0.4

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Azirel.

     Salvei a vida de Lucien. E agora ele estava dando as costas para mim. Em segundos eu estava na frente dele, e ele parou, parecia assustado, talvez assustado pois pensava que ia morrer, e agora estava vivo, gélido e branco demais, quase amarelo. Eu iria segui-lo, por mais que ele não quisesse minha companhia, ele ainda era suspeito. E outra ele tinha acabado de tentar se matar, pelo que parecia, pelo menos. Rhys não queria ele morto, Rhys precisava dele, e eu sabia que a Corte Noturna também precisava, era difícil de admitir, mas infelizmente era a verdade.

    — está me seguindo para ver se eu não vou fazer queimadas em Velaris?
— ele perguntou. Parecia irritado, assustado. Então a única coisa que fiz foi balançar a cabeça em negação algumas vezes. Tinha acontecido alguma coisa na reunião do Círculo Íntimo, a reunião que eu decidirá participar depois de discutir com Rhysand, a reunião que seria importante e que Lucien tinha fugido. Talvez tivessem acusado ele de algo, o que era realmente justo. Ou injusto. Queimadas? o que ele quis dizer com queimadas?

   — de que queimadas você está falando, Lucien? — resolvi perguntar, ele parou e se virou lentamente para mim, o olho bom dele pareceu me analisar, e aquilo me deu calafrios.

   — Está acontecendo algumas queimadas em Velaris, Az. — sibilou ele, num tom baixo, para que apenas eu escutasse aquele sussurro. — Nestha e Amren me acusaram. Mas nesses cinco dias eu nem saí daquela casa. Eu só observei Velaris por aquela maldita varanda, eu nem poderia saber em quais pontos...

   Lucien parou de falar, aquilo me arrancou uma risada, observei as bochechas dele ficarem pelo menos em uns cinquenta tons de vermelho e então ele se virou novamente, voltou a andar e estava indo para um caminho totalmente o contrário da cidade. De onde ele me indicará que queria ir. "Eu só observei Velaris por aquela maldita varanda." Ele queria conhecer Velaris.

   — Lucien. — o chamei, mas ele não parou, nem diminuiu a velocidade de seus passos. — Lucien! espere... — pude alcança-lo, e então segurei o ombro dele, podia jurar que ele ia me golpear, mas ele apenas se afastou, de modo brutal, mas apenas se afastou.

   — Não preciso de um cão guia. — sibilou ele, me encarando novamente. Cão guia. Eu queria ajuda-lo, e ele me desprezou. Eu deveria mata-lo agora mesmo, ou deixar que ele se perdesse para que morresse de frio e de fome, uma morte lenta e bem sofrida, mas escutei a voz de Rhys ecoando em minha mente, o que ele tinha me dito mais cedo. Lucien está se adaptando, ele foi enganado por tempo demais e ele não tem culpa de nada.

   suspirei e então apenas apontei com o dedo para o lado aposto de onde ele estava indo, ele olhou confuso e voltou a andar para a direção errada, bufei. Ele era teimoso. Será que aprenderá aquilo com o Grão-Senhor da Corte Primaveril?

    — você está indo para o caminho errado, Lucien. Esse caminho que está seguindo vai fazer você se perder, e você não tem asas, e nem tantas habilidades. — dei de ombros, ele se virou. Parecia irritado. Eu o tinha irritado? eu estava apenas querendo ajuda-lo.

   Ele caminhou até mim, pisando forte e afundando seus pés calçados com uma bota de couro na neve, e então parou, quando estava a quase 30 centímetros de mim. Sua respiração estava quente, eu podia sentir ela batendo em meu rosto. Conseguia escutar o coração de Lucien bater, e ele estava acelerado, talvez por conta da adrenalina, de cair daquela altura. Ou se jogar, eu ainda não havia descoberto.

    — Azriel. Eu. Não. Preciso. De. Ajuda. — ele grunhiu, eu realmente tinha irritado ele, dei um passo para trás, recuando. Se fôssemos brigar eu acabaria o matando, os nós dois nos matariamos e Rhys arranjaria uma maneira de nos trazer de volta, apenas para nos matar novamente.

