0.6

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Azriel.

    Estava tudo tranquilo, até que lembrei da minha suposta briga com Lucien, estava marcada para hoje. Eu estava com a consciência pessada de brigar com o emissário do meu Grão-Senhor em uma suposta crise. Mas... eu precisava. E era o que eu ia fazer. Então corri para o local de encontro, e ele estava lá, encostando em uma árvore.

    — não sabia que machos illyrianos eram de se atrasar... — ele deu de ombros, um grunhido saiu de minha boca, e ele gargalhou, uma gargalhada de escárnio que ferveu os meus nervos. — vamos acabar logo com isso, Azriel. Estamos parecendo crianças mimadas.

   — você pode ser uma criança mimada. Eu não. — e grunhi novamente, Lucien parecia estar tranquilo... Ele estava tranquilo, até demais, então resolvi voar para perto dele, e agora sim, ele havia recuado um passo. Apenas um passo. Quando eu ia ataca-lo, Lucien começou a tossir, tossir muito. Fumaça. Comecei a tossir também. Emboscada. Ele havia feito uma emboscada para mim. Mas de onde viera aquele fogo? como ele tinha feito aquilo sem ajuda? Elain deveria saber... pelo menos pelo laço. Eu precisava encontra-la, mas ao olhar para Lucien, meus pensamentos sobre ele ter fugido e me deixado ali foram embora, pois ele estava caído no chão. Era fumaça para todos os lados, e as chamas cresciam e se espalhavam. Me ajoelhei no chão e toquei o ombro de Lucien, e ele se afastou.

   — vá procurar... a-ajuda. — ele falou, com dificuldade, inalando fumaça, eu mal conseguia vê-lo. — anda!

  eu não podia deixa-lo ali, se ele morresse... se ele morresse eu nunca iria me perdoar. Por não tê-lo matado com minhas próprias mãos, é claro. Mas Lucien era teimoso, eu pedi, duas, três, quatro e até cinco vezes. Insisti, mas ele estava respirando mal, ele estava inalando toda aquela fumaça, e eu também, a pele branca de Lucien agora estava cinzenta. Eu não podia pega-lo e voar sem a permissão dele, ele iria se debater e nós dois acabariamos caindo. Rhys já deveria estar vindo. Alguém, Cassian, Feyre. Elain, Elain precisava vir salvar seu parceiro. Mas passou um tempo, e ninguém veio.

   — p-por que... você não vai atrás de ajuda l-logo? — perguntou Lucien, com ríspidez. — está p-perdendo tempo seu... idiota.

   MERDA. ele tinha razão, eu precisava ir. Mas não podia deixa-lo. Fiz um ato ousado. Tirei a minha armadura de Guerreiro illyriano e rasguei um pedaço da camisa que eu estava usando, preta. Segurei o rosto de Lucien e o encarei bem nos olhos, então coloquei o pano em frente ao seu nariz e boca.

    — você fique calado seu idiota, e nem ouse se mexer ou vai acabar em cinzas aqui embaixo. — agarrei o corpo dele, envolvendo meu braço pela cintura dele e então abri minhas asas, estava com medo delas pegarem fogo, mas fechei os meus olhos e simplesmente voei. Mas não consegui ir longe, o máximo que eu pude ir foi onde o fogo não alcançava, mas a fumaça ainda alcançava. Dei um tempo, para Lucien recuperar um pouco de sua consciência e eu quase que escutei um "obrigado" vindo dele. Fiquei andando de um lado para o outro, vendo minhas pegadas na neve, e a neve ficando cinza. Quem era o monstro que estava fazendo aquilo com Velaris?

   — você precisa... ir. — falou o Lucien, com dificuldade e tossindo. Ele tinha jogado o pedaço rasgado de minha camisa, ou guardado. — precisa procurar ajuda. Se voar sozinho... s-sei que conseguirá ir mais longe.

   Ele tinha razão, de novo, ele tinha razão de novo. Aquilo estava me enlouquecendo, mas então eu me ajoelhei ao lado dele e o encarei de novo, fiquei perdido nas íris dos olhos dele, e ele parecia perdido nos meus. Talvez aquela fumaça estava dando delírios, mas então ele quebrou o silêncio.

   — o que?! vai me beijar? — perguntou, em um tom ríspido novamente. E logo me afastei. Tentei achar alguma sombra para desaparecer, mas... uma flecha. Flecha de freixo. De onde tinha surgido aquela porcaria? gritei, gritei tão alto que quase pude sentir o chão tremendo. Tinha sido bem em minha asa. Eu estava com medo de usá-la.

    — merda. — e caí no chão, Lucien segurou minha mão e me ajudou a levantar. Nunca pensei que realmente estaríamos trabalhando juntos. E comigo apoiado em seus ombros, começando a caminhar. Mas aquele lugar parecia um labirinto, o que era estranho pois estávamos bem perto da casa de Rhys, mas aquelas árvores queimando... pareciam nunca acabar, e sempre voltávamos para o mesmo lugar.

   — estamos andando em círculos. — murmurei para Lucien. Ele tossiu, estava tão fraco quanto eu. Se aquilo fosse uma maldita prova para ver se eu Lucien conseguíamos trabalhar juntos, eu juro que mato Rhys. Ele não aparecerá até o momento, e aquilo estava me preocupando mais do que qualquer outra coisa.

   Eu e Lucien caímos no chão, até que demorou bastante para acontecer. Nenhum de nós aguentava mais, e eu precisava arrancar aquela flecha maldita para poder voar.

    — Lucien... — grunhi o nome dele, ele me olhou, seus olhos estavam baixos e sem esperança alguma. Nunca confiei que ninguém tocasse em minhas asas, em momento algum. Eu me sentia violado... mas era necessário. — tire essa flecha de minha asa. Por favor...

   Pedi, por incrivel que pareça, com educação. Lucien rastejou até mim e se apoiou em meu ombro para ficar de joelhos, e começou a tirar a flecha, suave e calmamente. Seus dedos trabalhavam com cautela, parecia que ele sabia o quanto aquilo era sensível, e então tirou aos poucos. E deixou um beijo em minha asa. Um beijo. Meu corpo estremeceu com aquilo.

   — pronto... isso não vai mais te fazer mal. — e ele a jogou para longe, mas dispararam outra, e dessa vez atingiu Lucien. O braço dele, quase no ombro, no bíceps. Me levantei tão rapidamente e o segurei nos braços novamente, e voei, dessa vez eu tinha três motivações, e voei para longe de todo aquele fogo, de toda aquela fumaça.

𝐂𝐎𝐑𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐒𝐎𝐌𝐁𝐑𝐀𝐒 𝐄 𝐏𝐄𝐒𝐀𝐃𝐄𝐋𝐎𝐒. Onde histórias criam vida. Descubra agora