Presente do passado.

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  O dia estava claro como de costume, nenhuma nuvem no céu, ainda sim, o vento norte trazia o frescor do outono, uma das vantagens de morar em uma cidade pequena sem muitos prédios para tampar o sol, ou usinas produzindo fumaça para intoxicar o vento, estou sentado em uma mesa do lado de fora de uma cafeteria junto com meu namorado, Mordecai, e meus amigos Mateo e Carla, isso já se tornou habitual, nós temos nosso próprio ritual todos os sábados, de sair e fazer alguma coisa, participar de algum evento da cidade, e hoje certamente não é diferente, por mais que eu quisesse que fosse.

  — Não acho que seja algo genericamente legal, mas, eu acho que eu vou gostar — Mateo disse, recebendo apenas um aceno de Mordecai, eu estava simplesmente muito distraído para responder, eu preferia apenas absorver o ambiente ao meu redor, a forma como os galhos das arvores balançavam com o vento.

  — Claro claro, quem não gostaria de receber presentes de um morto — Carla acrescentou, mas novamente, não dei muita atenção, estava em transe, observando o outro lado da rua, a próxima coisa que eu escuto é um estrondo vindo de traz de mim, isso me assusta, me fazendo quase pular da cadeira, quando olho na direção do barulho, vejo Mordecai rindo, olho para o lado e vejo Mateo e Carla rindo também.

  — Idiota — Eu falo, dando um empurrão de leve no ombro de Mordecai, mas rindo como os outros no fim, eu gosto quando a gente brinca assim, valorizo os momentos que tenho com meus amigos.

  — Sério Rigby, o que que está acontecendo com você hoje? você está mais desconectado que o normal — Mateo constatou, ele não estava errado, eu escolho me desligar das coisas que não me deixam confortável.

  — É só que, eu não curto muito esse tipo de coisa, é só isso — Eu o respondi, há 150 anos, uma capsula do tempo foi enterrada no centro da cidade, presentes dos nossos antepassados para as gerações futuras, de todas as famílias que moravam na cidade naquela época, todos estão ansiosos para o evento, todos exceto eu, de fato, se eu pudesse, apenas apagaria esse dia da minha existência.

  — Tem alguma coisa haver com a sua família? — Mateo perguntou, pude ver que Mordecai ficou tenso com a pergunta, como se ELE não quisesse tocar nesse ponto da minha vida, acho que ele pensa que isso é desconfortável para mim, eu por outro lado, penso de forma diferente.

  — Na verdade sim, bem, não tem razão em esconder esse tipo de coisa, sendo que qualquer um pode pesquisar e descobrir — Eu tomei um gole do meu café, pronto para o que seria uma longa história — O fato é que...

  Dez de quando eu consigo me lembrar, minha relação com a família não era, próxima, eu não sabia o motivo, mas aparentemente o nome Lykaios era tratado como um sinônimo de mau pressagio pelos residentes já de idade, minha mãe também não ajudava, sempre contornando qualquer pergunta sobre meus parentes, nós éramos proibidos de falar o nome de nossos avos dentro de casa, bem como nossos antepassados, isso era simplesmente estúpido aos meus olhos, eu era simplesmente proibido de conhecer mais da minha própria história, eu achava que ela estava me privando das minhas raízes, descobri, depois de algum tempo, que estava completamente errado.

  Minha mãe podia guardar seus segredos de mim, mas isso só alimentava minha curiosidade quanto aos meus antepassados, e se ela não iria me fornecer respostas concretas, então, eu mesmo procuraria por elas, olhando agora para essa decisão, eu deveria ter permanecido ignorante, teria sido melhor para mim, eu sabia que a cidade mantinha certos registros das famílias da cidade, daqueles que cometeram delitos ou foram vitimas de assassinatos, eu sabia que esse era o meu melhor palpite, não era possível que em tantas gerações, nem uma única pessoa tenha, roubado um banco ou algo do tipo, não demorou muito para que eu encontrasse o lugar, que era bem arrumado, assim que cheguei a recepção, solicitei os registros da família para a atendente, me prontificando em mostrar meus documentos para ela, que rapidamente chamou por outro funcionário e pediu que ele me encaminhasse até a sala de registros, o que ele fez.

Até aonde vai o amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora