Bianca - Parte IV

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— Claro que não B2? Inclusive eu... Eu... Tenho que buscar mais vinho — Bianca Andrade disse nervosamente. Sua ação, inclusive, ficou quase mais vergonhosa quando se levantou de subido e quase fez a cadeira cair.

— Mas a garrafa ainda está meia — Venturotti provocou com uma risadinha no canto dos lábios. Adorava cutucar a onça com uma vara curta o suficiente para que pudesse acompanhar o gay panic bem de perto.

— E logo estará vazia, afinal, Rafa não vai embora tão cedo, certo? — A empresária disse a primeira coisa que veio na sua mente. Se arrependeu em seguida. Como poderia lidar com mais cinco minutos de Rafa com tamanha vergonha que Venturotti a fez passar.

— Eu não sei — Rafa disse com sinceridade. Havia aceitado o vinho no tapete, ou melhor, a margem da piscina, mas não sabia até onde poderia estender aquilo sem que ficasse perigoso. Ela, Bianca e bebida nunca foram combinações que de fato se encaixassem.

Porque você não quis.

Algo repreendeu em seu interior e engoliu em seco. Mais vinho poderia fazer uma verdade reprimida por muito tempo vir a tona com mais facilidade.

— Tem muita bebida e comida porque esperávamos comemorar com mais pessoas. Peço mais uma vez que fique para que isso não se perca, certo? — A empresária insistiu por nervosismo e não aguardou muita resposta antes de sair. Precisava sair.

— Bia eu... — Rafaella começou a falar, mas se fosse de morrer naquele momento o faria com as palavras na boca — Isso foi... — Começou a pontuar sem entender a razão do nervosismo evidente de Bianca e de sua necessidade de sair quase comparável à de alguém que pegava fogo e precisava ser socorrida por um bombeiro.

— Uma clássica demonstração de que ela não sabe lidar com o fato de que já quis te beijar e não dispensaria fazê- lo — Venturotti explica da forma mais didática que consegue para a mulher de cabelos castanhos que a olha incrédula.

Isso explicaria bem o fato dela não ter conseguido negar com tanta veemência e também de ter saído como louca.

Mas...

Não. Rafa não pensava que era realmente possível.

— Claro que não — Disse alto para que se escutasse muito bem e colocasse de volta em sua cabeça.

Bianca fora a primeira mulher por quem sentiu atração e saber que aquilo era mútuo, mesmo naquele momento destoante, era capaz de revirar algo em seu sistema. E admitir que revirava era admitir que aconteceu.

Aconteceu?

— Claro que sim. Eu conheço os sintomas — A produtora afirmou circundando a sua taça de vinho com um dedo sem olhar para Rafaella. Queria dar o devido espaço para que aquela mulher compreendesse bem o que estava acontecendo ali.

A atração de Andrade e a sua própria.

— Porque ela é sua amiga? — Rafa questionou e Venturotti sorriu depois de beber mais um pouco do seu vinho doce. Não que sua amiga fosse discreta, mas sua avaliação não era só pessoal. Era fruto de anos de experimentações.

— Não só. Eu reconheceria o desejo de uma mulher desconhecida por outra a quilômetros de distância — Decidiu por dizer as coisas como eram e recebeu um empurrão de brincadeira de Rafaella.

— Que presunçosa! — Exclamou a mineira e em seguida tomou mais da sua taça.

— Eu diria experiente — Corrigiu a carioca acompanhando como as suas palavras caiam sobre a mineira.

Rafa se deteve por um segundo analisando a semântica daquelas palavras e, sem querer, acabou pensando também sobre quantas mulheres existiam dentro do simples adjetivo.

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