O pesadelo Brenner

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  Onze deixou a biblioteca sozinha, ela estava um tanto confusa, meio assustada com o que havia visto, Bianca compreendeu quando Onze disse que precisava caminhar um pouco, afinal, sair do seu próprio corpo e regredir no tempo não é algo que se faz todo dia. Como assim, ela esteve no ano de 1960, e era uma cobaia? Já eram quase 8 horas da manhã e algumas pessoas já começavam a andar pelas ruas, o movimento já começava. Onze nem tinha reparado no bosque mais a frente, o bosque que chamavam de Vivenda dos amores, onde os casais também iam para namorar um pouco, e lá estava Onze caminhava rua abaixo, ela dobrou a esquina da avenida central para uma ainda menos movimentada, quem sabe ela não encontra uma loja de alguma coisa aberta. Não havia nenhum carro, até então, e enquanto ela caminhava pensou até em por uma música para acalmar os pensamentos, mas desistiu de última hora, ela nem sequer percebeu um carro passando por ela na contramão, um cadillac preto, um belíssimo carro, que aquela hora não causaria tanto espanto. O carro passou por Onze, e parou na calçada oposta, ela nem sequer deu conta que aqueles dois agentes estranhos que outrora estavam com Brenner desceram do carro empunhando pistolas com silenciadores. Ambos vestidos igualmente com sobretudos, e chapéus pretos, homens dos anos 60. Eles rapidamente atravessaram a rua como pessoas normais depois de guardarem suas armas.

- Estamos seguindo ela. - Disse um ao tocar em micro dispositivo em seu ouvido.

   Onze virou mais uma esquina, ela estava sentindo algo estranho, como se houvesse alguém a seguindo, então, subindo a rua de volta, Onze olhou de soslaio por cima do ombro, ela viu a silhueta dos dois homens que estavam seguindo ela e começou a caminhar mais rápido, ela virou a esquerda novamente descendo para a avenida principal, Onze percebeu que estavam a seguindo e por conta do medo começou a correr, os dois agentes dispararam atrás dela já retirando suas armas silenciadas de dentro dos sobretudos.

   Onze correu descendo a avenida principal, ela desceu correndo o mais rápido que podia. Um dos agentes disparou a arma, mas não havia uma bala e sim um dardo tranquilizante que atingiu um poste ao lado.

- Estamos perseguindo o alvo. - Disse um dos agentes.

   Onze saltou por sobre um capô de um carro parado, as corridas em Chicago renderam algo. Mais tiros, mais dardos errados, Onze virou uma esquina e deu de cara com um carro de frutas recém posto, ela saltou por sobre esse carro de frutas e quase caiu rolando. Onze atravessou a rua enquanto os agentes tenebrosos corriam atrás dela. No entanto, um dos agentes não virou a esquina e sim desceu direto pela rua principal. Mais a frente, Onze dobrou uma esquina a esquerda, a sua direita estava o bosque. Ele continuou correndo pela calçada paralela ao bosque, achando que estava quase livre de um dos agentes. Mas para sua surpresa, o outro agente cortou caminho por uma viela e saiu bem em sua frente apontando a arma para ela. O agente não hesitou em disparar, e o dardo atingiria exatamente seu peito, se ela não usasse seus poderes e parasse o dardo exatamente na sua frente. Onze jogou o dardo de volta para o agente e o atingiu na testa, fazendo ele cair para trás. Ela ainda usou um impulso magnético involuntário e bateu o outro agente contra um carro estacionado ao lado fazendo-o cair deitado no chão. Onze atravessou a rua e correu para dentro do bosque, ela acelerou o passo, mas o cansaço lhe atingiu com força, suas pernas doeram, seu peito doeu, ela parou em meio a algumas árvores, apoiou suas mãos nos joelhos e respirou ofegantemente. De repente, alguém saiu de trás de uma árvore, ele usava um terno elegante, o seu cabelo era bufante e grisalho, seus olhos meio grandes e seu sorriso comprimido e curvado ironicamente para cima. Onze reconhecia aquele sorriso, aquele cabelo, aqueles olhos. Era ele, Martin Brenner.