   — você realmente não precisa de ajuda, você precisa de uma boa educação. Não me agradeceu por ter salvado sua vida, não quer que eu o ajude, pois se for por esse caminho certamente irá se perder. — falei. Também já estava ficando totalmente irritado. Ele estava testando minha paciência, claro que estava.

   — primeiro. Eu não pedi para ser salvo. Segundo, eu não preciso de sua ajuda. — ele se aproximou de novo, me empurrando, dois passos para trás. Meu olhar se tornou enfurecido, franzi meu cenho. Ele realmente tinha me desafiado.

   — Lucien, Lucien... — minha voz agora estava rouca. Cruzei os meus braços e abri um pouco minhas asas, Lucien se aproximou mais, nossos narizes quase se tocaram.

   — Acha que me amedronta com isso? não tenho medo de suas asas medíocres. — ele falou, aumentando o tom de voz. Respirei fundo, soltei todo o ar pelas narinas e sabia que ele poderia sentir minha respiração quente também.

   — Não vou lutar com você agora. E nem aqui. Vamos para um lugar apropriado para fazer isso, Lucien. — dessa vez ele que recuou, ficou com medo. Sussurrou algo que eu não pude escutar, então fiquei confuso e com uma cara de tacho para ele. Eu realmente iria marcar uma luta, e séria justo já que agora ele tinha me insultando, sem eu nem ter feito absolutamente nada para ele!

   — amanhã ao pôr-do-sol. Já que o adora tanto. — ele sorriu, um sorriso preguiçoso e cafajeste. Canalha. Canalha e canalha. Apenas assenti e me afastei, mas voltei, ainda não queria que ele se perdesse.

   — Não se perca, ou não terá luta amanhã e nem nunca. E não conte para ninguém sobre isso, sabe o que pode acontecer. — sim, aquilo tinha sido uma ameaça, das mais baixas, mas tinha sido. Eu não queria, no fundo não queria, mas ele tinha ido longe demais, e eu tinha que descontar aquela raiva toda em alguém.

   Abri minhas asas por completo dessa vez, e voeei para casa. Não para a minha casa, infelizmente. Iria avisar a Rhysand ou a qualquer um, talvez Elain, sobre Lucien, que ele poderia se perder ou até mesmo poderia estar morto naquela altura, se eu, não tivesse o salvado, é claro.

    — Az! — Feyre foi a primeira que me viu, o restante da sala virou a cabeça rapidamente para me ver. Então um sorriso, um sorriso forçado, foi aberto em meus lábios.

   — Boa noite. Eu só... passei para avisar que Lucien está lá embaixo, em Velaris, eu não tenho nada a ver com isso. Ele caiu, eu acho. E disse que queria ver a cidade. — disse tudo que eu sabia, trocando uma palavra ali e outra aqui, mas não deixava de ser verdade.

   Elain foi a primeira a dizer que iria atrás dele, mas quem realmente foi atrás dele, foi Rhys e Cassian, eles eram melhores com isso. Enquanto isso, Feyre me informou sobre tudo da reunião que acabará de terminar, e que tinha um trabalho para o seu mestre espião. Eu. Eu teria que espionar Lucien. Investigar e descobrir sobre o que ele sabia sobre as queimadas, mesmo Rhys e Feyre sabendo que ele é inocente, Nestha e Amren fizeram que Cassian acreditassem naquela hipótese, claro que Cassian seria manipulado. E como eu odiava Lucien, votaram por mim, votaram para que ele fosse um suspeito, por meu nome. Enquanto eu estava planejado uma briga idiota com o mesmo.
   Isso tudo acabaria mal, eu estava sentindo isso.

𝐂𝐎𝐑𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐒𝐎𝐌𝐁𝐑𝐀𝐒 𝐄 𝐏𝐄𝐒𝐀𝐃𝐄𝐋𝐎𝐒. Onde histórias criam vida. Descubra agora