria das vezes ele parecia tão frágil e indefeso, mas no fundo eu sabia que ele é forte e que pode muito bem se cuidar sozinho, mas da mesma forma.... O beijo dele, o calor e o cheiro dele não saiam da minha mente. Respirei fundo e me concentrei no meu banho. Nem tão cedo sonharia em ter relação sexual com outra pessoa, nem mesmo com Lucien. Já havia pensado nisso algumas vezes, mas depois de hoje...

   Após meu banho, pude seguir até o cômodo que ele estava. Era impenetrável, até por barulhos. Até porque, estava sendo protegido por Amren. Eu bati na porta umas quinhentas vezes, sem brincadeira alguma. As batidas eram códigos e ela me negou passar quatrocentas e noventa e nove vezes, até que eu disse que necessitava ve-lo. Amren supria todas as necessidades do círculo íntimo, ela nunca nos nevaga nada, apenas para Cassian, as vezes.

    — Obrigado... — disse com a voz um tanto baixa, ela abriu a porta e sorriu para mim, aquele sorriso cínico e meio torto. — Do que está rindo?  

   Ela deu um riso de escárnio, eu entrei no cômodo e percebi que era uma biblioteca, claro que era. Amren e sua paixão por ler o tempo inteiro, ela deu alguns tapinhas no meu ombro e soltou um suspiro.

    — Azriel, não tente esconder de si mesmo que está apaixonado por Lucien. — Ela estava saindo do cômodo, segurando três livros. Um preto e dois vermelhos. — Ah, aconteceu algo... e ele está acodando. Aproveitem e se acertem, sei que da última vez não deu muito certo.

   Ela riu novamente. Ela iria nos trancar ali, pois só quem poderia abrir aquela porta era Amren. Eu não iria reclamar, pelo menos agora, quem iria cuidar de Lucien era eu. E ele realmente estava acordando, e eu aproveitaria para conversar com ele, pelo menos enquanto Elain estivesse fora e desacordada. Precisava de um tempo sozinho com Lucien para saber e esclarecer tudo, principalmente a questão de meus sentimentos.

𝐂𝐎𝐑𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐒𝐎𝐌𝐁𝐑𝐀𝐒 𝐄 𝐏𝐄𝐒𝐀𝐃𝐄𝐋𝐎𝐒. Onde histórias criam vida. Descubra agora