- Filha. - Ele diz sorrindo mostrando os dentes meio amarelados. - Que ótimo te ver.
- Quem... quem é você?
- Não me reconhece? Não reconhece o seu amado pai?

  A cada passo que Brenner da, A respiração de Onze se torna mais pesada, mais intensa, um turbilhão de emoções negativas começam a borbulhar dentro de seu estômago. Ele está tão próximo, tão perto, seu jeito de falar, de andar, de olhar, é tão ameaçador.

- Eu não poderia esquecer da minha pequena, nunca. - Ele diz bem diante dela. - Você tratou os meus amigos tão mal. - Ele diz apontando para trás.

   Onze olha para trás devagar, os agentes estão vindo a passos largos, sem nenhum arranhão, nem sangue, nem hematoma. Eles impunham suas armas, já preparadas para atacar Onze.

- Eu senti sua falta. - Diz Brenner olhando de cima para baixo com certa superioridade e ironia. - Depois de todos esses anos, eu estive te procurando por tanto tempo.

   Na última frase, Onze começa a ter visões aleatórias que fazem sua cabeça doer fortemente e seu nariz sangrar. Ela grita, e seu grito é estridente, mas é como se estivesse abafado por alguma força, pois ninguém parece ouvir.

  Ela vê em suas visões coisas tenebrosas, Ela vê a si mesma sendo torturada enquanto Brenner assiste tudo e sorri. Ela também vê vários prisioneiros em um calabouço, pessoas muito magras, vê uma pessoa que tem em seu braço o símbolo do nazismo, é o próprio Brenner. Ela vê muito mais coisas e chora amargamente, enquanto se reforce no chão aos pés de Brenner que sorri. Seu nariz sangra, sua cabeça dói, todo seu corpo dói. Mas por algum motivo ela enxerga algo, uma visão que dissipa as nuvens negras de sua mente. Ela vê aquele olhar, aquele sorriso, ela vê fixamente Mike Wheeler, em diferentes tempos, de diferentes formas dizendo " Eu te..."

  Onze se levanta, ela consegue arranjar uma força com essas visões e se levanta correndo para longe de Brenner. Os agentes até mesmo pensam em perseguir Onze, mas Brenner faz um sinal com a mão e diz:

- Não intervenham, não agora, vamos manter o plano correndo como deve correr.

  Ele se vira de costas e caminha de volta com as mãos para trás dizendo:

- No momento certo, teremos nosso trunfo.

  Os agentes o acompanham.

  Onze está correndo, ela não sabe para onde está indo, mas ela sabe que está correndo, ela está tentando fugir, das visões, do medo, da dor. Ela cai de joelhos e chora amargamente, e ela não sabe porque chora amargamente, mas o sangue se mistura com as lágrimas enquanto ela sente a grama fria molhando sua calça. É então que Mike Wheeler vindo de "não sei lá onde" aparece, só agora Onze percebeu que estava na saída norte do bosque, e que Mike passando pela calçada a viu caída e chorando.

- Jane. O que houve?

   Ela ergue o olhar e depois que a luz do sol é ofuscada por Mike, ela vê sua pele pálida, seu rosto fundo, seus olhos pretos, e seu cabelo rebelde. Para ela é um anjo. Um ponto de refúgio. Ela se levanta tão rápida e se joga em seus braços tão rápido apertando-o num abraço de "obrigado por me salvar" que Mike não vê outra forma de ajudar além de entrelaçar seus braços na sua cintura e simplesmente retribuir o abraço em silêncio.

Sem perguntas
Sem indagações

Só eles dois, ali e agora, quietos, sob o som do soluço incompreensível de Onze, sob o tremor de seu corpo e do fluir de suas lágrimas, perante o horror que ela viu.

 

MILEVEN - AMOR ATRAVÉS DOS TEMPOSOnde histórias criam vida. Descubra agora