𝐂𝐎𝐑𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐒𝐎𝐌𝐁𝐑𝐀𝐒 𝐄 𝐏𝐄𝐒𝐀𝐃𝐄𝐋𝐎𝐒.

0.2

Azriel.

     O final da manhã foi tranquilo, fora as partes que eu tive que me adaptar com tantas pessoas dentro da casa. A casa era grande, bastante grande, mas parecia que não tinha ar o suficiente. Resolvi sair, pensar um pouco, tinha algumas peças que não estavam se encaixando, ainda mais na conversa da manhã. Lucien não soltou nenhum grunhido ou nem me olhou torto uma vez sequer por ter chamado Elain para sair. Aquilo sim era estranho.

   Resolvi chamar o Cassian, pelo visto, o Illyriano não tinha mais nada de interessante para fazer, os seus planos daquele dia eram realmente apenas voltados para Nestha. E eu ficava me perguntando porque ainda estava surpreso com isso.

    ─ Cass, vou dar uma saída. Passear por Velaris. Ainda quero ver o pôr-do-sol, não era apenas com Elain. ─ Cassian estava jogado no sofá, não sei como suas asas não ficavam doloridas naquela posição deplorável que ele estava. Ou ficavam e ele não se importava.

    ─ Eu vou! talvez encontre Rhys por lá. Ele disse que sairia com Feyre, eles estão querendo reformar a casa... algo do tipo! devem ter quebrado algo. ─ Cassian se levantou, dando de ombros. Rhysand e Feyre deveriam ter mais cuidado, em Velaris não se fabricavam tantas camas, e eles quebravam muitas. Era um terror dormir na mesma casa que Rhys e Feyre. Eu realmente não sabia de onde eles tiravam aquele fogo todo.

   E eu Cassian saímos, fomos voando, ninguém em sã consciência desceria toda aquela escadaria com centenas de degraus. E tínhamos deixado Lucien preso lá dentro, a não ser que ele fosse burro o suficiente para descer toda a escada, teria que esperar que voltassemos. Ou pelo menos que Rhys chegasse. Não me importava muito com aquilo, por mim, ele poderia acabar com as pernas dele descendo as escadas ou até mesmo pular lá de cima.

    ─ Eu vou comprar um presente para Elain. Quer me acompanhar e compr... digo, tentar comprar algo que a Nestha olhe e pelo menos pense em gostar? ─ Perguntei, pigarreando enquanto andava, minhas mãos estavam para trás, minhas asas encolhidas para que ninguém esbarrasse nelas. Diferente de Rhys, eu amava deixar minhas asas a vista, dando à elas ar e liberdade.

    ─ Elain adora flores, mas é difícil saber o que Nestha gosta. ─ Cassian riu. Ele riu de sua própria desgraça, e esse era o Cassian que eu conhecia, e eu ri juntamente à ele. Mas em um ponto ele tinha razão; Elain adora flores.

   ─ eu acabei de ter uma idéia! ─ O tom da minha voz estava mais animado. ─ e você vai me ajudar, sim?

   Cassian concordou depois de tanta insistência, ele passou o caminho todo falando que séria bem mais fácil fazer com magia, mas eu queria fazer com minhas próprias mãos, queria dar para ela e dizer que eu mesmo tinha catado as flores, e que eu tinha motado aquilo. E após comprar tudo que era necessário, arame verde, alicate com corte e fita verde de cetim, eu e Cassian nos sentamos à mergem do lago. Cassian colocou a cesta com algumas flores que colhemos sobre o chão e eu comecei a fazer a coroa de flores. Não podia negar que Cass estava certo, me atrapalhei várias vezes para montar aquilo, mas depois de um longo tempo, bem perto do pôr-do-sol ela estava pronta, e não poderia ter ficado tão linda quanto ficaria se fosse feita com magia, mas servia para pôr na cabeça.

    E resolvemos procurar por elas, as irmãs Archeron. Bom, pelo menos duas delas. E encontramos, elas estavam sentadas, conversando. Eu tinha planejado aparecer de surpresa, e apareceria por trás. Eu e Cass estávamos andando até lá quando ele parou, e me fez um sinal, para que ficasse em silêncio e escutasse.

   ─ Precisa contar à Az. ─ Disse Nestha, em um sussurro. ─ Precisa contar à ele. ─ insistiu Nestha, enquanto Elain balançava a cabeça em negação. O que ela deveria me contar? Queria ir lá e perguntar, mas Cassian me segurou.

   ─ ele não precisa saber agora. ─ Elain deu de ombros. Sim, Elain, eu preciso saber. Preciso saber agora, neste instante. Meus ombros estavam ficando tensos. Talvez fosse algo bom, ou talvez fosse algo muito muito ruim.

   ─ você não pode esconder seu Laço de Parceria com Lucien para sempre, Elain. ─ sibilou Nestha, com a voz séria. Meu mundo parou, e desabou sobre meus ombros. Seu Laço de Parceria com Lucien. Aquilo ecoou algumas vezes na minha mente, até que Cassian não foi suficientemente forte para me segurar. Minhas asas se abriram, jogaram Cass para longe, Elain e Nestha se assustaram e olharam para trás.

   ─ Azr... ─ não pude ouvir nem o restante do meu nome, pois eu saí voando e desapareci na primeira sombra. Me escondi e resolvi que ficaria ali, onde quer que eu estivesse. Talvez ficasse tudo bem, ou talvez não. Ela poderia ter me contato antes... eu poderia ter saído dessa. Lucien... ele... eu nunca mais vou poder olhar para a cara dele, como conseguirei viver ao lado dele? lutar ao lado dele? se tudo que eu sinto é ódio e vontade de mata-lo.

  ao olhar ao redor, percebi onde eu estava. No topo da Maior montanha da Corte Noturna. Ali estava um pouco frio, não tinha magia o suficiente para esquentar aquele lugar, era... era bastante frio. E eu estava precisando ficar solitário e o frio parecia uma ótima idéia para isso. Até que Rhys apareceu. Como ele me encontrou aqui?

   ─ o que está fazendo aqui? ─ perguntou ele. Arqueei a sobrancelha e me levantei, pois, até então eu estava sentado. Ajeitei minha postura e enchi o peito de ar.

   ─ a pergunta é, o que você está fazendo aqui? ─ retruquei, ele deveria estar com Feyre, e não aqui. Ele deveria estar com a Parceira dele. E não preocupado com seu irmão bastardo.

  ─ estava fazendo patrulha. Você não tinha saído com Cassian? ─ perguntou ele. E ele não estava preocupado comigo. Sabia muito bem que eu poderia me cuidar sozinho, e poderia mesmo.

   ─ eu tinha. ─ dei ênfase ao "tinha." para deixar bem nítido, por mais que ele estivesse vendo que Cass não estava comigo no momento. Rhysand costumava saber bastante de tudo, e parecia sempre estar ali para ajudar, e aquilo era bom, mas séria mais fácil para todos se ele fosse sempre direto ao ponto.

   ─ Descobriu sobre o Laço de Parceria. ─ ele estava na minha mente? meus escudos... Mas ele não podia. Ou será que podia? Minha cabeça estava girando no momento, e eu apenas foquei em uma coisa.

   ─ você sabia?! ─ ele recuou quando minhas asas se abriram, eu nunca machucaria Rhys, e ele também nunca me machucaria, mas a raiva e mágoa estavam tomando conta do meu corpo no momento, e aquilo foi involuntário.

   ─ vamos para casa. Para a minha casa, e vamos conversar, por favor, Az. ─ encolhi minhas asas de novo. Eu iria para a casa de Rhys e Feyre, conversaria com Rhys e depois iria para a minha própria casa, para não ter que esbarrar em Elain, e muito menos em Lucien.