Bianca
A mancha redonda em sua camisa branca de botões era evidente na altura em que eu estava. Eu poderia perder milhões de segundos somente observando o formato esférico e como cada gotícula seca contribuía para aquele desenho disforme que começava na parte do estômago e sumia por dentro de sua calça onde ensacara a roupa.
Mas não podia. Não quando seu olhar verde esmeralda parecia no limiar da paciência. Eu sabia o que eu havia feito e Rafaella estava preparada para me punir por isso. Antes, no entanto, queria me torturar. Essa era a razão de sua pergunta.
— Eu acabei me distraindo e tropecei, não foi minha intenção — Falei num fio de voz observando o carpete de sua sala e depois novamente os orbes que me observavam. Sua postura ainda era rígida, porém algo havia cedido com meu tom lamurioso. Ajeitei meus óculos e encolhi os ombros, talvez só me fazer de coitada livrasse minha pele.
— O problema é que você parece sempre distraída. Com a cabeça em todos os lugares menos no que você precisa — Rafaella reclamou com sua razão e eu concordei várias vezes ainda sem levantar o olhar para que me visse. O havia feito antes sem sua percepção.
— Não vai se repetir — Retorqui sem muita defesa para minha ação e Rafaella caminhou até a mesa se sentando nela enquanto puxava a respiração. Eu me preparei para que dissesse algo como "Não mesmo já que você está demitida" Porém minutos depois nada disso veio.
— Não costumo dar segundas ou terceiras chances, mas a verdade é que daria muito trabalho só te demitir sem ninguém em vista. Você tem duas semanas para ser uma funcionária boa, um dia a mais e eu não serei condescende está... — Não contive a emoção ao escutar suas palavras e me levantei num só ímpeto para beijar sua bochecha conforme comemorava a minha não demissão. Rafa pareceu travar por um instante, como se o sistema todo tivesse entrado em pane de uma só vez.
— Desculpa eu... — Comecei me afastando e por um momento o que pensei traduzir em seu semblante era certa timidez. E também um sorriso, um pequeno e incerto sorriso. No entanto aconteceu tão rápido que duvidei do que vi com seu movimento rápido de se afastar.
— O concerto do computador entrará na sua conta a partir de agora — Foi o que disse se assegurando atrás de sua mesa, seu rosto ainda muito corado.
Não foi uma ilusão, Rafaella havia ficado sem jeito com um simples beijinho inocente na bochecha e isso esfarelou tanto sua pose de chefe que a coitada precisou me colocar para fora no mesmo instante.
Quando finalmente cheguei em casa naquele dia eu me dei o prazer de abrir um vinho. Não importava o dia da semana, não importava a ausência de ocasião eu só precisava beber para brindar o fato de que eu tinha evitado uma vergonha colossal diante da minha chefe e de um sócio por conta de uma fanfic.
— Saúde para você Bi — Eu disse com um sorriso para mim mesma em frente ao espelho batendo pateticamente a taça com a do reflexo antes de colocar uma música bem suave para tocar.
No início eram todas lentas. Daniel Caeser, John Mayer, James Arthur, mas depois pelo puro poder da sacanagem a própria rápido foi conduzindo a outras e outras faixas até chegar em The Weekend, Two Feet e todas as letras que você não deve ouvir quando está sozinha e tem uma garrafa de vinho em seu sistema.
Me aproveitando de como a música penetrava fácil dentro da minha mente eu abri mais um documento em branco onde costumava escrever.
Hoje parecia um bom dia para isso, afinal, não é sempre que se sai do fundo do poço e se sente o cheiro da vida... Não falei que a arte já estava me tocando fácil fácil?
Com uma risada tola deixei que meus dedos fizessem as honras sobre o teclado para transformar o acontecimento da tarde em algo digno da minha história. Não era minha intenção no início, não mesmo, mas deixei aquilo fluir como podia. A literatura era meu escape e bêbada eu tinha muito menos controle dela quanto eu tinha sóbria.
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Contos
Fiksi PenggemarHistórias completamente aleatórias que não devem ser levadas a sério.