MILEVEN - AMOR ATRAVÉS DOS TEMPOS

Jim Hopper/O urso

  Toda cidade possui um zelador, um cara forte e autoritário que serve como controle pacificador para os maus velhos e de uma bota espinhosa e mandona para os mais jovens, e olha que eu nem estou falando do prefeito, mas sim do Xerife. Em Hawkins não seria diferente, a figura forte da cidade era um homem alto, de corpo forte, braços robustos, barriguinha de cerveja, bigode e barba a fazer, o aspecto ruivo que o tornava uma espécie de irlandês viajante.

  Lá estava ele, numa manhã de domingo, tomando café numa caneca com uma escrita desbotada a frente com os dizeres "eu amo o papai". Como parte das manhãs ritualísticas, Jim Hopper precisava tomar boas doses de café forte nessa xícara que sua falecida filha lhe deu no aniversário de 9 anos quando já estava tratando o câncer no hospital em Indianápolis. Foram dois golpes em um mês, primeiro perder a filha, depois a esposa o abandonar, deixando-o só, apenas ele e suas mágoas, seus monstros que tornavam sua personalidade um bloco de gelo duro e profundo, tão profundo quanto um Iceberg. Mas como parte de seu ritual, ele sempre repetia mentalmente o mantra diário...

"Manhãs são para cafés e contemplação"

  Assim, ele direcionava sua mente para algo mais polido como a visão de se viver dia após dia, e fazia isso tudo enquanto observava a crescente névoa que sempre pousava no terreno de folhas secas da floresta de Hawkins. O som corrente do Rio ao fundo de sua modesta casa ajudava na concentração de seus pensamentos, e quando enfim sua mente se estabilizava, ele já haveria terminado a caneca de café, se voltaria para dentro de sua casa e enfim estaria pronto para mais um dia.

   Foi ao fim dos último gole de café que o telefone tocou. Duas, três, quatro vezes, Hopper custou a ignorar o telefone, mas vendo a insistência da coisa, resolveu de voltar para atender. Largou a caneca sob a pia e preguiçosamente atendeu o telefone.

- Alô. - Ele diz meio sonolento ainda.
- Xerife Hopper? - Diz uma voz meio atônita.
- Callaham? - Ele prontamente reconhece a voz.
- Sim, Sou eu.

"Puta Merda" Ele indaga mentalmente.

- O que você quer a essa hora e no domingo?
- Recebi uma ocorrência no meu plantão, é um caso grave.
- Qual tipo de gravidade? Não seria algo como algum casal idiota transando na pedreira, seria?
- Não senhor. - Diz Callaham enquanto Hopper passa a mão no rosto por conta do tédio.
- Então, O que?
- Acho melhor o senhor vir até aqui, fica na saída da cidade, no ferro velho do Olsen.
- Puta Merda. - Hopper sibila. - Olha, eu vou terminar o meu café, já estou indo para aí.
- Certo, senhor.

   Hopper desliga o telefone sem ao menos se despedir. Ele vai até o seu quarto que está uma bagunça, aliás toda a casa está bagunçada, há uma caixa de pizza sobre o sofá, sinal da noite de sábado, onde Hopper assistiu dois filmes favoritos de sua filha Sara. Homem aranha 2 de Sam Raimi e Os Incríveis. Hopper sempre se lembrava em como sua filha adorava o jeito de Flecha, e como ele corria rápido, ele amava a forma como ela corria desvairada pela casa tentando imitar o filho do senhor incrível, as vezes Hopper silenciosamente chorava, as vezes apenas pegava no sono, mergulhava em um sonho feliz, porém distante.

   Para ele, não fazia mais sentido limpar a casa ou arrumar as coisas, nada fazia sentido, e tudo era só um pedaço sem graça de sua existência cinza nesse planeta. Enquanto vestia a camisa do Xerife, Hopper viu seu revolver colt acima de uma gaveta, por vezes Hopper pensava em como seria rápido um tiro na nuca, rapidamente ele sufocaria e morreria, mas todas as vezes ele descartava a ideia, pois ao apanhar seu celular dava de cara com a tela de bloqueio vendo a imagem dele E de Sara no aniversário de 6 anos, ela com a boca suja de bolo e sorridente e ele abaixado ao seu lado com um sorriso bobo de papai coruja. Logo que desligava a tela do celular, dava de cara com seu reflexo no espelho do guarda roupa.